quarta-feira, 1 de setembro de 2010

História da UEG - primeiros cursos, Quirinópolis

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     Relato histórico

     No início do ano de 1985, a Secretaria Estadual da Educação  realizou um concurso público para preenchimento de vagas para o magistério em todo Estado. Como ocorreu  no município de Quirinópolis houveram poucas aprovações, sobretudo nos municípios do extremo Sudoeste Goiano. Por exiguidade de tempo para um novo concurso, as vagas existentes tiveram que ser preenchidas por pessoal considerado inabilitado. 

     Como deputado estadual e professor licenciado da UFG, tomei a inicitiva de discutir com o governador os resultados do referido concurso, pedindo a instalação de uma unidade de ensino superior em Quirinópolis, voltada para a formação de professores, como único meio de se romper o círculo vicioso em que a região se encontrava, onde o déficit de professores qualificados determinava o baixo nível de ensino ministrado nas escolas, que repercutia em baixa competitividade dos jovens em vestibulares, concursos públicos e em processos de seleção para preenchimento de vagas de trabalho, perpetuando uma situação que impedia o desenvolvimento regional.

      Enquanto não se definia uma resposta por parte do governo, tomei a iniciativa de procurar outros caminhos, ao consultar o professor Mário de Freitas Carvalho, da UFG, considerado especialista neste assunto e um dos idealizadores da FESURV – Fundação de Ensino Superior de Rio Verde, que na época se estruturava. Sua orientação foi no sentido de implantar uma fundação ou uma extensão, como se implantava na cidade de Rio Verde (ver doc. abaixo).

     Neste interrgno, na condição de Primeiro Secretário da Assembléia Legislativa tive conhecimento com antecedência de uma mensagem em que o executivo goiano  propunha a criação de cursos superiores em algumas cidades goianas. Imediatamente fui ao encontro do governador para protestar contra a não inclusão de Quirinópolis. Solicitei que uma nova mensagem fosse preparada e enviada ao poder legislativo. Reconhecendo a legitimidade de meu pedido, o governador ordenou ao Dr. Charif Oscar Abrão, Chefe  do  Gabinete Civil a época, a  alteração. Na ocasião subscrevi o ofício de ordem 159/85, no qual em 12/06/1985, o governador autorizou a instalação de uma unidade de ensino superior em Quirinópolis.
 
      É preciso ressaltar, por justiça, os esforços em favor desta iniciativa do saudoso professor França, que mais tarde se tornou superintendente do ensino de superior dos quadros da Secretaria de Educação, no governo de Henrique Santillo. Da mesma forma deve ser ressaltada a contribuição do prefeito Sodino Vieira que, enquanto a faculdade era criada no âmbito estadual, decidiu construir um prédio, para sediar temporariamente a unidade de ensino superior e seus quatro cursos iniciais. 

          Portanto, como já disse, foi o governador Íris Rezende responsável pelo pedido ao legislativo para se criar a unidade de ensino superior denominada Faculdede de Educação, Ciências e Letras de Quirinópolis - FECLQ, e com a sanção da sua lei de criação. Com a ajuda do governador Onofre Quinan foi nomeado o primeiro diretor, o professor Newton Soares, e se adquiriu os móveis para o funcionamento da entidade. Todavia, foi com o governador Henrique Santillo que a mesma se tornou realidade, ao encaminhar o processo de criação ao MEC – Ministério da Educação e Cultura e, mesmo a revelia deste, determinar a realização de seu primeiro vestibular. Alguns anos depois, coube ao governador Marconi Perillo a transformação da FECLQ em unidade da UEG – Universidade Estadual de Goiás. 

         Deve-se,  também por justiça, historiar a origem do Centro Cultural de Quirinópolis, onde se instalou provisoriamente a FECLQ,  que surgiu da participação do ex-deputado Tarzan de Castro, meu colega de bancada, que esteve exilado na França, de onde trouxe a ideia de se construir centros culturais em cidades de médio porte com economias agrícolas vigorosas, que lá conheceu e como era o caso de Quirinópolis e outras cidade goianas.   Como deputado de Quirinópolis, trouxe a sugestão ao prefeito Sodino Vieira, inclusive com a ideia de construção da sede da faculdade, ao seu lado, pois a cidade precisaria de um prédio para sediar a FECLQ, que acabava de conquistar, em nome das lideranças locais. No momento em que isso era discutido, adentrou a sala do prefeito a doutora Cristina,  uma engenheira da empresa EICA, que construia as casas do Conjunto Rio Preto. Ela, ao nos ouvir, sentiu-se emocionada, porque tinha um projeto elaborado para Salvador-BA, que imaginava nunca concretizá-lo. Desta nossa conversa surgiu o complexo faculdade-centro cultural, com anfiteatro, teatro de arena e todas as demais dependências,  em Quirinópolis, que por vários anos serviu de sede provisória para a hoje  UEG de Quirinópolis.
 

      O compromisso assumido por Santillo, com Quirinópolis, pela faculdade, foi publicamente resgatado, quando aqui veio especialmente para autorizar o primeiro vestibular e o inicio das atividades da FECLQ.

        Nesta ocasião anunciou aos companheiros de Quirinópolis que havia me convidado para assumir a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, concedendo-me esta elevada honra, em cargo de confiança. Em decorrência deste fato, pela primeira vez, um quirinopolino ocupou um cargo de primeiro escalão em governo estadual. No momento, o governador ressaltou os meus esforços também para a instalação de outra unidade de educação superior - a Faculdade de Educação Ciências e Letras de Itapuranga - FECLITA, criada nos mesmos moldes.  Devo manifestar minha satisfação por ter sido o único deputado estadual a viabilizar a implantação de duas faculdades públicas, em Goiás.

     É justo lembrar os esforços dos que tomaram para si o desafio de consolidar a FECLQ, ao garantir na luta do dia-a-dia sua sobrevivência e o seu fortalecimento. Penso que ao citar os nomes dos professores Gilberto Celestino e Luis  Arantes, que vieram a integrar os quadros da FECLQ por nosso intermédio para dar aulas e ajudar na estruturação da entidade, o que fizeram com grande sabedoria e competência, e dos diretores Newton Soares e Sueli Pena, estou a homenagear a todos que contribuíram para a sustentação e consolidação da FECLQ.

        Na verdade, toda a cidade se rendeu a esta iniciativa e contribuiu para o seu sucesso. A UEG é hoje depositária da esperança da comunidade quirinopolina, que sabiamente escolheu os caminhos da educação e do saber para alcançar a superação definitiva de seus grandes problemas e desafios.




      Ângelo Rosa Ribeiro foi professor da EV-UFG. É ex-deputado, ex-secretário estadual de Agricultura e ex-secretário estadual de Planejamento e Coordenação.

       (Texto de igual teor foi encaminhado para publicação nos anais do II Congresso de Educação da UEG, de Quirinópolis, em comemoração aos 15 anos da instituição)





domingo, 29 de agosto de 2010

As principais conquistas do Deputado Estadual Ângelo Rosa Ribeiro

As principais conquistas, por municípios.

