quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Clarões: Trecho Quirinópolis-Caçu - a luta pelo seu asfaltamento.




Desta vez a obra se consumou


            Asfaltar estradas nunca foi tarefa fácil. No caso da GO-206, trecho Quirinópolis até Caçu, seu asfaltamento era esperado há muito tempo por toda a população, nos dois municípios. Sua construção era do interesse do comércio de Quirinópolis, por facilitar acesso a clientes da região do extremo Sudoeste Goiano, além disso, viabilizava um corredor entre duas cidades fronteiriças de importância estratégica no desenvolvimento regional, no caso Itumbiara, entre Goiás e Minas Gerais e Cassilândia, entre Goiás e Mato Grosso do Sul.

            Criou-se uma grande expectativa com esta obra, após seu início ser suspenso por Íris Rezende, um dia antes dos serviços serem iniciados, com obras de arte já concluídas em seu governo e com máquinas já estacionadas em Caçu. Depois, com a sua saída, foi a vez de Onofre Quinan dar sua autorização, por escrito, para que a empreiteira recomeçasse as obras, desta vez com início por Quirinópolis. Mas ficou só no começo, com alguns metros de movimentação de terra e parou.  Pela terceira vez, agora no governo de Henrique Santillo, foi reiniciada e, de novo, sem prosseguir, por falta de recursos financeiros. Mas justiça se faça ao governador Santillo: em seu governo foram asfaltados os trechos de Almerindonópolis até Inaciolândia, daí a Gouvelândia, até chegar a Quirinópolis.
            Na realidade, durante o tempo em que fui deputado, o asfaltamento do trecho de Quirinópolis até Caçu, por três vezes foi autorizado, pela nossa insistência, sem ter prosseguimento. Embora tenham sido desgastantes, estes fatos comprovaram meu empenho diante daquele compromisso. Assim a estrada acabou asfaltada por Íris Rezende, em seu segundo mandato governamental. Não havia mais condições para o Governador vir até aqui falar de novo naquele assunto. era preciso iniciar a obra, sem novas promessas. Então, desta vez se levou uma caravana de populares até Goiânia, para assinatura da ordem de serviço, no Palácio das Esmeraldas. E assim a obra se consumou.

Clarões: Entre os primeiros, em Goiânia


Os primeiros estudantes de Quirinópolis em Goiânia


            Em 1967, a viagem para Goiânia era feita de ônibus, por estradas de terra, saindo às 7 horas, de Quirinópolis, rumo a Rio Verde. De lá, por transbordo, às 14 horas, tomava-se  um ônibus que vinha sempre lotado de Cuiabá,  para chegar a Goiânia, por volta das 22 horas.
Foi nesta época, aos 16 anos de idade, que me decidi a vir estudar na capital goiana. Fui morar, em uma pensão, em companhia de Donaldo José Magalhães e Sodino Vieira de Carvalho, que já estudavam por aqui. Naquele ano, poucos estudantes deixaram Quirinópolis, para continuar seus estudos, como foi o  meu caso e os de Manoel Eduardo Neto, Volmei Clara Martins e outros, que procuram Uberlândia (MG).

 Quase não havia estudantes de Quirinópolis em Goiânia, em 1967.  Aqui estiveram Athaydes de Freitas Silveira,  Nélio Alcântara  e Nerivaldo Costa. Alguns tiveram rápida passagem, como Lázaro Evangelista Ferreira Cabral e João Batista Pereira Ramos; outros para cá vieram definitivamente, como os casos de Djalma Melgaço, Julian Melgaço, José Melgaço, Cleuza Maria Costa e o fotógrafo Jacson Martins da Silva, que trabalhou no Palácio das Esmeraldas, no governo de Otávio Lage Siqueira. 

 Nos anos seguintes vieram Moarcy Túlio Miguel Andrade, Altamiro D’Abadia Chaves, Antonio Pires de Morais, Hélio Caiado Fleury, Raul Gonçalves Queiroz, Agostinho Gonçalves Queiroz, João Gonçalves Rodrigues, Roni Lopes Cansado, Romes Lopes Cansado e Itamar Costa.  Assim paulatinamente foi crescendo o número de jovens que deixavam Quirinópolis, para dar prosseguimento aos seus estudos na capital goiana.

