sábado, 21 de janeiro de 2012

Coronel Jacinto Honório e a cidade de Quirinópolis

Coronel Jacinto, à esquerda, 
e seu amigo Pedro Ludovico, em 1945

Origem e chegada à Capelinha

      No final do século XIX e início do século XX,  vieram  para  a Capelinha, hoje   Quirinópolis, várias famílias em busca de terras para a criação de gado, cujo comércio se intensificava em São Paulo. 

        Nesta época chegou a família de José Quirino Cardoso, procedente de Passos (MG), onde nasceu em 1870,  pai da jovem Ana Francisca Andrade Cardoso.

       Em 1906, chegou a família do senhor José Jacintho da Silva, procedente de Ibiraci (MG). após comprar a  propriedade do Coronel Quintiliano da Silveira Leão, que se localizava na margem direita do rio São Francisco e que abrangia as vizinhanças  do Paredão, local que se tornou berço de sua família.

       Nesta mesma época, Jacinto Honório  da Silva, filho de José Jacinto da Silva,  veio de Franca  (SP), aos 19 anos,  para casa-se  com a jovem  Ana Francisca  Andrade  Cardoso, filha do Coronel José Quirino,  e estabelece a união das duas famílias.

         Em 1911, ao lado do sogro, o jovem Jacinto Honório começou a trabalhar pela organização da comunidade da Capelinha, ao integrar, como tesoureiro, a Comissão de Fundação da Igreja Matriz, que se tornaria no marco principal da fundação da cidade.

          Faziam parte da comissão, o presidente Padre Mariano, vice-presidente José Quirino Cardoso e o velho coronel Antônio Rodrigues Pereira,  que destacou a luta do jovem Capitão Jacinto Honório, pela sua dedicação à arrecadação de fundos, inclusive em terras mineiras, pedindo  que constasse em ata da fundação da igreja um voto de louvor pelo seu trabalho..

          Em 1919,  poucos meses antes da inauguração da igreja pela qual tanto se dedicou, vítima de um atentado violento, desaparecia a figura do influente líder José Quirino Cardoso, aos 49 anos, que marcou sua passagem como juiz distrital, grande pecuarista e agente ativo do desenvolvimento do Distrito de Nossa Senhora D'Abadia do Paranaíba. 

    Com a morte do sogro, em ordem natural de sucessão, crescia a influência do agora Coronel Jacinto, que à época já era considerado um respeitado líder comunitário.

 Relação com Pedro Ludovico

    Em 1930, no plano nacional, o candidato Júlio Prestes, de São Paulo, apoiado pelo presidente Washington Luís,  enfrentou Getúlio Vargas, do Rio Grande do Sul, para presidente da República. Júlio Prestes foi eleito, mas não assumiu. Um golpe de Estado derrubou Washington Luís e Getúlio Vargas assumiu a presidência da República, com o apoio do governador Benedito Valadares, de Minas Gerais, e dos tenentes (alguns deles ex - integrantes  da Coluna Prestes). O golpe consagrou-se como “Revolução de 1930.”

       Na mesma época,   em sintonia com o governo mineiro, ocorreu em Goiás o movimento revolucionário da Aliança Liberal liderado pelo Dr. Pedro Ludovico. Este se desenrolou inicialmente em terras quirinopolinas, com apoio político da família do quase centenário coronel Antônio Rodrigues Pereira e, principalmente, de coronel Jacinto Honório da Silva.
          
         O apoio do coronel Jacinto Honório foi importante no processo de implantação da revolução da Aliança Liberal por fortalecer o Dr. Pedro Ludovico Teixeira, em seu objetivo de desbancar do poder o Senador Antônio Ramos Caiado, o Totó Caiado, chefe político da Província, desde 1910, e o seu intendente Frederico Gonzaga Jaime, em Rio Verde. Este apoio rendeu o reconhecimento e a gratidão de Dr. Pedro, logo elevado à condição de interventor em Goiás.

Apoio  ao desenvolvimento de Quirinópolis

         Em 1931, a Câmara Municipal de Rio Verde, com o respaldo  do Coronel Jacinto, resolveu mudar o nome do distrito para Quirinópolis, em reconhecimento ao valor do antigo líder José Quirino Cardoso e sua família. Nesta época, o distrito já contava com boa estrutura urbana, estava ligada por estradas ao resto do país e entre sua população havia pessoas de formação universitária, como o médico Sizenando Martins e o farmacêutico Gilberto D'Aparecida Ferreira, que aqui residiam e trabalhavam.