Eleito deputado estadual, em 1982, com aproximadamente 16 mil votos, grande parte destes concentrados em Quirinópolis, Paranaíguara e Maurilândia, tinha como principal objetivo cumprir os compromissos de campanha e consolidar um trabalho de parceria política na região do Extremo Sudoeste Goiano. O ponto de convergência seria aproveitar a proximidade entre os municípios para melhor interação e a identificação das  carências a serem trabalhadas, como falta de infra-estruturas, baixos desempenhos de serviços públicos, em áreas como educação, saúde, segurança e de outras questões a serem enfrentadas.

 Como deputado,  Ângelo Rosa trabalhou ao lado de prefeitos dinâmicos como Sodino Viera de Carvalho, de Quirinópolis; João Batista da Trindade e Tito Coelho Cardoso, de Itapuranga,  Antonio Resende Sobrinho e José Carlos dos Santos, de Maurilândia; Cícero Gonçalves da Silva e Lázaro Soares de Aquino, de Paranaíguara; Oldack Musa dos Santos, de Caçú; Valdemar de Freitas Sampaio, de Itajá; Adão Alves dos Santos, de Aporé e ao lado de importantes lideranças destes municípios a quem deve muita gratidão. Não será posssível esquecer dos  presidentes de diretórios partidários, presidentes de Câmaras Municipais, vereadores, presidentes de entidades - como sindicatos, cooperativas e outros segmentos com os quais passaram a formar uma rede de trabalho em prol da região.

 Como recompensa ao trabalho parlamentar,  logo nos primeiros meses do mandato foi eleito   Primeiro Secretário da Assembléia Legislativa. Outra momento honroso foi receber do governador Henrique Santillo o convite para assumir a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento. Do governador Naphtaly Alves recebeu a incumbência de administrar a Secretaria de Planejamento e Coordenação de Goiás.

       No início do seu  primeiro mandato não existiam estradas asfaltadas entre Quirinópolis e as cidades vizinhas de Gouvelândia, Inaciolândia, Cachoeira Dourada, Paranaíguara, São Simão, Caçú, Itarumã, Itajá, Lagoa Santa e Aporé.  Longe da região Sudoeste estava Itapuranga, onde também não havia asfalto de Itaberaí até lá. Tal como no Extremo Sudoeste, a cidade era carente de tudo, apesar de seus 18.000 habitantes, à época. No fim do segundo mandato, havia ocorrido grande transforamção - as cidades estavam todas interligadas por asfalto, havia  farta disponibilidade de energia elétrica, grandes investimentos foram realizados no saneamento básico, houve ampliação das redes de telecomunicação e avanços significativos na educação, com a instalação das primeiras unidades de ensino superior.

      Não será possível enumerar todas os benefícios conquistados em favor dos municípios representados, mas os principais. Cada conquista tem uma história que o deputado conhece, porque  participou de todas os passos e etapas da mesma. Embora cada uma tenha sua importância, algumas delas marcaram pelos seus significados, como foram os casos das Faculdades de Educação Ciências e Letras de Quirinópolis, FELCQ,  e de Itapuranga, FECLITA, hoje unidades da UEG, sem dúvida,  suas maiores realizações. Sem falar das grandes obras de infraestrutura, sobretudo rodovias asfaltadas, espalhadas por todas as regiões de sua representação. Em Quirinópolis serviram para que o municío adentrasse a era da industrialização, com a implantação, por exemplo,  das plataformas sucroalcooleiras.

O trabalho de intermediação realizado foi possível devido a um período de grandes realizações governamentais, sobretudo do profícuo governo de Iris Rezende Machado, e da força  das parcerias com prefeitos e lideranças municipais.

  A seguir, uma relação das principais conquistas junto ao Governo de Goiás.

QUIRINÓPOLIS
Asfaltamento de 60 km da rodovia GO-164 para Paranaíguara;
Asfaltamento de 110 km da GO-206  para Cachoeira Dourada;
Obras de arte e autorização de asfaltamento de 65 km da GO-206  para Caçu;
Construção do Estádio Estadual Bichinho Vieira;
Autorização governamental para instalar a Faculdade de Educação Ciências e Letras de Quirinópolis - FECLQ;
Construção do Colégio Estadual JK;
Construção do Conjunto Rio Preto;
Doação de 120.000 metros quadrados de asfalto, para a pavimentação do Conjunto Rio Preto e do Bairro da Cadeia;
Construção do Conjunto Capelinha;
Construção de um graneleiro, no distrito de Gouvelândia;
Construção da Escola Quintiliano Leão;
Construção da Escola Corina Campos Leão;
Extensão de rede de água tratada para vários bairros;
Rede de energia elétrica do povoado do Tocozinho;
Construção de vários quilômetros de redes de energia elétrica,
trifásicas e monofásicas em apoio à agricultura irrigada;
Instalação da Agência Regional da Secretaria Estadual de Saúde;
Instalação da CIRETRAN pólo.
Doação de 10.000 metros quadrados de asfalto para o
distrito de Gouvelândia;

ITAPURANGA
Construção de 80 km de asfalto, ligando Itapuranga a Heitorai e Itaberai;
Criação e Instalação da Faculdade de Educação, Ciências e Letras;
Construção do Colégio Estadual de Itapuranga;
Construção do Ginásio de Esportes de Xixá;
Recursos para a duplicação e reestruturação das Avenidas Tancredo Neves, Perimetral e Agoncílio;
Construção de 150 casas da Vila Mutirão;
Construção do Conjunto Alvorada;
Construção da ponte sobre o Rio Canastra;
Instalação de telefones no Distrito de Guaraíta;
Instalação de telefone na Comunidade de Cibele;
Instalação de telefone na Comunidade de Diolândia;
Instalação de rede de iluminação pública em Cibele;
Instalação de rede de iluminação públicaem Vila São José;
Recursos para pavimentação de vários bairros na sede municipal;
Expansão da rede de água tratada para vários bairros;
Recursos e equipamentos para instalação do Hospital Municipal;
Doação de três tratores para o projeto de Microbacias Hidrográficas
e Lavoura Comunitária;
Abertura da agência do Banco do Estado de Goiás, hoje Itaú.
Construção da Escola Estadual do distrito de Guaraíta.
Instalação da CIRETRAN pólo.

MAURILÂNDIA
Construção de um Ginásio de Esportes;
Construção do Escritório da EMATER;
Abertura do Escritório da Secretaria de Agricultura;
Construção de uma ponte no Rio São Tomás;
Doação de uma ambulância;
Doação de uma viatura policial;
Construção da Vila Mutirão;
Expansão do Ensino Segundo Grau;
Abertura do DETRAN.
Doação de asfalto urbano;

PARANAIGUARA
Ligação asfáltica com Quirinópolis;
Construção de um ginásio de esportes;
Construção do escritório da EMATER;
Instalação do escritório da DETRAN;
Reabertura do Hospital Municipal;
Doação de uma viatura policial;
Expansão do ensino Segundo Grau.

