quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

HISTÓRIA DA UEG DE ITAPURANGA

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                                     Criação e Instalação da UEG de Itapuranga

            A UEG de Itapuranga surgiu precedida de uma série de acontecimentos de natureza política. Era candidato a deputado estadual, quando fui convidado para uma reunião, na casa do candidato a prefeito Tito Coelho Cardoso, com cerca de duzentos estudantes secundaristas. A iniciativa era do então prefeito Warner Carlos Prestes. Visava estreitar sintonia com a juventude, para melhor conhecer suas aspirações e fortalecer minha campanha eleitoral, bem como a do  candidato a prefeito,  que era seu amigo.

             Enquanto Maria Zélia Cardoso preparava um caprichoso arroz com galinha, eis que chega o momento da palavra. Coube ao prefeito Warner Carlos Prestes abrir a reunião. Fui surpreendido com sua garantia de que comigo a cidade ganharia a sua faculdade. Era uma jogada esperta, daquela velha raposa política, para agradar a juventude. Ora, ninguém poderia pensar em ensino superior fora do eixo Goiânia-Anápolis. Muito menos, lá em Itapuranga, aonde, nem asfalto tinha chegado. Aquela promessa me causou uma enorme dificuldade. Daquele dia em diante, em toda concentração pública, sempre se dava corda àquele assunto, até porque outros oradores aprenderam, com o prefeito, que o mesmo agradava o povo.

       Tito Coelho Cardoso devido a uma dúvida com relação a sua filiação partidária tornou-se inelegível. Para a disputa foi escolhido João Batista da Trindade, então candidato a vereador, que foi registrado no apagar das luzes do prazo legal. Veio a eleição e fui eleito com 16.000 votos, destes 4.000 foram de Itapuranga. O assunto rendeu votos, logo, aumentava a minha responsabilidade.

      Nos primeiros dias da nova administração só se falava em infra-estruturas. Combinamos com o novo prefeito João Batista da Trindade que devíamos concentrar esforços neste sentido. A prioridade  era levar o asfalto até a cidade. 

       Mas os bons ventos sopravam para aquelas bandas. Em tempo menor que o esperado, o governo de Íris Rezende Machado construiu o asfalto de Itaberaí a Itapuranga. Para inaugurá-lo, as lideranças locais planejaram uma grande caminhada, desde o novo trevo, na entrada da cidade, ao longo de uma bela avenida, recém-construída, até a praça central. No dia da festa de inauguração, nunca se viu tanta gente. E lá chegava o Governador, em acenos para a multidão, ao seu gosto e estilo, como previsto, em percurso quilométrico, pela Avenida Perimetral e demais, até o palanque, carregado pela multidão presente.


             Então, naquele momento, Deus se fez presente e atuou em meu favor - mandou que o governador me perguntasse: "Deputado, que obra deveríamos providenciar, em retribuição a todo esse carinho? Nem titubiei: " É o anúncio da faculdade, Governador," respondi na hora. "Você precisa garantir que vai trazer faculdade". A professora Edna Trindade, esposa do prefeito, estava logo na minha frente e foi a primeira a vibrar com minha atitude. A promessa da faculdade saiu no discurso do governador e provocou uma explosão de contentamento.

             O tempo ia passando e assunto não evoluiu. Como estava no centro desta questão, acossado pelas lideranças locais, preparei um projeto de lei, em que criava a FECLITA – Faculdade de Ciências e Letras de Itapuranga, aos moldes da já criada FECLQ – Faculdade de Educação Ciências e Letras de Quirinópolis. A propositura foi aprovada pelos meus pares na Assembléia Legislativa e, em seguida, com o apoio do secretário de educação estadual Ademar Santillo, foi convertida em iniciativa governamental.

      O governador Íris sancionou a lei, mas deixou o Governo sem implantar a faculdade. Assumiu Onofre Quinan, que deu sua contribuição, ao nomear Edna Maria Trindade, professora e primeira-dama do município, como diretora, e ao doar os móveis necessários para sua instalação.Pouco depois Henrique Santillo se elegeu governador. Fui reeleito deputado e queria voltar à cidade, mas antes quis saber dele, o que deveria falar sobre o assunto. Então, bem ao seu estilo ponderou: "Chega de improvisação. Vamos criar uma superintendência de ensino de terceiro grau, para cuidar desse assunto. Depois vamos realizar um grande trabalho nesta área. Aí, implantaremos a faculdade. Pode avisar aos companheiros". E avisei.