Itajá, Itarumã e Aporé: integrando-os a Goiás



Região do extremo isolamento goiano


            Em 1982, os municípios de Itarumã, Itajá e Aporé, no extremo Sudoeste Goiano, constituíam uma espécie de ilha, que se isolava do plano estadual e se agregava cada vez mais a conjuntura de Mato Grosso do Sul e da região Noroeste de São Paulo, para onde os goianos destes municípios tinham que se deslocar para adquirir mercadorias e bens diversos, encontrar opções de lazer e entretenimento e, assim, de lá importavam também modos e costumes. Era freqüente ouvir por ali expressões populares, completamente diferentes das empregadas pelos goianos, “coisas” das culturas mato-grossenses e paulista, trazidas pela influência de suas cidades, mais próximas e ligadas por asfalto, a partir da fronteira de Goiás.

A exclusão dos goianos do seu próprio estado advinha de fatores como precariedade dos meios de transportes e de comunicação da região com o restante do estado de Goiás, fato notório, que humilhava e causava revolta das principais lideranças daqueles municípios. O isolamento era decorrente da  falta de planejamento, organização administrativa, investimentos em infraestruturas, portanto, por falta de presença do governo de Goiás, naquela região.

            O diagnóstico era fácil. O difícil era mudar em poucos anos esse grave quadro de atraso, de várias décadas. Não havia estradas que permitissem trafégo regular durante todo ano, entre Quirinópolis, Rio Verde, Jataí e mesmo Caçu, mais integrada a Goiás,  até a divisa com Mato Grosso.

 O município de Itajá possuía um agravante: tinha sido  transformado em estância hidromineral, pela ditadura militar. Os prefeitos eram nomeados e havia completa desmotivação política, pela supressão da participação popular e era diminuta a capacidade de solução administrativa através de seus prefeitos nomeados.  A cidade se desorganizou completamente e atrasou-se no tempo e no espaço.

Em 1983, teve início um período de grandes transformações em Goiás, com a queda da ditadura e o advento do governo de Iris Resende,  e especial atenção foi dada a esta região de Goiás, agora sob o comando de novas lideranças, eleitas em 1982.
 

A contribuição do prefeito Valdemar, de Itajá

         No início do governo de Iris Resende, casualmente nos encontramos com o prefeito de Itajá, Valdemar de Freitas Sampaio, em uma antesala do gabinete do secretário da fazenda Osmar Cabral. O prefeito estava impaciente com a demora de seu atendimento. Informamos ao secretário sobre sua presença e este imediatamente o recebeu.

            O prefeito agradecido disse-nos que pelejava sozinho nas repartições do Estado e que se estivéssemos com disposição para ajudá-lo, ele e a população de Itajá, que precisava muito de ajuda, não iriam disso esquecer. Então, passamos a conversar sobre os problemas de sua cidade e da região. A partir daquele momento assumimos algumas de suas solicitações  e demos solução as mesmas. Logo começaram a chegar pedidos encaminhados pela primeira dama Marta Simões de Oliveira Sampaio, vereadores, companheiros do prefeito, populares, cada um com uma demanda. Foi desse modo que uma série de benefícios foram levados a população itajaense.

Ao conhecer a situação política de  Itajá constatamos que entre suas principais lideranças  haviam divisões irreconciliáveis, o que nos favoreceu, por uma condição óbvia – a causa que unia. Consegui reunir a todos em torno de um pleito comum na região,  com o qual estava comprometido e vinha trabalhando com intensidade, que era conseguir o asfaltamento da rodovia GO-206, desde Cachoeira Dourada, passando por  Quirinópolis, Caçu, até a divisa com Mato Grosso do Sul.
 
A nossa presença serviu para aumentar o pode de reinvindicação  e evidenciar ainda mais as carências da região. Passamos a discutir as questões locais na Assembléia Legislativa e no Governo.  Os assuntos inerentes a luta em defesa da  região começaram a ser discutidos de forma veemente, muitas vezes até em clima de tensão e nervosismo.