SÂO SIMÃO
Ligação asfáltica para Itaguaçu;
Doação de 20.000 metros quadrados de asfalto urbano;
Expansão de rede elétrica para Vila Bela;
Expansão de ensino de Segundo Grau;
Construção de um ginásio de esportes;
Doação de uma viatura policial;
Instalação da CAIXEGO;

CACHOEIRA ALTA
Construção de um ginásio de esportes;
Nova sede para o BEG

CACU
Ligação asfáltica para Itarumã;
Construção de um ginásio de esportes;
Construção de sede escritório da EMATER;
Construção da Vila Mutirão;
Expansão ensino de Segundo Grau;
Construção de Terminal Rodoviário;
Doação de asfalto urbano;
Ligações asfálticas da cidade à Go-206;

ITAJÁ
Construção de um ginásio de Esportes;
Ligação asfáltica para Itarumã;
Ligação asfáltica para Aporé;
Ligação asfáltica para Lagoa Santa;
Ligação asfáltica para Cassilândia, via Zeca Pereira;
Duplicação da rodovia de acesso à cidade;
Construção de bueiro Ribeirão São João;
Ampliação de rede de energia elétrica urbana;
Parceria para construção de 20.000 metros quadrados de asfalto urbano;
Parceria para construção de redes pluviais;
Construção de rede energia elétrica para Olaria da Fumaça;
Instalação do DETRAN;
Construção da ponte Zeca Pereira, no rio Aporé;
Perfuração de poço artesiano e rede de distribuição de água de Lagoa Santa;
Construção do Terminal Rodoviário;
Doação de uma viatura policial;
Módulo esportivo com alambrado e vestiário;

APORÉ
Construção de Terminal Rodoviário;
Rede de distribuição de água;
Ligação asfáltica com Cassilândia e Itajá;
Construção de ponte sobre rio Aporé;
Doação de 20.000 metros quadrados de asfalto urbano;

GOUVELÂNDIA
Construção de um graneleiro para 25.000 toneladas;
Construção do Hospital Municipal;
Doação de 10.000 metros quadrados de asfalto urbano;
Iniciativa do projeto de Emancipação Política do Município;
Construção de um ginásio de esportes;
Ligação asfáltica para Cachoeira Dourada;
Ligação asfáltica para Quirinópolis;
Instalação do BEG;
Abertura da Agenfa Estadual;
Doação de uma viatura de polícia;
Convênio para reestruturação da praça da igreja matriz.
Instalação do Escritório da Saneago









terça-feira, 27 de julho de 2010

Quirinópolis: O amigo João Domingos

 
As preocupações do João Domingos

O senhor João Domingos da Silva era uma figura muito conhecida e admirada em Quirinópolis, pela sua lucidez e pelo gosto e capacidade de polemizar assuntos da política. Militante do PMDB, foi por longos anos membro do diretório local do partido e por esta sigla se tornou vereador. Era proprietário de um pequeno sítio, nas imediações do rio das Pedras. Após reunir algumas economias passou a emprestar dinheiro para seus amigos, sem se caracterizar em um agiota, pois suas taxas eram bastante aceitáveis.
Findas as eleições municipais do ano 1996, quando disputei a eleição para a prefeitura de Quirinópolis, deparei-me com uma enorme dívida. Diante de uma necessidade premente de assistência financeira, devido a compromissos assumidos com cabos eleitorais e fornecedores para a campanha, fui bater na casa do amigo João Domingos. Expus a ele a situação e pedi emprestado uma considerável importância em dinheiro, que sem pensar atendeu. Entretanto, começou a correr na cidade um forte boato, por parte dos meus adversários, que diante de tantas dívidas de campanha eu teria que fugir, sem pagar compromissos assumidos. Esta notícia foi parar nos ouvidos do amigo João, que logo começou a passar com seu conhecido Ford Corcel, várias vezes por dia, durante vários dias, diante de minha residência. Parecia procurar por alguma coisa, mas não parava, só observava, com um olhar de preocupação. Em uma de suas passagens resolvi interceptá-lo, para perguntar:
    - João, pare aí, tudo bem com você?
    - Tudo bem, respondeu.
    Entretanto, após uma pequena pausa, comentou, com palavras pronunciadas de forma rápida, meio enroladas, como era do seu estilo.
    - Não é pelo dinheiro, que eu te arrumei, mas pelos desaforos que a gente ouve. Não estou preocupado, mas o que estão falando por aí, não tem cabimento.
    - O que você ouviu, João?
    - Não, isso eu não vou falar. Mas, estou indignado. Muito indignado. Depois, quando você me pagar, quando der certo, eu preciso te levar na casa de uns por aí, para puxar suas línguas. Não pode as pessoas serem tão más, tão faladeiras. Sem explicar devidamente o que falavam de mim.
Era natural que o João estivesse assustado. Ele não conhecia o montante da minha dívida no momento do empréstimo, mas logo deduziu que podia não ser pequeno, como de fato não era. Passados uns dois meses o procurei para devolver-lhe o capital emprestado. Notei grande alívio de sua parte e não falou mais no assunto que o intranquilizava. Quanto aos juros do empréstimo, combinamos que pagaria com duas vacas, que deveria buscar no meu sítio. Sempre o lembrava, que as mesmas estavam a sua disposição, mas nunca quis buscá-las. O João Domingos veio a falecer, em 2008. Era um grande amigo de meu pai e se tornou meu amigo. Nutro por ele boas lembranças e sou grato por aquele grande favor recebido.

Ângelo Rosa Ribeiro – ex-deputado e ex-secretário estadual de agricultura e de planejamento.


Quirinópolis - Lembranças do Tio Antônio Estevam

         Tio Antônio Estevam (à dir.), em 1995, ao receber homenagem na Câmara Municipal de Quirinópolis (GO), sob aplausos do deputado federal Iturival Nascimento, do senador Lázaro Barbosa e do público ali presente.

Um pioneiro espirituoso e benfeitor

      " Filho de pioneiros, desde jovem se tornou conhecido pela disposição em servir, gosto por festas, amor a viola e a catira, bem como, pela afinidade por um gole da boa cachaça... Vivia rodeado de admiradores, que se divertiam, fazendo-lhe perguntas provocadoras para prospectar respostas sábias e instantâneas, pérolas de sua imaginação crítica e fértil."
           
         Tio Antônio era a forma carinhosa com que a população se referia a Antônio Estevam de Oliveira, uma figura folclórica e legendária da  história de Quirinópolis, que nasceu na região do Córrego da Pedra Lisa, por volta de 1880, antes mesmo do surgir do povoado da Capelinha e viveu até o ano de 1983, quando veio a falecer, aos 103 anos.   Assim, pudera participar de todas as etapas de desenvolvimento do município. Filho de pioneiros, desde jovem se tornou conhecido pela disposição em servir, gosto por festas, amor a viola e a catira, bem como, pela afinidade por um gole da boa caninha. Era caipira por origem, mas dono de incomparável espirituosidade e tinha o dom de responder a tudo que lhe era perguntado, com rapidez de raciocínio, humor e sabedoria.