          Nesta época, começou em Goiás um forte movimento contra a criação de novos cursos superiores no interior e tinha origem nas instituições de ensino da capital, de onde saiu o secretário de educação Heldo Mulatinho, professor ligado aos referidos setores. Alegavam que o estado não tinha condições para oferecer a estrutura necessária aos novos cursos e que o nível de ensino iria cair. O Governador decidiu então priorizar apenas os processos já prontos, até aquele momento, suspendendo os demais. 


         Mas, aí estava o problema. O processo de Itapuranga não estava pronto, porque ficou preso na burocracia sustentada pelo próprio secretário. Então, chamei o prefeito e sua esposa e comuniquei-lhes o fato. Não poderíamos deixar o sonho acabar. Depois, saímos à procura do professor França, o superintendente da área, que também defendia a idéia da interiorização do ensino superior. Ele resolveu desenvolver o processo em sua casa, evitando confronto com o secretário e desgaste ao Governador. Assim, com a ajuda da professora Edna, o processo de criação da faculdade rapidamente ficou pronto e, em seguida, aprovado pelo Conselho Estadual de Educação. Dali, foi ao gabinete do Governador, que resolveu encaminhá-lo ao MEC, onde estavam os demais.


      Ao saber da notícia chamei o prefeito João Batista e combinamos uma nova estratégia. Ele marcaria uma audiência para tratar de outros assuntos e encaminharia, para o meu gabinete, todas as lideranças de Itapuranga, que pudesse reunir, por aquela causa. Acertamos que na audiência, com o governador, só seria tratado esse assunto, nenhum outro. E que, então, seria tudo ou nada, sob pena de ocorrer um rompimento com o mesmo.

          No momento da audiência, o governador descobriu que o assunto não era o de pauta, mas não podia nos dispensar. Logo mandou me chamar, para que lhe explicasse como tramitou o processo de Itapuranga e porque diferenciava dos demais. Vi que não estava de bom humor, nem gostava do assunto, mas respondi que não havia diferença. Ele não se conformou e em tom nervoso, mandou chamar a Diretora Edna, para lhe afirmar que o processo de Itapuranga tinha atrasado em sua tramitação e não estava em pauta.  Aí a briga começou, porque Edna era do estopim curto e responsabilizou o secretário de educação Helder Mulatinho, transferindo-lhe a culpabilidade, por eventual diferença de tramitação. Após a entrada da Edna, entrou o Batista, mesmo sem ser chamado. Veio para socorrer a esposa e ai o caldo engrossou. Depois de alguns minutos de discussão, ou melhor, de briga mesmo, entrei de novo na questão, para ponderar que havia mesmo o compromisso, mas que Itapuranga poderia esperar um pouco mais, para fazer o seu vestibular. Fez-se um momento de silêncio. O governador, então, perguntou, se isso era possível. Respondi que sim, para atender as partes. Henrique Santillo então se levantou e nos deu o sim tão esperado. Em seguida abraçou-se ao prefeito e a professora Edna e nos convidou para ir ao encontro das lideranças, que esperavam pelo desfecho na sala anexa. Ali, fez um pouco de suspense, em tom de brincadeira, antes de pedir um pequeno prazo, para melhor preparar a estrutura para a faculdade, sob os aplausos e a emoção dos presentes. Neste momento, a diretora Edna definiu que o vestibular da FECLITA se realizaria daí a seis meses, o que de fato se concretizou.

            Passaram se poucos dias até que Santillo viajou para Quirinópolis, para anunciar o funcionamento da FECLQ. Lá se referiu aos desdobramentos de Itapuranga. Disse que o deputado Ângelo Rosa vinha ajudando muito a educação em Goiás e que era como o mineiro, trabalhava em silêncio, "até sub-repticiamente," para conseguir benefícios para suas comunidades.. Mas, de fato, eu sabia que os mineiros estavam mesmo em Itapuranga, sem a ajuda dos quais, não poderia estar relatando estes fatos históricos.

             Ângelo Rosa Ribeiro foi professor da EV-UFG, ex-deputado e ex-secretário estadual da Agricultura e ex-secretário estadual do Planejamento e Coordenação.

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