 Jamais poderemos nos esquecer do ocorrido pouco tempo depois do lançamento das obras de asfaltamento do trecho Quirinópolis-Caçu, durante uma visita do governador Iris Rezende. Para Caçu se deslocaram lideranças de Itarumã e Itajá, na esperança de ouvir do governador o compromisso de levar o asfalto até seus municípios. Como nada se ouviu na sua fala, combinamos ir até as escadas de seu avião, para interpelá-lo sobre o assunto e reiterar o pedido. Nas proximidades do avião, encheu-se de lideranças dos dois municípios. Quando o governador se aproximou, sem que houvéssemos combinado a estratégia, tomou a frente o senhor Orestes de Freitas, um velho líder da região, para dizer ao governador, em tom veemente, que se o asfalto não chegasse até Itarumã, que o governador falasse ali, naquele instante, porque iria rasgar o seu título de eleitor, para não ter mais que falar em política, porque estava desmoralizado. O governador provocado tomou-se de certa  irritação e disse que ainda não podia fazer aquele compromisso, para também não ficar desmoralizado, se por acaso não tivesse como cumprir. 

O ”se” proferido pelo governador evitou que o título de Orestes fosse ali rasgado, mas não deixou ninguém satisfeito. Ao entrarmos no avião, percebemos que o governador estava preocupado com o ocorrido, mas nos tranquilizou ao dizer que sua intenção era fazer o asfalto, era este seu desejo, mas que preferiu não se comprometer. Deixava para falar no momento certo.


A partir daquele momento o governo  priorizou os pleitos da região. A luta dos prefeitos e das lideranças se intensificou. Não se falava noutro assunto. Até que, com a ajuda de Mauro Miranda, irmão do governador de Mato Grosso do Sul, Marcelo Miranda, que presidia o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, DERGO, o trecho foi incluído no rol de obras prioriárias, para asfaltamento. Não demorou e os trechos foram licitados e as obras começaram.

 Outro fato interessante aconteceu com chegada do asfalto a Itajá. O prefeito Valdemar, no caso em questão, com medo de ficar desmoralizado não sabia como responder às indagações dos moradores de sua cidade.  Aconteceu que o asfalto da GO-206  chegou ao trevo da cidade e deveria  demandar a Ponte Zeca Pereira, no Rio Aporé, na fronteira estadual,  a poucos quilômetros de uma rodovia asfaltada, no Mato Grosso do Sul. Todo mundo estava esperando por isso, mas, o governador ordenou que se fizesse primeiro o trecho da Lagoa Santa. A população de Itajá, com medo do asfalto não passar pela cidade, caiu de cima do prefeito. Ele sem saber o que responder teve que deixar a cidade, mas teria que voltar com uma boa solução. O governador  e o diretor do DERGO estavam em Cristianópolis, para aonde fomos, na esperança de ter uma palavra, que minimizasse seu sofrimento. A resposta foi que de imediato não seria possível atendê-lo. Teve que voltar com o que já tinha – apenas com a promessa. Como juntos trabalhamos muito e o prefeito teve muita sorte, não ficou desmoralizado, como temia. Acabou levando o asfalto para a Lagoa, para a ponte Zeca Pereira e também para Cassilândia. Aí valeu a pena.

Para consertar Itajá, cujas ruas se encontravam tortuosas, desniveladas, com erosões gigantescas, quarteirões fora do esquadro e uma situação geral de caos urbanístico foi preciso muita competência e dedicação do prefeito Valdemar de Freitas Sampaio, que como engenheiro deu enorme contribuição para a reestruturação física e para a organização administrativa daquela cidade. O prefeito Sebastião de Freitas Neto, seu sucessor, também deu significativa contribuição para aperfeiçoar a cidade, em seu aspectos físico estrutural e socioeconômico.