        Possuía um estilo próprio, goiano agauchado, com longos bigodes e traje 'sui genere': lenço atado no pescoço, um guampo a tiracolo, guaiaca na cintura, bombachas e inseparável par de botas. Andava sempre bem vestido. Por onde passava reunia admiradores com a intenção de prospectar respostas inteligentes e engraçadas, ou seja, surpresas que surgiam de sua imaginação crítica e fértil, com as quais seus fãs se  divertiam. Nas festas ia para fazer o seu show particular e diferenciado. Ao som da viola e na batida de sua dança preferida, a catira, que praticava com um grupo de amigos bem treinados, ele cantava e contava seus sentimentos e suas vitórias. De  espírito alerta, quando provocado, sabia, como ninguém, usar da sutileza crítica ou da irreverência deseducada,  para dar respostas atrevidas, recheadas de humor. Por isso vivia rodeado de admiradores, que se divertiam, fazendo-lhe perguntas provocadoras, para prospectar respostas sábias e instantâneas, pérolas de sua imaginação crítica e fértil. 


       Não havia no seu tempo alguém na região que não o conhecesse. Experiente carreiro, usou as trilhas abertas pelos poucos moradores da época para chegar até Santa Rita do Paranaíba, hoje Itumbiara, ou até Uberabinha, hoje Uberlândia, para levar excedentes da agricultura praticada à época e trocar por insumos indispensáveis para a vida dos pioneiros.  No retorno trazia encomendas, como querosene para a iluminação; sal, para condimentar a alimentação humana e para amansar o gado bravio, que se escondia nas matas, e diversas encomendas dos amigos.  Com suas juntas de bois curraleiros e seu carro em madeira da melhor qualidade  gostava de transportar materiais para construções de pontes e outras benfeitorias. Com sua solicitude deu grande contribuição ao desenvolvimento do município.
  
          Tornou-se amigo do Coronel Jacinto, grande benfeitor de Quirinópolis. Juntos construíram a cadeia, casa de policiais e diversas benfeitorias públicas na preparação do distrito de Quirinópolis para sua emancipação. Em ajuda ao seu amigo prefeito Hélio Leão disponibilizava suas juntas de bois para conduzir, sobre um couro bovino transformado em esteira, cascalho, terra, pedras para realizar aterramentos e tapar buracos na conservação da primeira rodovia aberta entre Quirinópolis e a vizinha Mateira, hoje Paranaiguara. Estava sempre decidido a colaborar com uma causa meritória, sobretudo quando se tratava de obras de interesse da comunidade. Ao contribuir de forma significativa em favor da emancipação do município o tio Antônio se tornou, um dos principais colaboradores do coronel Jacinto, portanto uma figura de destaque, um benfeitor de Quirinópolis.  


A viola, presente do Governador

   O ex-governador Mauro Borges, que era um amante da catira, quando da inauguração da sede do Colégio Pedro Ludovico, ficou impressionado com aquela figura que com um grupo de amigos se exibia. Ao cumprimentá-lo,  prometeu-lhe uma viola. Ao ouvir a promessa, o Tio disse-lhe em seu modo peculiar de conversar - "Quer dizer que prometer o senhor não precisava, mas como promessa é dívida se a viola não chegar eu mesmo vou buscar", provocando risos aos presentes.


Algumas "perolas" de Tio Antônio

      Muitas foram as coisas divertidas ou curiosas que realmente aconteceram e  que passaram a fazer parte do anedotário dos quirinopolinos. Será sempre difícil reconstitui com fidelidade as pérolas da espirituosidade  do Tio Antônio Estêvam. Sem esta pretensão registro aqui alguns exemplares.

  
O desfrute da cadeia

            Certa vez, em época de eleição, após ter  tomado alguns goles de cachaça, Tio Antônio voltava para o bailão do seu PSD, quando tropeçou e caiu ao pular sobre uma tora de aroeira, que a polícia mantinha atravessada na rua, para evitar o tráfego de veículos, pois o povo, que ia chegando das fazendas, ali se concentrava. Ao se levantar, começou a discutir com os policiais ali presentes. "Quer dizer que aqui é um lugar para o povo passar. Vem senhoras, crianças e pessoas idosas, que vão tropeçar e se machucar, no dia da eleição. Quer dizer que essa peça não poderia ficar ai..." Os soldados, que não eram da cidade, evitavam o assunto. Como nestas ocasiões o Tio era atrevido, tanto falou, que acabou preso, por desacato, mesmo estando com certa razão. No outro dia, seus companheiros procuraram por ele, até que souberam de seu paradeiro. Ao chegar na cadeia, que ainda estava por inaugurar, o candidato a prefeito expressou sua surpresa ao dizer: "Tio Antônio, eu não sabia que o senhor estava aqui, porque não me avisou! O senhor é um patrimônio do município." Ao passar as mãos sobre os bigodes, respondeu: "Quer dizer que não tem com o que o senhor se preocupar. Escute: acabei de acordar, estou gozando do que fiz - a madeira desta casa veio da minha fazenda. Fui eu que doei e puxei com meus bois, com meu carro. Ajudei a construir e estou desfrutando. Não há o ditado de que tudo que a gente faz, para a gente mesmo um dia serve? Risos.

Deixa o café para outra hora


           Contam que, quando chegou o Banco do Brasil a Quirinópolis, o gerente foi visitá-lo e o convidou para ser seu cliente, pois já sabia que o velho era comprador de gado, sempre tinha algum dinheiro. Então, disse-lhe: "Seu Antônio, vim aqui pra lhe dizer, que estou no Banco do Brasil para lhe servir. Faça–me uma visita. Quero fazer muitos negócios com o senhor." Ao que o tio respondeu: "Nós fazemos. Quero dizer que hoje eu não estou de jeito, para fazer negócio com o senhor, mas quando tiver, eu vou." Algum tempo depois, o tio Antonio se apertou por causa de uma certa quantia e se lembrou da promessa do gerente. Ao chegar no banco, foi direto ao assunto: "Hoje eu vim, Doutor, pra continuar aquela conversa que nós tivemos, lá em casa. Estou precisando... " O gerente vendo a sua intenção, atalhou a conversa. "Pois é Tio Antonio, como eu lhe falei, quero que o senhor abra uma continha conosco. Venha tomar um café, que eu vou lhe explicar." O Tio Antônio espirituoso entendeu e foi ao seu modo: " Quero dizer que eu agradeço, Doutor. Pelo jeito, o que senhor está querendo é o mesmo que eu estou procurando. Então, vamos deixar o café pra outra hora." Risos.