         Em 1937, o Coronel Jacinto Honório reuniu-se com os principais líderes do povoado, ocasião em que o médico Sizenando Martins lançou a ideia da emancipação, hipótese imediatamente aceita pelo coronel e colocada ao público. Em 1940, dava-se o início às obras da cadeia e do alojamento para os soldados sob a administração do farmacêutico Gilberto D'Abadia Ferreira, com o apoio financeiro do Coronel Jacinto, e a colaboração do fazendeiro Antônio Estevam de Oliveira,  fato que fortaleceu o movimento pela emancipação.

           Em 1942, após a inauguração destas obras,  o líder Jacinto Honório deu ao senhor  Adolfo José D'Abadia a missão de levar uma carta ao Dr. Pedro Ludovico pela emancipação do distrito, dado que o escolhido era amigo do interventor, desde época em que eram estudantes secundaristas, no Rio de Janeiro. Na carta, o Coronel evidenciava o desenvolvimento alcançado pelo Distrito, expressava seu desejo de vê-lo emancipado e consultava sobre a necessidade de se constituir um advogado para acompanhar o processo. Em resposta, o interventor disse que ele próprio seria o advogado da causa e que no momento oportuno Quirinópolis seria emancipada. Não tardou, em 31 de dezembro de 1943, a promessa foi cumprida. Em 22 de janeiro de 1944, deu-se a instalação do município. O coronel incumbiu-se de todas as providências para a consolidação do novo município, ao solicitar as nomeações dos primeiros prefeitos e conceder total apoio as suas administrações.

                Com o fim da era Vargas foram realizadas eleições para os governos estaduais. Em Goiás deixou o poder o Dr. Pedro Ludovico, mas em Quirinópolis continuou grande a influência do coronel Jacinto Honório. Em sua residência, que ficava nas proximidades do Rio São Francisco, no caminho para as regiões do Paredão e das Sete Lagoas, realizavam-se reuniões frequentes, onde tomava-se as principais decisões de interesse da comunidade quirinopolina.

O domínio do Coronel

              O Partido Social Democrático, PSD, mantinha-se no poder por longos anos, sob a influencia do poderoso líder. Na prefeitura, sucediam-se seus amigos e correligionários. Entre eles Garibaldi Teixeira e Hélio Campos Leão, respaldados pelo voto popular. 

               Este último, em 1954, ao perceber o crescimento das oposições, dirigiu-se a fazenda do coronel Jacinto o prefeito Hélio Leão para consultar o velho chefe, então presidente do PSD, sobre seu plano para anular a ameaça oposicionista nas eleições que se aproximavam. O plano consistia em seu afastamento para que João Batista Rocha, então presidente da Câmara, um aliado do Partido Trabalhista Brasileiro, PTB, que tinha possibilidade de se tornar um  candidato a prefeito, assumisse a prefeitura e se tornasse inelegível, evitando assim uma divisão de forças aliadas e a eminente derrota, para a União Democrática Nacional-UDN. O plano foi aprovado e desta forma foi lançada a candidatura de Joaquim Quirino de Andrade, do PSD, um cunhado do coronel, derrotando o forte João Gonzaga Jaime, da UDN.

Em 1958, aos 71 anos, desaparece o grande líder e benfeitor

    O coronel Jacinto Honório foi pioneiro, grande líder e benfeitor de Quirinópolis, além de ter sido o mais importante dos coronéis da região. Era rico fazendeiro, homem de muitos negócios e grande comerciante de gado. Seu conceito diante da população era o de um líder honesto e respeitado chefe político regional. Assumiu com responsabilidade os grandes desafios públicos da cidade, desde os primeiros dias de sua fundação. Foi o grande condutor da emancipação do município e cuidou incansavelmente das etapas de sua  consolidação,  até que alcançasse a dimensão que alcançou, na plenitude de seu desenvolvimento. Enquanto viveu comandou de forma altaneira e soberana a política quirinopolina, sem dar chances aos seus adversários.   Em 1958, aos 71 anos, o coronel Jacinto veio a falecer. Sua história, todavia, confunde-se com a história da cidade que ajudou a construir.

           Por  Ângelo Rosa Ribeiro é  natural de Quirinópolis,  foi professor da EV-UFG, deputado estadual por dois mandatos, secretário estadual de agricultura e abastecimento, secretário estadual de planejamento e coordenação, diretor de crédito agroindustrial do BEG, superintendente da SEMARH-GO, chefe de gabinete da PGE-GO, residente e produtor rural em Quirinópolis-GO.

        Referencias:
            
            Barbosa, Eurico. Pedro Ludovico: A Mudança Revolucionária. Edotora Cerne, Goânia - Goiás, 1944.

            Campos, Onildo. Rio Verde Histórico. Edigraf,  São Paulo - SP, 1971.

            Ludovico,   Teixeira Pedro, Memórias. Editora Cultura Goiana, Goiânia - Goiás.
 
