sábado, 21 de janeiro de 2012

Coronel Jacinto Honório e a cidade de Quirinópolis

Coronel Jacinto, à esquerda, 
e seu amigo Pedro Ludovico, em 1945

Origem e chegada à Capelinha

      No final do século XIX e início do século XX,  vieram  para  a Capelinha, hoje   Quirinópolis, várias famílias em busca de terras para a criação de gado, cujo comércio se intensificava em São Paulo. 

        Nesta época chegou a família de José Quirino Cardoso, procedente de Passos (MG), onde nasceu em 1870,  pai da jovem Ana Francisca Andrade Cardoso.

       Em 1906, chegou a família do senhor José Jacintho da Silva, procedente de Ibiraci (MG). após comprar a  propriedade do Coronel Quintiliano da Silveira Leão, que se localizava na margem direita do rio São Francisco e que abrangia as vizinhanças  do Paredão, local que se tornou berço de sua família.

       Nesta mesma época, Jacinto Honório  da Silva, filho de José Jacinto da Silva,  veio de Franca  (SP), aos 19 anos,  para casa-se  com a jovem  Ana Francisca  Andrade  Cardoso, filha do Coronel José Quirino,  e estabelece a união das duas famílias.

         Em 1911, ao lado do sogro, o jovem Jacinto Honório começou a trabalhar pela organização da comunidade da Capelinha, ao integrar, como tesoureiro, a Comissão de Fundação da Igreja Matriz, que se tornaria no marco principal da fundação da cidade.

          Faziam parte da comissão, o presidente Padre Mariano, vice-presidente José Quirino Cardoso e o velho coronel Antônio Rodrigues Pereira,  que destacou a luta do jovem Capitão Jacinto Honório, pela sua dedicação à arrecadação de fundos, inclusive em terras mineiras, pedindo  que constasse em ata da fundação da igreja um voto de louvor pelo seu trabalho..

          Em 1919,  poucos meses antes da inauguração da igreja pela qual tanto se dedicou, vítima de um atentado violento, desaparecia a figura do influente líder José Quirino Cardoso, aos 49 anos, que marcou sua passagem como juiz distrital, grande pecuarista e agente ativo do desenvolvimento do Distrito de Nossa Senhora D'Abadia do Paranaíba. 

    Com a morte do sogro, em ordem natural de sucessão, crescia a influência do agora Coronel Jacinto, que à época já era considerado um respeitado líder comunitário.

 Relação com Pedro Ludovico

    Em 1930, no plano nacional, o candidato Júlio Prestes, de São Paulo, apoiado pelo presidente Washington Luís,  enfrentou Getúlio Vargas, do Rio Grande do Sul, para presidente da República. Júlio Prestes foi eleito, mas não assumiu. Um golpe de Estado derrubou Washington Luís e Getúlio Vargas assumiu a presidência da República, com o apoio do governador Benedito Valadares, de Minas Gerais, e dos tenentes (alguns deles ex - integrantes  da Coluna Prestes). O golpe consagrou-se como “Revolução de 1930.”

       Na mesma época,   em sintonia com o governo mineiro, ocorreu em Goiás o movimento revolucionário da Aliança Liberal liderado pelo Dr. Pedro Ludovico. Este se desenrolou inicialmente em terras quirinopolinas, com apoio político da família do quase centenário coronel Antônio Rodrigues Pereira e, principalmente, de coronel Jacinto Honório da Silva.
          
         O apoio do coronel Jacinto Honório foi importante no processo de implantação da revolução da Aliança Liberal por fortalecer o Dr. Pedro Ludovico Teixeira, em seu objetivo de desbancar do poder o Senador Antônio Ramos Caiado, o Totó Caiado, chefe político da Província, desde 1910, e o seu intendente Frederico Gonzaga Jaime, em Rio Verde. Este apoio rendeu o reconhecimento e a gratidão de Dr. Pedro, logo elevado à condição de interventor em Goiás.

Apoio  ao desenvolvimento de Quirinópolis

         Em 1931, a Câmara Municipal de Rio Verde, com o respaldo  do Coronel Jacinto, resolveu mudar o nome do distrito para Quirinópolis, em reconhecimento ao valor do antigo líder José Quirino Cardoso e sua família. Nesta época, o distrito já contava com boa estrutura urbana, estava ligada por estradas ao resto do país e entre sua população havia pessoas de formação universitária, como o médico Sizenando Martins e o farmacêutico Gilberto D'Aparecida Ferreira, que aqui residiam e trabalhavam.

         Em 1937, o Coronel Jacinto Honório reuniu-se com os principais líderes do povoado, ocasião em que o médico Sizenando Martins lançou a ideia da emancipação, hipótese imediatamente aceita pelo coronel e colocada ao público. Em 1940, dava-se o início às obras da cadeia e do alojamento para os soldados sob a administração do farmacêutico Gilberto D'Abadia Ferreira, com o apoio financeiro do Coronel Jacinto, e a colaboração do fazendeiro Antônio Estevam de Oliveira,  fato que fortaleceu o movimento pela emancipação.

