Região do extremo isolamento goiano
Em 1982, os municípios de Itarumã,
Itajá e Aporé, no extremo Sudoeste Goiano, constituíam uma espécie de ilha, que
se isolava do plano estadual e se agregava cada vez mais a conjuntura de Mato
Grosso do Sul e da região Noroeste de São Paulo, para onde os goianos destes municípios tinham que se deslocar para adquirir mercadorias
e bens diversos, encontrar opções de lazer e entretenimento e, assim, de lá importavam também modos e costumes. Era freqüente ouvir por ali expressões
populares, completamente diferentes das empregadas pelos goianos, “coisas” das
culturas mato-grossenses e paulista, trazidas pela influência de suas cidades, mais próximas e ligadas por asfalto, a partir da fronteira de Goiás.
A
exclusão dos goianos do seu próprio estado advinha de fatores como
precariedade dos meios de transportes e de comunicação da região com o restante do estado de Goiás, fato notório, que humilhava
e causava revolta das principais lideranças daqueles municípios. O isolamento era
decorrente da falta de
planejamento, organização administrativa, investimentos em infraestruturas,
portanto, por falta de presença do governo de Goiás, naquela região.
O diagnóstico era fácil. O difícil
era mudar em poucos anos esse grave quadro de atraso, de várias décadas. Não
havia estradas que permitissem trafégo regular durante todo ano, entre
Quirinópolis, Rio Verde, Jataí e mesmo Caçu, mais integrada a Goiás, até a divisa
com Mato Grosso.
O município de Itajá possuía um agravante:
tinha sido transformado em estância
hidromineral, pela ditadura militar. Os prefeitos eram nomeados e havia completa
desmotivação política, pela supressão da participação popular e era diminuta a
capacidade de solução administrativa através de seus prefeitos nomeados. A cidade se desorganizou completamente e
atrasou-se no tempo e no espaço.
Em
1983, teve início um período de grandes transformações em Goiás, com a queda da ditadura e o advento do governo de Iris Resende, e especial
atenção foi dada a esta região de Goiás, agora sob o comando de novas lideranças,
eleitas em 1982.
A contribuição do prefeito Valdemar, de Itajá
No
início do governo de Iris Resende, casualmente nos encontramos com o prefeito de
Itajá, Valdemar de Freitas Sampaio, em uma antesala do gabinete do secretário
da fazenda Osmar Cabral. O prefeito estava impaciente com a demora de seu atendimento. Informamos ao secretário sobre
sua presença e este imediatamente o recebeu.
O
prefeito agradecido disse-nos que pelejava sozinho nas repartições do Estado e que
se estivéssemos com disposição para ajudá-lo, ele e a população de Itajá, que precisava muito de ajuda, não iriam disso esquecer. Então, passamos a conversar sobre os
problemas de sua cidade e da região. A partir daquele momento assumimos algumas de suas solicitações e demos solução as mesmas. Logo começaram a chegar pedidos encaminhados pela
primeira dama Marta Simões de Oliveira Sampaio, vereadores, companheiros do
prefeito, populares, cada um com uma demanda. Foi desse modo que uma série de benefícios foram levados a população itajaense.
Ao conhecer a situação política de Itajá constatamos que entre suas principais lideranças haviam divisões
irreconciliáveis, o que nos favoreceu, por uma condição óbvia – a causa que unia. Consegui reunir a todos em torno de um pleito comum na região, com o qual estava comprometido e vinha trabalhando com intensidade, que era conseguir o
asfaltamento da rodovia GO-206, desde Cachoeira Dourada, passando por Quirinópolis, Caçu, até a divisa com
Mato Grosso do Sul.
A nossa presença serviu para aumentar o pode de reinvindicação e evidenciar ainda mais as carências da região. Passamos a discutir as questões locais na Assembléia Legislativa e no Governo. Os assuntos inerentes a luta em defesa da região começaram a ser discutidos de forma veemente, muitas vezes até em clima de tensão e nervosismo.
Jamais poderemos nos esquecer
do ocorrido pouco tempo depois do lançamento das obras de asfaltamento do
trecho Quirinópolis-Caçu, durante uma visita do governador Iris Rezende. Para Caçu se deslocaram lideranças de Itarumã e Itajá, na
esperança de ouvir do governador o compromisso de levar o asfalto até seus
municípios. Como nada se ouviu na sua fala, combinamos ir até as escadas de seu
avião, para interpelá-lo sobre o assunto e reiterar o pedido. Nas proximidades
do avião, encheu-se de lideranças dos dois municípios. Quando o governador se
aproximou, sem que houvéssemos combinado a estratégia, tomou a frente o senhor Orestes de Freitas, um velho líder da região,
para dizer ao governador, em tom veemente, que se o asfalto não chegasse até
Itarumã, que o governador falasse ali, naquele instante, porque iria rasgar o seu título de
eleitor, para não ter mais que falar em política, porque estava desmoralizado.