            Sagin Junior, Odir e Sagin, Mirian Botelho. Quirinópolis Histórico. Editora O Popular, Goiânia-Goiás, 2000.

             Depoimentos de Hélio Campos Leão, José Quirino da Silveira e Francisco Rosa  Ribeiro.



 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Clarões: Desdobramentos da audiência de Paranaiguara

Um pacote de obras para Quirinópolis

            Após aquela movimentada manhã de audiências, em Jataí, voltei para Goiânia. Tinha muitos compromissos agendados para a segunda-feira. Não sabia qual a decisão do Governador sobre a questão das obras de asfaltamento das  GO 164 e 206, para Paranaiguara  e para Caçu. Nem bem acabava de chegar, quando o meu telefone soou. Era o Governador Iris Rezende me pedindo para dar uma chegada no Palácio, se possível naquele momento.

            Quando me viu, foi logo dizendo: “Olha deputado, não podemos fazer uma crueldade com aquela gente de Paranaiguara. Há quanto tempo eles esperam. Eu nunca vi homens sérios, como aqueles, ajoelhados, diante de nós a clamar, daquela forma. Olha, chamei você aqui para  lhe falar que tomei uma decisão:  não tenho condições de fazer as duas estradas, ao mesmo tempo. E não posso deixar de atender Paranaiguara. Se isso acontecer, nem podemos voltar lá.  Se tornarão  nossos inimigos.”

            E continuou: “O prefeito Sodino me pareceu tenso lá em Jataí. Quero que  você converse com ele e com  seus companheiros lá de Quirinópolis. Eu posso faze outras obras. Vá e veja o que consegue. Ajude a resolver isso.”

            Após ouvir o governador, ponderei: “A população  espera pelas duas  obras...” Antes que eu prosseguisse ele colocou ponto final no  assunto: “Vai e diz a eles que os receberei para conversar.”

            Viajei imediatamente para Quirinópolis. Às 21h30  estava na casa do prefeito e lhe relatei toda a conversa. Ele ouviu e disse que já não estava satisfeito com a audiência, agora piorava. Disse que  não estava querendo procurar o Governador, mas ia consultar os companheiros, para ver o que fazer. Evitei, num primeiro momento, colocar lenha na fogueira, porque seria pior.

            Voltei para Goiânia na manhã seguinte. A questão começou a ser discutida em Quirinópolis. As máquinas da empreiteira contratada deixaram Caçu, por ordem do DERGO. O quadro não era bom. Fui convidado para uma reunião extraordinária em Quirinópolis, para tratar do assunto. Nela, procurei ser fiel aos fatos. Falei dos acontecimentos  relativos à audiência de Paranaíguara. Disse da intenção do Governador, em nos atender em diversas reivindicações, inclusive na construção das obras de arte da estrada para Caçu, com vistas a asfaltamento,  no final de seu governo.  Na sua disposição de construir aqui um estádio de futebol, nos moldes de um que se construía em Ceres, pois este era um dos pedidos, que tinha sido feito em Jataí, mas sem nenhuma definição. Ao final da reunião o tom era o do entendimento.
Alguns  dias depois,  as lideranças de Quirinópolis estavam  no Palácio. Como era muita gente,  a reunião foi realizada no Salão Verde. O Governador estava visivelmente preocupado com o desenrolar dos acontecimentos. Falou com prudência, mas os companheiros estavam decepcionados e desalentados, com a mudança de rumos. O Dr. Athaídes foi o  mais duro com o Governador, ao perguntar-lhe se os companheiros poderiam confiar nessa nova conversa, a ponto de voltar para o município e garantir para a população que aquelas obras sairiam mesmo.  

            A reunião não se deu em clima ameno, mas alguns pontos ficaram acertados, como o início  urgente das obras de arte da GO-206, com vistas ao asfaltamento futuro. As demais obras seriam acertadas posteriormente.

            Apesar das conversas ouvidas em palácio,  os companheiros voltaram para Quirinópolis com dúvidas. Mas foram logo dissipadas. Deu-se  o início do asfaltamento da rodovia para Paranaíguara. As principais  obras de arte e  melhorias no trecho para Caçu tambem foram  iniciados. O estado e a prefeitura firmaram parceria para viabilizar a construção do estádio olímpico. Além disso, estava mais que definido um compromisso para o futuro, pelo asfaltamento da GO -206 para Caçu.

Foram dias de muita ansiedade e estresse. Mas,  o mau humor reinante  na reunião de Jataí, logo  se transformaria em grandes alegrias, com o rush de obras estaduais  em execução no município de Quirinópolis.