Tem gente com mais sede


              Em um comício marcado para a zona rural não havia suficiente boa oferta de água de bebida. Um fila então se fez em volta de uma cisterna para o atendimento disponibilizado pelo Tio Antônio, que com seu guampo retirava o líquido do poço e servia aos sedentos. Foi aí que uma certa senhorita, que não tinha um copo para apanhar a água oferecida, ao tomar o guampo em suas mãos deu nele fortes sacudidas para lavá-lo e, com expressão de nojo no rosto, devolveu-o para nova operação de retirada da água do poço, quando foi surpreendida, pelo Tio Antônio, ao não lhe conceder nova dose do precioso líquido. Com a reação da moça, indignada, o tio disse: "Calma, Moça! Quero dizer que agora tem gente com mais sede". Risos.


A cobrança da promessa do Governador


               O tempo passava e a promessa da viola feita pelo governador Mauro Borges não se cumpria. Aos que lhe perguntavam pelo presente do governador, ele dizia que não estava preocupado. Até que certo dia resolveu ir à capital, falar com o chefe. Ao chegar na periferia da cidade o motorista perguntou: "Está gostando da vista da cidade, Tio?" Ao apontar para a região de prédios, à distância, disse: "Quero dizer que aqui é o cerradinho. Quero ver é aquele culturão, lá da frente."
            Ao chegar ao palácio, foi logo interceptado pela guarda, que não lhe deu permissão, para entrar. "O senhor está agendado," perguntou um assessor. "É preciso de uma ordem para falar", explicou. O Tio Antônio, na sua singeleza de homem da roça, disse para a guarda e aos vários curiosos que a tudo assistiam: " Quero dizer que eu vim de longe por causa da promessa que o governador me fez. Não precisa de outra ordem, porque nós somos homens de palavra. Falei para ele, que se demorasse em cumprir a promessa, eu vinha buscar." O ajudante de ordem então desconfiado disse que ia falar com o seu chefe. Ao tempo em que o Tio Antônio prosseguiu, em seu estilo espirituoso: "Quer dizer que vocês ficam aqui, que nem cachorro, a vigiar o terreiro, para ninguém chegar perto do dono?" Risos. Foi aí que chegou um novo assessor, para tomar o nome do visitante e levá-lo ao governador, a quem disse que se trava de um homem com estilo de gaúcho, com uma roupa típica do sulino e que dizia ser seu amigo de Quirinópolis. Ao que Mauro Borges, disse: "E ele é meu amigo mesmo, traga-o que tenho um presente para lhe entregar." Ao receber a viola prometida, com dedicatória gravada na madeira, o Tio Antônio disse: "Quer dizer que vim porque sabia que o senhor, como filho do Dr Pedro, era um homem cumpridor da palavra. Estou muito satisfeito" . Amante da catira, o governador ainda ensaiou umas batidas de pés com o tio Antonio. Ao deixar o palácio exibiu o presente aos assessores ali presentes. Na madeira estava gravado: "Ao companheiro Antonio Estevam, com a amizade do Mauro Borges". Aí ele provocou: "Então podem limpar a baba!" e arrematou na despedida - "Quer dizer que vocês não queriam, mais fui bem recebido pelo chefe." Risos.

 Esconda o bicho


            Noutra oportunidade, após tomar o lotado ônibus que vinha da Mateira, havia certa demora na saída do veículo, por uma longa discussão entre o cobrador e uma senhora, que trazia nas mãos um pequeno frango dependurado. O cobrador disse que já havia avisado que era proibido carregar aves ou  animais naquele veículo. A passageira não consegui entrar com seu bicho. Ao seu companheiro de viagem o Tio Antônio sapecou: "A dona não agasalhou o pinto. Quero dizer que aqui dentro muita gente conduz o seu, mas  tem que estar bem agasalhado, senão dá problema." Risos.



O negócio não era tão ruim


        Muitas são as histórias, que o povo conta de situações divertidas, que tinham ao centro o Tio Antônio Estêvam. Posso dar o meu testemunho.


Estava casado a pouco, quando convidei o senhor Gabriel Mangava, meu sogro, para almoçar conosco no sítio, ocasião em que lhe mostraria alguns bezerros e lhe proporia que me comprasse os mesmos. Como tinha sobra de pastagem, ele poderia deixá-los para partir o lucro, quando de sua venda, após a engorda.
Depois de lhe mostrar os bezerros, estávamos no curral, quando chegou o Tio Antônio, montado em seu cavalinho. Foi para nós uma surpresa, por causa de sua avançada idade. Ao cumprimentá-lo, disse-lhe que ficasse à vontade, enquanto terminava o negócio. Achei que ele veio também para olhar os bezerros, porque era comprador. Por ali ele ficou, até que resolvi lhe contar que pretendia vender aqueles bezerros, para meu sogro, mas estava difícil realizar o negócio, porque eu pedia 8.500,00 cruzeiros por cabeça e ele só queria me pagar 8000,00.  
Então perguntei ao Tio: Este negócio não é bom, o preço do bezerro está baixo, o que o senhor acha? Ele passou a mão sobre o bigode, como era de costume e ficou calado. Voltei a insistir: pode falar tio Antônio. Ao que ele então disse: "Quero dizer, que não é do meu costume dar palpite em negócio alheio." Então expliquei: não, tio, só queremos ouvir sua opinião. Pode falar como comprador mesmo. Tio Antônio, então disse: " Você insiste, vou falar. Eu não compreendi bem, mas parece que estes bezerros são filhos do gado dele, que veio de herança. Foram criados nos pastos da sua fazenda, que veio de herança. Ele quer pagar 8.000 dos 8.500 que você pede e ainda vai deixar a mercadoria para partir lucro, não é? Então, o negócio é muito bom. O que você acha?" Risos.


Ângelo Rosa Ribeiro foi professor da EV-UFG, atual assessor técnico da SEGPLAN, ex-secretário estadual de agricultura e abastecimento e  ex-secretário estadual de planejamento.





