segunda-feira, 29 de março de 2010

Quirinópolis - história e significado de sua bandeira

Salve a bandeira de Quirinópolis!

"Todos cantam sua terra,
também vou cantar a minha."

(Cassimiro de Abreu)




         A inscrição da bandeira anuncia que das terras de Quirinópolis brotam Leite e Mel tal como em Canaã, a "terra prometida" por Deus à Abraão. Isso equivaleria a dizer que por possuir solo fértil, grande disponibilidade de água e por ser abençoado,  o município teria condições ideais para farta produção de alimentos, produção de energia renovável, biocombustíveis e outras riquezas.

        De fato, tal como anunciado na bandeira, neste abençoado vale do rio Paranaíba um povo laborioso maneja  o solo para produzir de forma diversificada, gerando empregos, renda,  excedente exportável e se preocupa com a sustentabilidade para que haja progresso, bem estar coletivo e  garantia de sobrevivência  para as futuras gerações. Tudo isso, sob as cores verde e amarela do pavilhão e com a  permanente proteção de Deus. 

        Salve o município de Quirinópolis que como um astro estará sempre a brilhar, no querido Sudoeste Goiano!



O significado de LEITE E MEL
        

      Conforme o testemunho do ex-prefeito Hélio Leão, no mandato do qual foi criada a bandeira do município, em conversa que tivemos em sua residência, a inscrição “Leite e Mel” surgiu de inspiração bíblica.  Segundo a tradição, Deus chamou Abrão e ordenou-lhe que deixasse Ur, na Caldéia, no Sul da Mesopotâmia, e fosse com seu povo para Canaã (hoje Israel), uma terra de fartura, onde havia uvas, outras frutas e mel. Após a escravidão do Egito, conduzido por Moisés, o povo de Deus chegou a "terra prometida" (Ex 33:1-3).

O idealizador da bandeira quis eternizar, através dos referidos dizeres, que também desta terra "mana leite e mel”, quer dizer, Quirinópolis seria um local de abundância, rico em bênçãos, próspero e feliz. Leite seria figura de alimento vital, saudável, que proporciona o crescimento e garante a vida. Mel simboliza coisas gostosas, doces ao paladar.  Na combinação deste símbolos a interpretação de que Quirinópolis se constituiria em um espaço abençoado,  de muita fartura, de coisas agradáveis, onde havia  prosperidade e paz para seus habitantes.
                                  
                                                     Ângelo Rosa é antes de tudo quirinopolino.

sábado, 27 de março de 2010

Surge a rodovia Tocozinho-Castelândia

João Hércules e Chico Preto abrem a rodovia Tocozinho-Castelândia
 
"Pelo meio da mata, a velha estrada remanescia,  
como sinuosa trilha de tropeiros e boiadeiros."


            No final da década de 50, a região das Sete Lagoas vivia uma verdadeira transformação, com desmatamentos, cultivo de arrozais, implantação de pastagens e um grande aumento de sua população. Iniciava-se a fase da modernização da agricultura da região, com práticas como uso de insumos e mecanização, através de agricultores que vieram de municípios mineiros vizinhos da região. Mas, não contava com a infraestrutura de transportes para o escoamento da sua crescente produção.

        Neste cenário de expansão da agricultura fazia-se necessário a melhoria das condições das estradas, especialmente no principal eixo de escoamento da produção. Desde o tempo do desbravamento, pelo meio da mata apenas a velha estrada remanescia, como sinuosa trilha de tropeiros e boiadeiros. De um modo geral as estradas eram tortuosas e precárias, cheias de buracos e atoleiros, pois foram abertas por pioneiros da região, sendo conservados pelos fazendeiros e raramente pela municipalidade.  

             Na região das Sete Lagoas, a venda do Chico Preto recebia regularmente fazendeiros e proprietários de veículos motorizados, que reclamavam da absoluta falta de condições de trânsito nas estradas do lugar, principalmente das saídas para Quirinópolis e para o povoado da Sul Goiana, hoje Castelândia. 

       Em 1961, haveria eleições para prefeito e vereadores. O senhor Francisco Rosa Ribeiro, Chico Preto, incentivado pelos seus amigos e familiares, entendeu que era necessário deixar de lado o comércio e dedicar-se um pouco mais a política na região. Era candidato a prefeito o seu particular amigo João Hércules, que lhe solicitou apoio, sob o compromisso de que iria melhorar as estradas.