 Os municípios de Itarumã e Aporé tinham problemas semelhantes aos de Itajá, mas suas lideranças souberam participar do especial momento de desenvolvimento por que passou o estado e reencontraram o caminho do progresso. 

O município de Itarumã era administrada pelo prefeito Fiíco, que precisava de um forte apoio para asfaltar a maioria das ruas da sua cidade. Fomos procurados pela liderança que ali sempre nos apoiava, o popular Índio, para levar este pleito ao Governador. Com o respaldo do diretor Mauro Miranda conseguimos  a aprovação do pedido. Itarumã, além de ficar ligada por asfalto a Caçu e Itajá, conseguiu mudar seu perfil urbanístico. 

Aporé tinha uma arrecadação de impostos muito alta, mas o prefeito Adão Alves dos Santos era de oposição e não conseguia deslanchar sua administração. Sua vez chegou quando em companhia do prefeito Valdemar, de Itajá, fomos a Uberaba acompanhar o governador em um evento, onde era homenageado. Em uma conversa rápida o governador nos disse que precisava fazer alguma coisa por Aporé, de onde vinham tantos recursos para o tesouro estadual, mas não via como viabilizar, pela falta de parceria com o prefeito. Combinamos então agir, para resolver o impasse. Primeiro o prefeito Valdemar foi a Aporé conversar com o Adão, que se mostrou receptivo. Marcamos uma audiência dele com o governador e voltamos para comunicar resultados para a população. A sorte de Aporé então mudou e nunca se viu tantas obras de uma só vez, por lá. Terminal rodoviário, ponte sobre o Rio Aporé, rede de água tratada, melhorias do sistema telefônico, asfalto nas ruas, casa populares e muitos outros benefícios.

A conquista do asfaltamento em toda extensão da GO-206 possibilitou sua transformação em uma artéria de grande poder para oxigenar e revitalizar aquele espaço isolado, ao possibilitar fácil circulação de mercadorias e escoamento de suas riquezas, o que fez acelerar o crescimento econômico regional, com resgate da autoestima da população daquelas comunidades. Na esteira desta conquista vieram investimentos sociais, infraestruturais e produtivos, dos governos estaduais, das prefeituras e da iniciativa privada. Houve um maior fluxo de notícias goianas naqueles municípios, com a circulação de jornais, sinais das emissoras de televisão da capital goiana, melhorias da comunicação por telefones, pela expansão destes serviços. Somando-se aos demais benefícios que o governo goiano propiciou, mudou-se o perfil de interação econômicosocial e cultural dos municípios desta região, fortalecendo o sentimento da goianidade de suas populações.

Era um grande desafio, que assumimos e vencemos, em dois mandatos, honramos a expressiva votação que recebemos na região. Com dedicação, trabalhamos diuturnamente, conduzidos pelo ideal de servir, ao lado de prefeitos idealistas e lideranças valorosas, que ficarão definitivamente na história destes municípios, por participarem de um processo de transformação de uma realidade, que teve o significado de redenção regional e de resgate desse rico rincão, dos vales dos rios Aporé, Verdinho e Corrente, reintegrando-os de forma completa, como expressivos e valorizados municípios goianos.

Pode se afirmar que, pelas inquestionáveis mudanças ocorridas na região, entre 1983 e 1989, nos governos de Iris Rezende Machado e Henrique Santillo,  a referida região deixou de ser do extremo isolamento goiano e que os municípios de Itajá, Aporé e Itarumã foram definitivamente integrados ao Estado de Goiás. Por justiça é preciso ressaltar a boa vontade de Mauro Miranda, à época Diretor Geral do DERGO, que tinha grande entusiasmo pela região e que muito nos ajudou na  definição dos pleitos com o governador Iris Rezende.


Principais benefícios conquistados pelo nosso efetivo trabalho, junto ao governo estadual, em parceria com os prefeitos Valdemar de Freitas Sampaio, de Itajá, Adão Alves dos Santos, de Aporé e de importantes lideranças da região, que também atuaram naquela época, cujos nomes pedimos permissão para não citar, para não correr o risco de alguma omissão, até pela impossibilidade de lembrar o nome de todas, neste momento.