sábado, 24 de julho de 2010

O Sudoeste Goiano em Tom Maior

Editorias / Opinião/Diário da Manhã/
19 de Junho de 2010
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O Sudoeste Goiano em Tom Maior
A história da região Sudoeste difere das demais regiões goianas, pela forma independente com que alavancou seu desenvolvimento. A região cresceu isolada do contexto da Província, que saiu de um ciclo de prosperidade - o Ciclo do Ouro - e mergulhou em uma profunda crise econômica, que durou 100 anos. Nesta época ocorreu a ocupação do Sudoeste Goiano, que se desenvolveu sustentado pela criação de gado e pela oportunidade de sua comercialização nas regiões de origem dos produtores, as vizinhas Triângulo Mineiro e Oeste de São Paulo, bem mais desenvolvidas. O Sudoeste Goiano cresceu com a acumulação de capital sob poder de grandes proprietários rurais, o que fez surgir poderosos coronéis, como Antônio Rodrigues Pereira e Jacinto Honório da Silva, na região do Distrito de Quirinópolis, em Rio Verde, que movimentavam a economia da região, comprando gado de pequenos criadores, inclusive em terras mato-grossenses. Em 1918, sob o patrocínio da iniciativa privada, abriu-se a Autovia Sul-Goiana, a primeira de Goiás, ligando Santa Rita do Paranaíba, hoje Itumbiara, a Rio Verde, Jataí e Santa Rita do Araguaia, em iniciativa que valorizou e deu grande impulso ao Sudoeste. A ascensão de Pedro Ludovico Teixeira, ao governo de Goiás, uma liderança surgida nos movimentos políticos do Sudoeste, iniciou a aproximação da região ao contexto socioeconômico goiano.
A agricultura na região surgia como uma atividade auxiliar na formação de pastagens e na abertura de fronteiras para a pecuária de corte. Assim, tomou lugar as lavouras de arroz de sequeiro, cuja produção era comercializada, em Uberlândia, tida como capital econômica da região. Com a modernização da agropecuária e a conquista tecnológica dos cerrados, a partir da segunda metade do século passado, houve substituição da monocultura do arroz, até então dominante, pela pluriatividade agrícola, com grãos, oleaginosas e outras culturas, que logo se expressava em termos de seguidas superssafras. O Sudoeste Goiano tornou-se, então, polo de atração de projetos agroindustriais, que demandam grande quantidade de matérias primas, como grãos, frangos e suínos, o que tem levado a um uso intenso das terras de seus municípios.
A área ocupada pelo Sudoeste Goiano é de 61.498,032 mil hectares. Sua população é de 518.274 habitantes. A região é hoje a maior produtora estadual de soja, milho e sorgo. Sua produção de grãos atingiu 6,0 milhões toneladas, cerca de 45,0 % do total produzido pelo Estado. O rebanho bovino de 3,4 milhões de cabeças e a produção de leite de 400,0 milhões de litros, também são destaques no âmbito estadual. A região lidera a expansão da avicultura, suinocultura e da cana-de-açúcar em Goiás.
Pode-se afirmar que os municípios do Sudoeste formam um polo dinâmico da territorialização do agronegócio, em Goiás. Nele planta-se e colhe quase de tudo e em diferentes épocas do ano, devido às condições de solo e ao regime hídrico favorável.. A cana-de-açúcar é plantada em qualquer época, para atender a escala industrial. Na região de eixo Rio Verde-Jataí-Mineiros é possível realizar duas colheitas anuais, como ocorre nas safrinhas complementares de milho, sorgo granífero e milheto. A pecuária eleva sua produtividade, por meio de confinamentos. O padrão de desenvolvimento das atividades agrícolas e o inter-relacionamento das cadeias produtivas, como a da soja, cana-de-açúcar, milho, sorgo granífero, algodão, tomate, girassol, pecuária de leite e de corte, suínos e aves vem atraindo grandes investidores e promovendo o desenvolvimento de diversos complexos agroindustriais e de parcerias na forma de clusters, como os das cadeias produtivas de suínos e aves de Rio Verde e o sucroalcooleiro, em desenvolvimento, em Quirinópolis, para maximizar a eficiência dos empreendimentos da região.
Favorece o desempenho da produção agroindustrial, a existência de rodovias federais e estaduais, cortando o Sudoeste em direção aos grandes centros consumidores e aos principais portos do litoral, na região Centro-Sul. O potencial logístico inclui a Hidrovia Paranaíba-Paraná-Tietê e a Ferronorte. Os grandes grupos sucroalcooleiros da região investem na viabilização de um alcooduto, que servirá a todo a região produtora de etanol. Ainda deve ser ressaltado, como ponto forte em favor do desenvolvimento regional, a grande disponibilidade de mananciais hídricos para irrigação. O Sudoeste possui potencial para o desenvolvimento do turismo, como o de aventuras ou eco turismo, pela existência de grandes lagos, parques naturais, belas cachoeiras, águas termais, cavernas, com registros milenares da arte humana e, ainda o agroturismo, em propriedades e empreendimentos, que bem representam o alto desenvolvimento tecnológico da agropecuária regional. A existência de grandes lagos favorece a expansão da aquicultura. A região avança na produção de energia limpa e renovável, através da multiplicação de pequenas centrais hidrelétricas em diversos mananciais hídricos e da cogeração, pela queima do bagaço da cana-de-açúcar, que já propiciam suporte energético, para o seu desenvolvimento.
A implantação prevista da Ferrovia Norte Sul oportunizará o surgimento de uma nova logística de transportes, com integração rodovia-ferrovia-hidrovia, interligação dos portos do Atlântico, no litoral Leste e Norte do país, além de dar origem a novos polos industriais e complexos de logística, nas cidades em que instalará seus pátios de transbordo. Por tudo isso, espera-se ainda a elevação das intenções de investimentos privados, mormente em empreendimentos sucroalcooleiros, indústria de alimentos, serviços, que conforme levantamentos da Sepin/Seplan chegam aos 5,3 bilhões de reais, até 2013..
O Sudoeste Goiano pode se desenvolver ainda mais sua pujante economia, através da superação de alguns entraves existentes, como infraestrutura e logística de transportes e armazenamento da produção agrícola, para alcançar a máxima produtividade, sem abrir novas áreas de cerrado e sem agressões ao meio ambiente. Espera-se maior apoio à universidade, entidades oficiais de proteção ao meio ambiente, organizações não governamentais, para conscientização e acompanhamento das atividades produtivas, com vista a garantia de sustentabilidade, preservando o bioma e o meio ambiente, para as futuras gerações. Do mesmo modo, espera-se que a população residente possa usufruir deste desenvolvimento, com oferta de mais empregos, disponibilidade de mais vagas para a capacitação profissional, maior remuneração do trabalho, melhor qualidade de vida e oportunidades para todos.
Ângelo Rosa Ribeiro é ex-deputado e ex-secretário estadual de Agricultura e de Planejamento