O governador provocado tomou-se de certa irritação e disse que ainda não podia fazer aquele compromisso, para também
não ficar desmoralizado, se por acaso não tivesse como cumprir.
O ”se” proferido
pelo governador evitou que o título de Orestes fosse ali rasgado, mas não deixou ninguém
satisfeito. Ao entrarmos no avião, percebemos que o governador estava preocupado com o ocorrido, mas nos tranquilizou ao dizer que sua intenção era fazer o
asfalto, era este seu desejo, mas que preferiu não se comprometer. Deixava para falar no momento certo.
A partir daquele momento o governo priorizou os pleitos da região. A luta dos prefeitos e das lideranças se intensificou. Não se falava noutro assunto. Até que, com a ajuda de Mauro Miranda, irmão do governador de Mato Grosso do Sul, Marcelo Miranda, que presidia o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, DERGO, o trecho foi incluído no rol de obras prioriárias, para asfaltamento. Não demorou e os trechos foram licitados e as obras começaram.
Outro fato
interessante aconteceu com chegada do asfalto a Itajá. O prefeito Valdemar, no caso em questão, com medo de ficar desmoralizado não sabia como responder às indagações dos moradores de sua cidade. Aconteceu
que o asfalto da GO-206 chegou ao trevo
da cidade e deveria demandar a Ponte Zeca Pereira, no Rio Aporé, na fronteira estadual, a poucos quilômetros de uma rodovia
asfaltada, no Mato Grosso do Sul. Todo mundo estava esperando por isso, mas, o
governador ordenou que se fizesse primeiro o trecho da Lagoa Santa. A população de Itajá, com
medo do asfalto não passar pela cidade, caiu de cima do prefeito. Ele sem saber
o que responder teve que deixar a cidade, mas teria que voltar com uma boa solução.
O governador e o diretor do DERGO estavam em Cristianópolis, para aonde fomos, na esperança de ter
uma palavra, que minimizasse seu sofrimento. A resposta foi
que de imediato não seria possível atendê-lo. Teve que voltar com o que já tinha – apenas com a promessa. Como juntos
trabalhamos muito e o prefeito teve muita sorte, não ficou desmoralizado, como temia. Acabou levando o asfalto para a
Lagoa, para a ponte Zeca Pereira e também para Cassilândia. Aí valeu a pena.
Para
consertar Itajá, cujas ruas se encontravam tortuosas,
desniveladas, com erosões gigantescas, quarteirões fora do esquadro e uma situação geral de caos
urbanístico foi preciso muita competência e dedicação do prefeito Valdemar de
Freitas Sampaio, que como engenheiro deu enorme contribuição para a
reestruturação física e para a organização administrativa daquela cidade. O prefeito Sebastião de Freitas Neto, seu sucessor, também deu significativa contribuição para aperfeiçoar a cidade, em seu aspectos físico estrutural e socioeconômico.
Os
municípios de Itarumã e Aporé tinham problemas semelhantes aos de Itajá, mas suas lideranças souberam participar do especial momento de desenvolvimento por que
passou o estado e reencontraram o caminho do progresso.
O município de Itarumã era administrada pelo prefeito Fiíco, que precisava de um forte apoio para asfaltar a maioria das ruas da sua cidade. Fomos procurados pela liderança que ali sempre nos apoiava, o popular Índio, para levar este pleito ao Governador. Com o respaldo do diretor Mauro Miranda conseguimos a aprovação do pedido. Itarumã, além de ficar ligada por asfalto a Caçu e Itajá, conseguiu mudar seu perfil urbanístico.
Aporé
tinha uma arrecadação de impostos muito alta, mas o prefeito Adão Alves dos
Santos era de oposição e não conseguia deslanchar sua administração. Sua vez
chegou quando em companhia do prefeito Valdemar, de Itajá, fomos a Uberaba acompanhar o governador
em um evento, onde era homenageado. Em uma conversa rápida o governador nos
disse que precisava fazer alguma coisa por Aporé, de onde vinham tantos
recursos para o tesouro estadual, mas não via como viabilizar, pela falta de
parceria com o prefeito. Combinamos então agir, para resolver o impasse.