Itajá



Asfaltamento da GO-206 no trecho Caçu-Itarumã-Itajá;
Obras de arte e compromisso de asfaltamento da GO-206 entre Quirinópolis e Caçú;

Ligação asfáltica para Aporé, pelas imediações de Cassilândia-MS;

Ligação asfáltica para Lagoa Santa;

Ligação asfáltica para MS, via Ponte do Zeca Pereira;

Duplicação da rodovia de acesso à cidade;

Construção de bueiro Ribeirão São João;

Ampliação de rede de energia elétrica urbana;

Parceria para construção de 20.000 metros quadrados de asfalto urbano;

Parceria para construção de redes pluviais;

Construção de rede energia elétrica para Olaria da Fumaça;

Construção de um ginásio de Esportes;

Instalação do DETRAN;

Construção da ponte Zeca Pereira, no rio Aporé;

Perfuração de poço artesiano e rede de distribuição de água de Lagoa Santa;

Construção do Terminal Rodoviário;

Doação de uma viatura policial;

Módulo esportivo com alambrado e vestiário;

Criação do Distrito Termas do itajá, que deu origem ao município de Lagoa Santa.



Aporé


Construção de Terminal Rodoviário;

Implantação da rede de distribuição de água;

Ligação asfáltica para Itajá, pelo trevo para Cassilândia-MS;

Construção de ponte sobre rio Aporé;

Doação de 20.000 metros quadrados de asfalto urbano;

Expansão e melhorias do serviço telefônico.



Itarumã


Asfaltamento dos trechos da GO-206, para Caçu e para Itajá, até a divisa com MS;
Implantação de asfalto urbano, beneficiando todas as ruas da cidade;



sábado, 4 de fevereiro de 2012

Clarões: Grupo Escolar Ricardo Campos


                                      

                                                                      

O fim de um ícone histórico



A mais bela e expressiva construção da fase distrital da cidade de Quirinópolis foi a do edifício sede da Escola Ricardo Campos. O prédio foi construído no final da década de 30, por um pedido do coronel Jacinto Honório e das lideranças locais ao prefeito de Rio Verde, Ricardo Campos, que contou com ajuda do interventor Pedro Ludovico, para sua edificação. Ambos estiveram presentes na grande festa que os professores Glicério da Cunha e Jordina Corrêa Neves organizaram para sua inauguração.

Lembro-me dele, localizado logo abaixo da velha matriz, como um belo exemplar da arquitetura e da construção civil da época. Duas salas de aula, piso em assoalho, portas e janelas grandes e em madeira de lei. Entre as salas havia  um espaço, com cobertura em forma de arco. De fato um prédio diferenciado, imponente para os padrões da época de sua construção.

Ainda pude, como um privilegiado estudante da Escola Normal Estadual, que funcionava na antiga sede da primeira prefeitura da cidade, hoje Museu Histórico Municipal, contemplar a sua sólida estrutura, bela arquitetura e refletir sobre sua representatividade histórica. Localizado na Praça São Sebastião, ao lado da velha Igreja Matriz de Nossa Senhora D’Abadia e vizinho da primeira prefeitura da cidade, o Grupo Escolar Ricardo Campos fazia parte de um significativo conjunto, um verdadeiro sítio histórico, que foi palco de grandes eventos e decisões. Além de ser sede da primeira escola pública da cidade, nele se deu a instalação do Poder Legislativo e a  primeira reunião  da Câmara Municipal de Quirinópolis.

        O edifício do Grupo Escolar Ricardo Campos com toda sua imponência físico-estrutural e representatividade histórica teria que ter sido tombado e preservado para a posteridade. Hoje, em seu lugar encontra-se a sede social da Associação Atlética Banco do Brasil - AABB.