terça-feira, 6 de abril de 2010

Primeiro automóvel em Quirinópolis

A chegada do automóvel a Quirinópolis
          Em julho de 1927,  o fotógrafo paulista Antonio Costa que se fazia acompanhar pelo irmãos Anselmo e João Correa Neves, conduziu o primeiro automóvel com destino a Capelinha, aonde chegou 8 anos após inédita passagem do primeiro automóvel pela Autovia Sulgoiana, a primeira rodovia de Goiás, por ocasião de sua inauguração, em 1919,  com destino a cidade de Goiás, capital da província de mesmo nome.
            Eles vinham de Araçatuba - São Paulo, passaram pelo porto de  Santa Rita do Paranaíba, hoje Itumbiara, de onde tomaram a autovia. Logo após passarem pelas recém-construídas Três Pontes, no rio dos Bois, adentraram a região das Sete Lagoas. Seu primeiro pouso ocorreu na fazenda do senhor José Corrêa Neves e de dona Maria Antonia Rosa de Morais, pais dos acompanhantes. No dia seguinte, pernoitaram na casa de Josina Rosa de Morais, tia dos mesmos. Depois, na residência de João Cassimiro de Andrade, na beira do rio São Francisco, nas imediações do Morro do Paredão, de onde seguiram, para a travessia do rio, pelo Vau dos Cassimiras ou dos Andrades, até alcançariam a residência  do Coronel Jacintho e, finalmente, pela estrada que margeava o córrego do Lageado, depois de  atravessaram o córrego Capelinha,   chegaram ao povoado da Capelinha, hoje Quirinópolis.
         Mas não foi fácil concluir esta jornada. Após atravessarem as Três Pontes, no rio dos Bois, tiveram de percorrer mais de 70 quilômetros, sobre trilhas de boiadas e estradas, para carros de bois. Foi preciso aterrar buracos, consertar pontes, quebrar barrancos, abrir desvios e assustar muitos moradores, que não conheciam um automóvel. Muitos deles corriam apavorados, deixando suas casas. No início assustados, mas à noite, onde o automóvel pernoitava, faziam animada festa, para vê-lo de perto e comemorar sua chegada. No dia seguinte, um grupo de pessoas acompanhava a pé o veículo, para ajudar abrir os  novos caminhos de sua passagem histórica.
            A chegada do automóvel se fez por rotas abertas pelos pioneiros das Sete Lagoas, tal como o fizeram com o próprio desenvolvimento do município.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Quirinópolis - história e significado de sua bandeira

Salve a bandeira de Quirinópolis!

"Todos cantam sua terra,
também vou cantar a minha."

(Cassimiro de Abreu)




         A inscrição da bandeira anuncia que das terras de Quirinópolis brotam Leite e Mel tal como em Canaã, a "terra prometida" por Deus à Abraão. Isso equivaleria a dizer que por possuir solo fértil, grande disponibilidade de água e por ser abençoado,  o município teria condições ideais para farta produção de alimentos, produção de energia renovável, biocombustíveis e outras riquezas.

        De fato, tal como anunciado na bandeira, neste abençoado vale do rio Paranaíba um povo laborioso maneja  o solo para produzir de forma diversificada, gerando empregos, renda,  excedente exportável e se preocupa com a sustentabilidade para que haja progresso, bem estar coletivo e  garantia de sobrevivência  para as futuras gerações. Tudo isso, sob as cores verde e amarela do pavilhão e com a  permanente proteção de Deus. 

        Salve o município de Quirinópolis que como um astro estará sempre a brilhar, no querido Sudoeste Goiano!



O significado de LEITE E MEL
        

      Conforme o testemunho do ex-prefeito Hélio Leão, no mandato do qual foi criada a bandeira do município, em conversa que tivemos em sua residência, a inscrição “Leite e Mel” surgiu de inspiração bíblica.  Segundo a tradição, Deus chamou Abrão e ordenou-lhe que deixasse Ur, na Caldéia, no Sul da Mesopotâmia, e fosse com seu povo para Canaã (hoje Israel), uma terra de fartura, onde havia uvas, outras frutas e mel. Após a escravidão do Egito, conduzido por Moisés, o povo de Deus chegou a "terra prometida" (Ex 33:1-3).

O idealizador da bandeira quis eternizar, através dos referidos dizeres, que também desta terra "mana leite e mel”, quer dizer, Quirinópolis seria um local de abundância, rico em bênçãos, próspero e feliz. Leite seria figura de alimento vital, saudável, que proporciona o crescimento e garante a vida. Mel simboliza coisas gostosas, doces ao paladar.  Na combinação deste símbolos a interpretação de que Quirinópolis se constituiria em um espaço abençoado,  de muita fartura, de coisas agradáveis, onde havia  prosperidade e paz para seus habitantes.
                                  
                                                     Ângelo Rosa é antes de tudo quirinopolino.

sábado, 27 de março de 2010

Surge a rodovia Tocozinho-Castelândia

João Hércules e Chico Preto abrem a rodovia Tocozinho-Castelândia
 
"Pelo meio da mata, a velha estrada remanescia,  
como sinuosa trilha de tropeiros e boiadeiros."


            No final da década de 50, a região das Sete Lagoas vivia uma verdadeira transformação, com desmatamentos, cultivo de arrozais, implantação de pastagens e um grande aumento de sua população. Iniciava-se a fase da modernização da agricultura da região, com práticas como uso de insumos e mecanização, através de agricultores que vieram de municípios mineiros vizinhos da região. Mas, não contava com a infraestrutura de transportes para o escoamento da sua crescente produção.

        Neste cenário de expansão da agricultura fazia-se necessário a melhoria das condições das estradas, especialmente no principal eixo de escoamento da produção. Desde o tempo do desbravamento, pelo meio da mata apenas a velha estrada remanescia, como sinuosa trilha de tropeiros e boiadeiros. De um modo geral as estradas eram tortuosas e precárias, cheias de buracos e atoleiros, pois foram abertas por pioneiros da região, sendo conservados pelos fazendeiros e raramente pela municipalidade.  

             Na região das Sete Lagoas, a venda do Chico Preto recebia regularmente fazendeiros e proprietários de veículos motorizados, que reclamavam da absoluta falta de condições de trânsito nas estradas do lugar, principalmente das saídas para Quirinópolis e para o povoado da Sul Goiana, hoje Castelândia. 

       Em 1961, haveria eleições para prefeito e vereadores. O senhor Francisco Rosa Ribeiro, Chico Preto, incentivado pelos seus amigos e familiares, entendeu que era necessário deixar de lado o comércio e dedicar-se um pouco mais a política na região. Era candidato a prefeito o seu particular amigo João Hércules, que lhe solicitou apoio, sob o compromisso de que iria melhorar as estradas.

      João Hércules, logo após sua posse, em 1962, reconheceu a ajuda do amigo e logo melhorou as condições do trecho de Quirinópolis ao pequeno povoado de Tocozinho. Com havia combinado antes da eleição, entregou máquinas e funcionários ao comando do seu apoiador Chico Preto, que por sua conta contratou o agrimensor Allan Fonsêca para projetar um novo trecho a partir do Tocozinho rumo ao Povoado da Linha ou da Sul Goiana, como era conhecida a hoje Castelândia. Contou com o apoio do seu padrinho Benedito Rosa de Morais, que possuía a maioria das terras, por onde a estrada haveria inicialmente adentrar, ao longo de 15 quilômetros de cerradões.

       Foram três meses de dedicação exclusiva do Chico Preto àquela causa para dar apoio logístico e assistência ao operador do trator de esteiras da municipalidade, o conhecido Natão, que morava em Quirinópolis. Para isso, com recursos próprios, adquiriu uma camioneta, com a qual ia e vinha continuamente, sem nenhuma ajuda de custo da municipalidade.  Após 85 dias de seu início surgiu, pelo espigão e no coração da mata, uma das maiores obras rodoviárias até então realizadas pela prefeitura municipal. Seu leito desmatado possuía 12 metros de largura. Em seguida, por meio de poucos reparos como ampliação de leito e correção de traçado da estrada antiga, a melhoria chegou até a divisa do município de Rio Verde, às imedições de Castelândia.