      João Hércules, logo após sua posse, em 1962, reconheceu a ajuda do amigo e logo melhorou as condições do trecho de Quirinópolis ao pequeno povoado de Tocozinho. Com havia combinado antes da eleição, entregou máquinas e funcionários ao comando do seu apoiador Chico Preto, que por sua conta contratou o agrimensor Allan Fonsêca para projetar um novo trecho a partir do Tocozinho rumo ao Povoado da Linha ou da Sul Goiana, como era conhecida a hoje Castelândia. Contou com o apoio do seu padrinho Benedito Rosa de Morais, que possuía a maioria das terras, por onde a estrada haveria inicialmente adentrar, ao longo de 15 quilômetros de cerradões.

       Foram três meses de dedicação exclusiva do Chico Preto àquela causa para dar apoio logístico e assistência ao operador do trator de esteiras da municipalidade, o conhecido Natão, que morava em Quirinópolis. Para isso, com recursos próprios, adquiriu uma camioneta, com a qual ia e vinha continuamente, sem nenhuma ajuda de custo da municipalidade.  Após 85 dias de seu início surgiu, pelo espigão e no coração da mata, uma das maiores obras rodoviárias até então realizadas pela prefeitura municipal. Seu leito desmatado possuía 12 metros de largura. Em seguida, por meio de poucos reparos como ampliação de leito e correção de traçado da estrada antiga, a melhoria chegou até a divisa do município de Rio Verde, às imedições de Castelândia.

      Para a alegria de produtores e da população local um novo caminho assim surgia, em linha reta, sem atoleiros, que garantia o bom trânsito de automóveis e o escoamento da grande produção do lugar. Este trabalho rendeu prestígio ao Chico Preto e um mandato de vereador na eleição seguinte. 

         Após alguns anos, o prefeito Onício Resende decidiu aproveitar o traçado e todo o leito desmatado para  promoveu melhorias até Castelândia. O seu filho Odair Resende, como deputado estadual, acompanhou a inclusão da rodovia municipal no plano rodoviário estadual e a designou Rodovia Onício Resende. Hoje, a mesma tem a identificação de GO-319 e faz parte do plano rodoviário estadual, com vistas ao seu asfaltamento.


                 Ângelo Rosa Ribeiro, ex-deputado, ex-secretário estadual de agricultura e de planejamento.

Hélio Leão moderniza Quirinópolis -


Hélio Campos Leão, em  31/01/1959.



                                           Hélio Leão e seu amor por Quirinópolis

            Hélio Campos Leão era filho de  Quintiliano Campos  Leão e  Corina Campos Leão. Casou-se  com Olga Lima e não teve filhos. 

         Em 1950,  Hélio Campos Leão foi prefeito de Quirinópolis pela primeira vez. Antes disso, foi vereador logo após a emancipação do município, quando ganhou a confiança do Coronel Jacinto Honório, grande benfeitor, protagonista mor da criação do município e seu principal chefe político. 

        Hélio Leão, que se  tornou o braço político do coronel Jacinto, foi eleito prefeito, em 1959,  pela segunda vez.  Em 1965, já conhecido como Major, elegeu-se prefeito, pela terceira vez, por vontade do povo e do coronel, evidentemente.


        O prefeito, em seu terceiro mandato, revelou-se um líder carismático e apaixonado pela sua cidade. Para lhe fazer justiça, nenhum  outro executivo foi tão apegado a sua comunidade. Dizia que não tivera filhos, por isso adotara Quirinópolis como sua filha, a quem devotava todo seu amor. Isso ele repetia por vezes com os olhos cheios de lágrimas, pois era muito emotivo, o que  não deixava qualquer dúvida sobre seu verdadeiro propósito.


     De fato, conforme apontamentos históricos, em suas administrações anteriores, deu enorme contribuição para o desenvolvimento local. Abriu ruas, loteamentos, estradas, construiu pontes, escolas e  buscou famílias em outros estados para promover o aumento da população local. Seus esforços resultaram em indiscutível expansão sócio-econômica e em  crescimento da cidade.