           Em 1942, após a inauguração destas obras,  o líder Jacinto Honório deu ao senhor  Adolfo José D'Abadia a missão de levar uma carta ao Dr. Pedro Ludovico pela emancipação do distrito, dado que o escolhido era amigo do interventor, desde época em que eram estudantes secundaristas, no Rio de Janeiro. Na carta, o Coronel evidenciava o desenvolvimento alcançado pelo Distrito, expressava seu desejo de vê-lo emancipado e consultava sobre a necessidade de se constituir um advogado para acompanhar o processo. Em resposta, o interventor disse que ele próprio seria o advogado da causa e que no momento oportuno Quirinópolis seria emancipada. Não tardou, em 31 de dezembro de 1943, a promessa foi cumprida. Em 22 de janeiro de 1944, deu-se a instalação do município. O coronel incumbiu-se de todas as providências para a consolidação do novo município, ao solicitar as nomeações dos primeiros prefeitos e conceder total apoio as suas administrações.

                Com o fim da era Vargas foram realizadas eleições para os governos estaduais. Em Goiás deixou o poder o Dr. Pedro Ludovico, mas em Quirinópolis continuou grande a influência do coronel Jacinto Honório. Em sua residência, que ficava nas proximidades do Rio São Francisco, no caminho para as regiões do Paredão e das Sete Lagoas, realizavam-se reuniões frequentes, onde tomava-se as principais decisões de interesse da comunidade quirinopolina.

O domínio do Coronel

              O Partido Social Democrático, PSD, mantinha-se no poder por longos anos, sob a influencia do poderoso líder. Na prefeitura, sucediam-se seus amigos e correligionários. Entre eles Garibaldi Teixeira e Hélio Campos Leão, respaldados pelo voto popular. 

               Este último, em 1954, ao perceber o crescimento das oposições, dirigiu-se a fazenda do coronel Jacinto o prefeito Hélio Leão para consultar o velho chefe, então presidente do PSD, sobre seu plano para anular a ameaça oposicionista nas eleições que se aproximavam. O plano consistia em seu afastamento para que João Batista Rocha, então presidente da Câmara, um aliado do Partido Trabalhista Brasileiro, PTB, que tinha possibilidade de se tornar um  candidato a prefeito, assumisse a prefeitura e se tornasse inelegível, evitando assim uma divisão de forças aliadas e a eminente derrota, para a União Democrática Nacional-UDN. O plano foi aprovado e desta forma foi lançada a candidatura de Joaquim Quirino de Andrade, do PSD, um cunhado do coronel, derrotando o forte João Gonzaga Jaime, da UDN.

Em 1958, aos 71 anos, desaparece o grande líder e benfeitor

    O coronel Jacinto Honório foi pioneiro, grande líder e benfeitor de Quirinópolis, além de ter sido o mais importante dos coronéis da região. Era rico fazendeiro, homem de muitos negócios e grande comerciante de gado. Seu conceito diante da população era o de um líder honesto e respeitado chefe político regional. Assumiu com responsabilidade os grandes desafios públicos da cidade, desde os primeiros dias de sua fundação. Foi o grande condutor da emancipação do município e cuidou incansavelmente das etapas de sua  consolidação,  até que alcançasse a dimensão que alcançou, na plenitude de seu desenvolvimento. Enquanto viveu comandou de forma altaneira e soberana a política quirinopolina, sem dar chances aos seus adversários.   Em 1958, aos 71 anos, o coronel Jacinto veio a falecer. Sua história, todavia, confunde-se com a história da cidade que ajudou a construir.

           Por  Ângelo Rosa Ribeiro é  natural de Quirinópolis,  foi professor da EV-UFG, deputado estadual por dois mandatos, secretário estadual de agricultura e abastecimento, secretário estadual de planejamento e coordenação, diretor de crédito agroindustrial do BEG, superintendente da SEMARH-GO, chefe de gabinete da PGE-GO, residente e produtor rural em Quirinópolis-GO.

        Referencias:
            
            Barbosa, Eurico. Pedro Ludovico: A Mudança Revolucionária. Edotora Cerne, Goânia - Goiás, 1944.

            Campos, Onildo. Rio Verde Histórico. Edigraf,  São Paulo - SP, 1971.

            Ludovico,   Teixeira Pedro, Memórias. Editora Cultura Goiana, Goiânia - Goiás.
 
            Sagin Junior, Odir e Sagin, Mirian Botelho. Quirinópolis Histórico. Editora O Popular, Goiânia-Goiás, 2000.

             Depoimentos de Hélio Campos Leão, José Quirino da Silveira e Francisco Rosa  Ribeiro.



 

3 comentários:

  1. Quero colocar uma correção no histórico, O JOSÉ JACINTHO DA SILVA SAIU DE IBIRACI MG. E NÃO DE FRANCA.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Grato José Eymard Jacintho pelo seu conhecimento que decorre da proximidade com a família pioneira. Sua revisão criteriosa enriquece e confere maior credibilidade ao texto.

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