      Para a alegria de produtores e da população local um novo caminho assim surgia, em linha reta, sem atoleiros, que garantia o bom trânsito de automóveis e o escoamento da grande produção do lugar. Este trabalho rendeu prestígio ao Chico Preto e um mandato de vereador na eleição seguinte. 

         Após alguns anos, o prefeito Onício Resende decidiu aproveitar o traçado e todo o leito desmatado para  promoveu melhorias até Castelândia. O seu filho Odair Resende, como deputado estadual, acompanhou a inclusão da rodovia municipal no plano rodoviário estadual e a designou Rodovia Onício Resende. Hoje, a mesma tem a identificação de GO-319 e faz parte do plano rodoviário estadual, com vistas ao seu asfaltamento.


                 Ângelo Rosa Ribeiro, ex-deputado, ex-secretário estadual de agricultura e de planejamento.

Hélio Leão moderniza Quirinópolis -


Hélio Campos Leão, em  31/01/1959.



                                           Hélio Leão e seu amor por Quirinópolis

            Hélio Campos Leão era filho de  Quintiliano Campos  Leão e  Corina Campos Leão. Casou-se  com Olga Lima e não teve filhos. 

         Em 1950,  Hélio Campos Leão foi prefeito de Quirinópolis pela primeira vez. Antes disso, foi vereador logo após a emancipação do município, quando ganhou a confiança do Coronel Jacinto Honório, grande benfeitor, protagonista mor da criação do município e seu principal chefe político. 

        Hélio Leão, que se  tornou o braço político do coronel Jacinto, foi eleito prefeito, em 1959,  pela segunda vez.  Em 1965, já conhecido como Major, elegeu-se prefeito, pela terceira vez, por vontade do povo e do coronel, evidentemente.


        O prefeito, em seu terceiro mandato, revelou-se um líder carismático e apaixonado pela sua cidade. Para lhe fazer justiça, nenhum  outro executivo foi tão apegado a sua comunidade. Dizia que não tivera filhos, por isso adotara Quirinópolis como sua filha, a quem devotava todo seu amor. Isso ele repetia por vezes com os olhos cheios de lágrimas, pois era muito emotivo, o que  não deixava qualquer dúvida sobre seu verdadeiro propósito.


     De fato, conforme apontamentos históricos, em suas administrações anteriores, deu enorme contribuição para o desenvolvimento local. Abriu ruas, loteamentos, estradas, construiu pontes, escolas e  buscou famílias em outros estados para promover o aumento da população local. Seus esforços resultaram em indiscutível expansão sócio-econômica e em  crescimento da cidade.

       Eleito para o terceiro mandato, estava decidido a modernizar a administração e embelezar a cidade. Para isso, logo no início de sua gestão  comprou uma área e doou ao BNH, para a construção de 180 casas, que resultou na Vila Promissão, o primeiro conjunto habitacional de Quirinópolis. Implantou o sistema telefônico automático e ligou a cidade ao resto do mundo. Ao inaugurar o telefone, ligou para seu xará Hélio Campos, presidente do Banco de Crédito Real de Minas Gerais S/A, em Belo Horizonte - MG, de quem obtivera a promessa de abertura da primeira agência bancária do município. Foi ao Rio de Janeiro e trouxe de lá a autorização para instalação do segundo banco na cidade - o Banco do Brasil S/A. Contratou profissionais para elaboração do projeto de implantação do serviço de água e esgoto da cidade e empenhou-se, pela sua realização. Deu considerável apoio para interiorizar a educação ao construir e instalar 13 escolas rurais. Doou as áreas para a implantação das Escolas Estaduais João XXIII e Castelo Branco. Fez o calçamento da Av. Brasil, no centro da cidade, com "bloquetes". Criou e equipou a banda municipal. Fez convênio e bancou o funcionamento do escritório da Associação de Crédito e Assistência Rural - ACAR-GOIÁS. Instalou a primeira torre de retransmissão e trouxe inéditos sinais de televisão para a cidade. Comprou um caminhão para a limpeza pública. Arborizou todas as ruas existentes. Construiu a estrada para o vizinho distrito de Riverlândia. Deu apoio a construção, pelo governo estadual, das pontes sobre o rio São Francisco e rio dos Bois. E ainda, provou aos seus adversários políticos, que lhe impuseram uma auditoria de contas, sob responsabilidade do governo estadual, que tudo estava em perfeita ordem.


           Agora faltava a obra que mais lhe motivava, que era reconstruir a histórica  Praça São Sebastião, hoje Coronel Jacinto Honório, instalando ali moderna fonte sonoro-luminosa, que não teria similar em Goiás. Deixando de lado o possível exagero, fato é que sua obra  encheu os olhos dos quirinopolinos. Nada podia superar em beleza o espetáculo proporcionado pela fonte sonoro-luminosa com seus fortes jatos d'água, lançados às alturas, sob imensa pressão e agradável efeito sonoro, que por si só já entoavam uma bela melodia, mas que ali apareciam sincronizados com luzes de diversas cores ao som de memoráveis orquestras. Era um show de rara beleza que encantava a populção.

 Naquela praça tudo tinha sido planejado para agradar a comunidade. Construiu-se novo coreto para solenidades especiais. Instalou-se espelhos d'água que foram povoados por belos cisnes. Implantou-se verdejantes jardins e canteiros, com lindas e exóticas floreiras.  O povo estava feliz e lotava a praça todos os dias. Nos finais de semana, além de  jovens para namorar, aparecia gente de todas as idades e de várias regiões, na busca do entretenimento. Com certeza, para o velho chefe,  inaugurar aquela praça de fato era como realizar a festa de apresentação da sua única filha, tomada por adoção e que preparara para a sociedade.


         As realizações do prefeito Hélio Leão de fato bem representavam o seu bem querer pela cidade. Ninguém tinha realizado tanto, até aquele momento, por Quirinópolis. Todavia, o tempo passava, o líder envelhecia e haveria mudanças na política local. Fechava-se um ciclo de poder. Ele não percebeu que agora a filha estava pronta  para seguir a sua vida, em um novo rumo. Talvez tenha sido este o seu maior erro. A paixão pela cidade o levou a novas disputas e a revezes no campo político. Perdeu inclusive uma disputa para o legislativo. O velho líder  alguns anos depois veio a falecer. Antes de morrer pedira a esposa que não permitisse que seu corpo fosse velado na Câmara Municipal.  Morreu contrariado, sem poder mais tomar para seus cuidados a sua adorada filha.


  Por  Ângelo Rosa Ribeiro, de Quirinópolis-GO.  Foi professor da EV-UFG, deputado estadual por GO (2X), secretário estadual de agricultura GO (2X),  secretário estadual de planejamento, superintendente da SEMARH GO, chefe de gabinete da PGE-GO.  Atual residente e produtor rural em Quirinópolis-GO.