Primeiro o prefeito Valdemar foi a Aporé conversar com o Adão, que se mostrou
receptivo. Marcamos uma audiência dele com o governador e voltamos para
comunicar resultados para a população. A sorte de Aporé então mudou e nunca se viu
tantas obras de uma só vez, por lá. Terminal rodoviário, ponte sobre o Rio
Aporé, rede de água tratada, melhorias do sistema telefônico, asfalto nas ruas, casa populares
e muitos outros benefícios.
A
conquista do asfaltamento em toda extensão da GO-206 possibilitou sua
transformação em uma artéria de grande poder para oxigenar e revitalizar aquele
espaço isolado, ao possibilitar fácil circulação de mercadorias e escoamento de
suas riquezas, o que fez acelerar o crescimento econômico regional, com resgate
da autoestima
da população daquelas comunidades. Na esteira desta conquista vieram
investimentos sociais, infraestruturais e produtivos, dos governos estaduais,
das prefeituras e da iniciativa privada. Houve um maior fluxo de notícias goianas
naqueles municípios, com a circulação de jornais, sinais das emissoras de
televisão da capital goiana, melhorias da comunicação por telefones, pela
expansão destes serviços. Somando-se aos demais benefícios que o governo goiano
propiciou, mudou-se o perfil de interação econômicosocial e cultural dos municípios desta região,
fortalecendo o sentimento da goianidade de suas populações.
Era
um grande desafio, que assumimos e vencemos, em dois mandatos, honramos a expressiva
votação que recebemos na região. Com dedicação, trabalhamos diuturnamente, conduzidos
pelo ideal de servir, ao lado de prefeitos idealistas e lideranças valorosas,
que ficarão definitivamente na história destes municípios, por participarem de
um processo de transformação de uma realidade, que teve o significado de
redenção regional e de resgate desse rico rincão, dos vales dos rios Aporé,
Verdinho e Corrente, reintegrando-os de forma completa, como expressivos e
valorizados municípios goianos.
Pode se afirmar que,
pelas inquestionáveis mudanças ocorridas na região, entre 1983 e 1989, nos
governos de Iris Rezende Machado e Henrique Santillo, a referida região deixou de ser do extremo
isolamento goiano e que os municípios de Itajá, Aporé e Itarumã foram
definitivamente integrados ao Estado de Goiás. Por justiça é preciso ressaltar
a boa vontade de Mauro Miranda, à época Diretor Geral do DERGO, que tinha
grande entusiasmo pela região e que muito nos ajudou na definição dos pleitos com o governador Iris Rezende.
Principais benefícios
conquistados pelo nosso efetivo trabalho, junto ao governo estadual, em
parceria com os prefeitos Valdemar de Freitas Sampaio, de Itajá, Adão Alves dos
Santos, de Aporé e de importantes lideranças da região, que também atuaram
naquela época, cujos nomes pedimos permissão para não citar, para não correr o
risco de alguma omissão, até pela impossibilidade de lembrar o nome de todas,
neste momento.
Itajá
Asfaltamento
da GO-206 no trecho Caçu-Itarumã-Itajá;
Obras de arte e compromisso
de asfaltamento da GO-206 entre Quirinópolis e Caçú;
Ligação
asfáltica para Aporé, pelas imediações de Cassilândia-MS;
Ligação
asfáltica para Lagoa Santa;
Ligação
asfáltica para MS, via Ponte do Zeca Pereira;
Duplicação
da rodovia de acesso à cidade;
Construção
de bueiro Ribeirão São João;
Ampliação
de rede de energia elétrica urbana;
Parceria
para construção de 20.000 metros quadrados de asfalto urbano;
Parceria
para construção de redes pluviais;
Construção
de rede energia elétrica para Olaria da Fumaça;
Construção
de um ginásio de Esportes;
Instalação
do DETRAN;
Construção
da ponte Zeca Pereira, no rio Aporé;
Perfuração
de poço artesiano e rede de distribuição de água de Lagoa Santa;
Construção
do Terminal Rodoviário;
Doação
de uma viatura policial;
Módulo
esportivo com alambrado e vestiário;
Criação
do Distrito Termas do itajá, que deu origem ao município de Lagoa Santa.
Aporé
Construção
de Terminal Rodoviário;
Implantação da rede
de distribuição de água;
Ligação
asfáltica para Itajá, pelo trevo para Cassilândia-MS;
Construção
de ponte sobre rio Aporé;
Doação
de 20.000 metros quadrados de asfalto urbano;
Expansão e melhorias
do serviço telefônico.
Itarumã
Asfaltamento
dos trechos da GO-206, para Caçu e para Itajá, até a divisa com MS;
Implantação de asfalto urbano, beneficiando todas as ruas da cidade;