       Eleito para o terceiro mandato, estava decidido a modernizar a administração e embelezar a cidade. Para isso, logo no início de sua gestão  comprou uma área e doou ao BNH, para a construção de 180 casas, que resultou na Vila Promissão, o primeiro conjunto habitacional de Quirinópolis. Implantou o sistema telefônico automático e ligou a cidade ao resto do mundo. Ao inaugurar o telefone, ligou para seu xará Hélio Campos, presidente do Banco de Crédito Real de Minas Gerais S/A, em Belo Horizonte - MG, de quem obtivera a promessa de abertura da primeira agência bancária do município. Foi ao Rio de Janeiro e trouxe de lá a autorização para instalação do segundo banco na cidade - o Banco do Brasil S/A. Contratou profissionais para elaboração do projeto de implantação do serviço de água e esgoto da cidade e empenhou-se, pela sua realização. Deu considerável apoio para interiorizar a educação ao construir e instalar 13 escolas rurais. Doou as áreas para a implantação das Escolas Estaduais João XXIII e Castelo Branco. Fez o calçamento da Av. Brasil, no centro da cidade, com "bloquetes". Criou e equipou a banda municipal. Fez convênio e bancou o funcionamento do escritório da Associação de Crédito e Assistência Rural - ACAR-GOIÁS. Instalou a primeira torre de retransmissão e trouxe inéditos sinais de televisão para a cidade. Comprou um caminhão para a limpeza pública. Arborizou todas as ruas existentes. Construiu a estrada para o vizinho distrito de Riverlândia. Deu apoio a construção, pelo governo estadual, das pontes sobre o rio São Francisco e rio dos Bois. E ainda, provou aos seus adversários políticos, que lhe impuseram uma auditoria de contas, sob responsabilidade do governo estadual, que tudo estava em perfeita ordem.


           Agora faltava a obra que mais lhe motivava, que era reconstruir a histórica  Praça São Sebastião, hoje Coronel Jacinto Honório, instalando ali moderna fonte sonoro-luminosa, que não teria similar em Goiás. Deixando de lado o possível exagero, fato é que sua obra  encheu os olhos dos quirinopolinos. Nada podia superar em beleza o espetáculo proporcionado pela fonte sonoro-luminosa com seus fortes jatos d'água, lançados às alturas, sob imensa pressão e agradável efeito sonoro, que por si só já entoavam uma bela melodia, mas que ali apareciam sincronizados com luzes de diversas cores ao som de memoráveis orquestras. Era um show de rara beleza que encantava a populção.

 Naquela praça tudo tinha sido planejado para agradar a comunidade. Construiu-se novo coreto para solenidades especiais. Instalou-se espelhos d'água que foram povoados por belos cisnes. Implantou-se verdejantes jardins e canteiros, com lindas e exóticas floreiras.  O povo estava feliz e lotava a praça todos os dias. Nos finais de semana, além de  jovens para namorar, aparecia gente de todas as idades e de várias regiões, na busca do entretenimento. Com certeza, para o velho chefe,  inaugurar aquela praça de fato era como realizar a festa de apresentação da sua única filha, tomada por adoção e que preparara para a sociedade.


         As realizações do prefeito Hélio Leão de fato bem representavam o seu bem querer pela cidade. Ninguém tinha realizado tanto, até aquele momento, por Quirinópolis. Todavia, o tempo passava, o líder envelhecia e haveria mudanças na política local. Fechava-se um ciclo de poder. Ele não percebeu que agora a filha estava pronta  para seguir a sua vida, em um novo rumo. Talvez tenha sido este o seu maior erro. A paixão pela cidade o levou a novas disputas e a revezes no campo político. Perdeu inclusive uma disputa para o legislativo. O velho líder  alguns anos depois veio a falecer. Antes de morrer pedira a esposa que não permitisse que seu corpo fosse velado na Câmara Municipal.  Morreu contrariado, sem poder mais tomar para seus cuidados a sua adorada filha.


  Por  Ângelo Rosa Ribeiro, de Quirinópolis-GO.  Foi professor da EV-UFG, deputado estadual por GO (2X), secretário estadual de agricultura GO (2X),  secretário estadual de planejamento, superintendente da SEMARH GO, chefe de gabinete da PGE-GO.  Atual residente e produtor rural em Quirinópolis-GO.