(Com a devida vênia, desculpem-me as autoridades da época: a destruição desnecessária do Edifício Ricardo Campos foi um crime cometido contra a história da cidade, uma inconcebível desinteligência.)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Clarões: Raphael Bonanno, O.F.M, um padre amigo



                           Um padre amigo



          Em 1967, aos 16 anos de idade, estava a concluir a fase ginasial, no Ginásio Estadual de Quirinópolis, quando fui procurado pelo Frei Raphael Bonanno, um procurador vocacional, com quem tinha boa amizade, para uma uma consulta. Por seu convite fomos visitar as obras da Capela N.S.Aparecida, que se encontrava em fase inicial de construção. No cumprimento de sua missão o padre indicou-me uma carreira religiosa, para a qual poderia ser preparado. Agradeci o convite, porque achava que era outro o meu caminho. Mas pedi ao padre a sugestão de um colégio para a continuidade dos meus estudos. Foi assim, por ele sugerido o Colégio Ateneu Dom Bosco, dos padres salesianos, em Goiânia, onde conclui o curso colegial e me preparei para o vestibular.
         Nos dias atuais, fevereiro de 2012, Frei Raphael encontra-se no exercício de atividades religiosas no Saint Anthony's Shrine 100 Arch Street, Boston, MA 02107-2278 United States Voice: 617-542-6440. FAX 617-542-4225.| Email @stanthonyshrine.org




A importância de Barretos (SP) para Goiás





A região Noroeste Paulista e o Desenvolvimento de Goiás


Ao aprofundar estudos sobre a história da economia goiana percebe-se o grande significado da participação da região Sudoeste no desenvolvimento do Estado de Goiás. Como se sabe, com a decadência da mineração, que durou 50 anos, de 1726 a 1776, toda a província de Goiás viveu sob forte estagnação econômica. Não foi possível, por longos anos, encontrar um produto ou uma atividade que substituísse em nível de vantagem econômica a mineração, que se inviabilizara. A decadência do ouro sacrificou a sociedade goiana, por mais de cem anos, com migração dos habitantes dos centros urbanos para a zona rural e regresso a condição de uma economia de subsistência.


Havia, nesta época, um completo isolamento da região Sudoeste em relação à capital da província. A partir de 1838, após a publicação da lei federal que abolia a cobrança de dízimos de miunças e impostos sobre a criação de gado vacum e cavalar, intensificou-se na região Sudoeste de Goiás a migração de mineiros e paulistas, em busca de terras para criar gado, que ali se estabeleceram com suas famílias, aderentes, pertences, escravos e as miunças - porcos, carneiros, cabritos, galinhas e outras, fazendo surgir na região milhares de posses rurais e dezenas de povoados.


Foi a partir do Sudoeste que a economia de Goiás ganhou novo rumo. Por isso, para entender a retomada do desenvolvimento da província, sem os dividendos da mineração, será preciso compreender o que se passou nesta região, neste período.


Tudo começou por eventos climáticos surgidos na região Noroeste de SP, quando em 1870, fortes geadas caíram sobre matas, nas circunvizinhanças de Barretos-SP, dando origem a incêndios e a destruição de enormes áreas da vegetação. Com a chegada das chuvas, exuberantes pastagens ali se formaram e foram aproveitadas, para a criação de gado. Iniciou-se assim o ciclo da pecuária de maior importância para o desenvolvimento de toda região central do país. Em 1909, chegou a Barretos a Ferrovia Paulista, como uma extensão de sua rede cafeeira. Em 1913, veio a Companhia Frigorífica Anglo-Pastoril, de propriedade da Coroa Inglesa, reinado que dominava o mercado de carne mundial. À época, também se desenvolveu a indústria de refrigeração de carne, nas circunvizinhanças de capital paulista. A cidade de Barretos tornou-se centro de comercialização pecuária, aproximando os fornecedores de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás aos consumidores da capital paulista, das áreas de expansão dos cafezais, dos sítios da mineração e do litoral brasileiro.


Na esteira destes acontecimentos, os proprietários de terras da região Sudoeste e muitos empreendedores que aqui chegaram atraídos pela isenção de impostos concedida pelo governo da província, intensificaram a criação de gado. Com os grandes lucros auferidos na comercialização, pois monopolizavam o comércio e adquiriam toda a produção dos pequenos e médios criadores, surgiram os coronéis da região, proprietários de extensas áreas de terra e grandes rebanhos bovinos, entre eles Antonio Rodrigues Pereira e Jacinto Honório da Silva, ambos da Capelinha, hoje Quirinópolis, um dos maiores pólos de criação de gado da região de Rio Verde.


