domingo, 8 de janeiro de 2012

A difícil travessia do Rio Paranaíba





A índia Maria Alves e a difícil travessia do Rio Paranaíba
             Em meados do século XVIII, uma indiazinha de apenas oito anos vivia com seu povo Caiapó em liberdade, por campos e cerrados do vale mineiro do Rio Paranaíba. Enquanto passeava com seus pais foi surpreendida por cavaleiros brancos, que a laçaram e a levaram para o povoado de Santa Vitória.  Ali foi entregue a um casal que a ela deu o nome Maria e o sobrenome da família - Alves Gouveia.

              Por toda a região cortada pelo Rio Paranaíba há indícios de civilizações indígenas ou ameríndias, que por ali viveram. Os primitivos habitantes da região foram os Caiapós, que com a chegada dos exploradores de raça branca fugiram para regiões mais isoladas, mas deixaram vestígios como ruínas de cemitérios e objetos exóticos perdidos à margem dos rios Tijuco e Prata, do lado mineiro do grande rio, além de igaçabas ou urnas funerárias, aqui e acolá. Vestígios similares foram encontrados também em sua margem direita, em solos goianos. O historiador Edelweis Teixeira registrou a presença dos Caiapós, em liberdade e aldeados, submetidos aos brancos, na região de Campina Verde - MG.

            Aos 15 anos, Maria Alves Gouveia casou-se com Bernardino Silva Costa, da família dos Panagogos, com quem teve vários filhos. Com o fim desta relação, veio para Goiás em companhia de Joaquim Rufinom e duas filhas muito pequenas, deixando para traz a família de criação. Teve que atravessar o Rio Paranaíba ou rio ruim em linguagem tupi-guarani, de tristes lembranças e tragédias para seu povo para adentrar aos sertões de Goiás a procura de seu cunhado João Rufino, que possuía uma significativa área de terras nas imediações do Ribeirão Castelo, na região da Capelinha, hoje Quirinópolis. Por lá viveram alguns anos, até que o desgaste da união a fez tomar o caminho de volta a Santa Vitória. Seu companheiro insistiu para que ela ficasse, porque gostava muito dela e de suas duas meninas, mas ela não aceitou. O companheiro inconformado disse que não a esqueceria e que se casasse de novo daria o nome de  Diolina e Elina a filhas que tivesse na nova família. Ela não ficou e o Joaquim Rufino cumpriu a sua promessa.

               A viagem de retorno foi feita em carro de bois. Levou consigo sua mudança e suas duas filhas  na companhia de uma amiga.  Ao tentar a travessia do rio em época de cheia, os seus cavalos foram arrastados e os quatro filhos de sua companheira foram levados pela forte correnteza. Com habilidade, a índia nadou e conseguir salvar três destes, ancorados sobre as moitas de ramos das várzeas invadidas pelas águas daquela grande enchente.
            Maria Alves Gouveia assim retornou a Santa Vitória, onde voltou a viver em companhia de Bernardino Silva, da família dos Panagogos. Nesta época nasceu Olímpia Alves, esposa de Benedito Gonçalves Rodrigues, avós maternos deste escriba.
 Passados alguns anos, o seu filho mais velho, José Alves ou Zequinha Alves, que era tido como meio louco, planejou buscar sozinho os sertões de Goiás. Chegou às margens do longo e estreito canal rochoso do Rio Paranaíba, em 1928, quando ali se instalava uma ponte pênsil, para dar apoio a construção de outra em concreto armado que ia ligar a região de Rio Verde GO ao Triângulo Mineiro. Zequinha Alves foi desafiado a passar a nado pelas violentas águas do canal.  A sua disposição foi colocado apenas um fio de arame comprido, no qual fez uma laçada em uma das suas pontas. Para se mover sob um cabo de aço já estendido fixou este fio em sua cintura com a utilização de um ajoujo, peça de couro usada para unir pelos chifres bois carreiros, em duplas. Zequinha ouviu dos presente a história de um aventureiro, conhecido apenas pela alcunha Acreano, morador da fazenda do senhor Oscar José Bernardes, que havia conseguido passar pelo canal, pioneiramente, nadando e levando amarrado na cintura um fio de arame fino, com o qual os encarregados da construção da ponte conseguiram puxar e estender o primeiro cabo de aço, para sua sustentação. Zequinha topou o desafio, levou consigo outro fio e assim deu sua contribuição ao se tornar também um pioneiro da travessia a nado do perigoso canal, mais tarde denominado São Simão.
As dificuldades da travessia do Rio Paranaíba não era um problema só para as populações indígenas, mas dificultou o desenvolvimento das regiões situadas a direita de seu curso. No  fim do século XVIII, as boiadas que demandavam do extremo Sudoeste Goiano e das regiões do hoje Mato Grosso do Sul, para chegar ao Rio de Janeiro ou a Barretos-SP, tinham que marchar por longas estradas boiadeiras e buscar passagens em  águas  menos profundas, em vaus a montante da região conhecida como do Canal e subir até Uberaba, pelas dificuldades da travessia do Rio Paranaíba. Com o passar dos anos foram surgindo alguns portos, como o do Taboado, no Mato Grosso  e o de São Jerônimo, entre Quirinópolis e Santa Vitória-MG, que amenizaram este problema.  Em 1934, foi inaugurada a ponte de concreto sobre o Rio Paranaíba, que mudou a realidade da região e pôs fim a um tempo de dificuldades e tragédias em sua travessia.

Ângelo Rosa Ribeiro - conforme depoimentos de antigos moradores da região.

Nenhum comentário:

Postar um comentário