Nesta época surgiram diversas variantes de estradas boiadeiras, oriundas de diferentes pontos do Sudoeste, de outras regiões da Província e de  Mato Grosso. Por vaus ou portos improvisados, atravessavam o Rio Paranaíba, à montante da região do Canal, que mais tarde fora denominado Canal de São Simão, e adentravam o Triângulo Mineiro em direção a região de Barretos, na Noroeste Paulista.


A Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), a Guerra Abissínia (1935) e a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) proporcionaram forte incremento nas exportações brasileiras de carne e enlatados. Foram longos anos de grande acumulação de capital, pelos pecuaristas.


Em 1919, animados com o progresso da região, um grupo de empreendedores de Santa Rita do Paranaíba, hoje Itumbiara, inaugurou a primeira autovia de Goiás, a Sul Goiana, que ligava este  povoado a Rio Verde, Jataí, chegando até Santa Rita do Araguaia, em iniciativa de enorme significado socioeconômico. Conforme registros históricos, logo após a inauguração da autovia, o aventureiro João Cornélio Brum, guiou um fordinho, de São Paulo a Jataí e daí, por péssimas estradas tropeiras e carreiras, chegou à Vila Boa de Goyaz, capital da província, que assim recebeu o seu primeiro automóvel, alarmando as ruas daquela histórica comunidade.


Vivenciando este momento auspicioso, o médico Pedro Ludovico Teixeira, radicado em Rio Verde, adquiriu prestígio político em toda região e tornou-se o líder goiano do movimento revolucionário chefiado por Getúlio Vargas, com o que põe fim a oligarquia dos Caiados e se torna interventor da província de Goiás. Ao assumir o poder colocou em pratica idéias transformadoras defendidas pelas lideranças do Sudoeste, como a da mudança da capital, para uma região mais central, de melhor topografia e condições logísticas, para o desenvolvimento da província.


A partir de 1930, com o Estado Novo, os coronéis perderam status, mas os negócios do gado não pararam de crescer, favorecidos por políticas de fomento do governo Vargas, consolidando-se como uma atividade rentável, para grande e pequenos criadores, comerciante de gado e o grande número de trabalhadores da atividade.


Na década de 50, ocorreu no Sudoeste a intensificação dos desmatamentos, para a formação de pastagens e surgia em paralelo uma agricultura de mercado. Graças a pioneiros, que vieram, sobretudo, do Triângulo Mineiro e de São Paulo, tiveram início os plantios de arroz de sequeiro, que se multiplicaram por toda a região, abrindo espaços para a implantação de pastagens e conquista de novas fronteiras para a pecuária.


Com o advento de novas práticas e novos cultivos agrícolas, a região logo mostraria todo seu potencial. Nesta época, deu-se o domínio tecnológico dos cerrados, com grandes avanços na pesquisa agropecuária, com a utilização do calcário, para o controle da acidez dos solos, adubos químicos, mecanização agrícola e a diversificação das culturas, com o plantio comercial do milho, feijão, soja e a implantação de pastagens artificiais. O Sudoeste Goiano, impulsionado pelo ideal produtivista e por avanços tecnológicos, começa a se destacar como grande produtor de alimentos e ingressa em nova fase de seu desenvolvimento.


Embora a contribuição da região Sudoeste para a formação de riqueza goiana continuasse diferenciada, o Estado, beneficiado por longos anos do extraordinário impulso  sudoestino, com base na produção de bovinos, agora possuía outro perfil econômico, com o desenvolvimento de novas atividades, em várias regiões de seu território. Todavia, o seu desenvolvimento, em certo período de sua história econômica, muito dependeu das transformações que ocorreram no Sudoeste Goiano, alavancadas pela comercialização do gado e do mercado da carne bovina na região de Barretos e Noroeste Paulista.