HISTÓRIA DA UEG DE ITAPURANGA

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                                     Criação e Instalação da UEG de Itapuranga

            A UEG de Itapuranga surgiu precedida de uma série de acontecimentos de natureza política. Era candidato a deputado estadual, quando fui convidado para uma reunião, na casa do candidato a prefeito Tito Coelho Cardoso, com cerca de duzentos estudantes secundaristas. A iniciativa era do então prefeito Warner Carlos Prestes. Visava estreitar sintonia com a juventude, para melhor conhecer suas aspirações e fortalecer minha campanha eleitoral, bem como a do  candidato a prefeito,  que era seu amigo.

             Enquanto Maria Zélia Cardoso preparava um caprichoso arroz com galinha, eis que chega o momento da palavra. Coube ao prefeito Warner Carlos Prestes abrir a reunião. Fui surpreendido com sua garantia de que comigo a cidade ganharia a sua faculdade. Era uma jogada esperta, daquela velha raposa política, para agradar a juventude. Ora, ninguém poderia pensar em ensino superior fora do eixo Goiânia-Anápolis. Muito menos, lá em Itapuranga, aonde, nem asfalto tinha chegado. Aquela promessa me causou uma enorme dificuldade. Daquele dia em diante, em toda concentração pública, sempre se dava corda àquele assunto, até porque outros oradores aprenderam, com o prefeito, que o mesmo agradava o povo.

       Tito Coelho Cardoso devido a uma dúvida com relação a sua filiação partidária tornou-se inelegível. Para a disputa foi escolhido João Batista da Trindade, então candidato a vereador, que foi registrado no apagar das luzes do prazo legal. Veio a eleição e fui eleito com 16.000 votos, destes 4.000 foram de Itapuranga. O assunto rendeu votos, logo, aumentava a minha responsabilidade.

      Nos primeiros dias da nova administração só se falava em infra-estruturas. Combinamos com o novo prefeito João Batista da Trindade que devíamos concentrar esforços neste sentido. A prioridade  era levar o asfalto até a cidade. 

       Mas os bons ventos sopravam para aquelas bandas. Em tempo menor que o esperado, o governo de Íris Rezende Machado construiu o asfalto de Itaberaí a Itapuranga. Para inaugurá-lo, as lideranças locais planejaram uma grande caminhada, desde o novo trevo, na entrada da cidade, ao longo de uma bela avenida, recém-construída, até a praça central. No dia da festa de inauguração, nunca se viu tanta gente. E lá chegava o Governador, em acenos para a multidão, ao seu gosto e estilo, como previsto, em percurso quilométrico, pela Avenida Perimetral e demais, até o palanque, carregado pela multidão presente.


             Então, naquele momento, Deus se fez presente e atuou em meu favor - mandou que o governador me perguntasse: "Deputado, que obra deveríamos providenciar, em retribuição a todo esse carinho? Nem titubiei: " É o anúncio da faculdade, Governador," respondi na hora. "Você precisa garantir que vai trazer faculdade". A professora Edna Trindade, esposa do prefeito, estava logo na minha frente e foi a primeira a vibrar com minha atitude. A promessa da faculdade saiu no discurso do governador e provocou uma explosão de contentamento.

             O tempo ia passando e assunto não evoluiu. Como estava no centro desta questão, acossado pelas lideranças locais, preparei um projeto de lei, em que criava a FECLITA – Faculdade de Ciências e Letras de Itapuranga, aos moldes da já criada FECLQ – Faculdade de Educação Ciências e Letras de Quirinópolis. A propositura foi aprovada pelos meus pares na Assembléia Legislativa e, em seguida, com o apoio do secretário de educação estadual Ademar Santillo, foi convertida em iniciativa governamental.

      O governador Íris sancionou a lei, mas deixou o Governo sem implantar a faculdade. Assumiu Onofre Quinan, que deu sua contribuição, ao nomear Edna Maria Trindade, professora e primeira-dama do município, como diretora, e ao doar os móveis necessários para sua instalação.Pouco depois Henrique Santillo se elegeu governador. Fui reeleito deputado e queria voltar à cidade, mas antes quis saber dele, o que deveria falar sobre o assunto. Então, bem ao seu estilo ponderou: "Chega de improvisação. Vamos criar uma superintendência de ensino de terceiro grau, para cuidar desse assunto. Depois vamos realizar um grande trabalho nesta área. Aí, implantaremos a faculdade. Pode avisar aos companheiros". E avisei.

          Nesta época, começou em Goiás um forte movimento contra a criação de novos cursos superiores no interior e tinha origem nas instituições de ensino da capital, de onde saiu o secretário de educação Heldo Mulatinho, professor ligado aos referidos setores. Alegavam que o estado não tinha condições para oferecer a estrutura necessária aos novos cursos e que o nível de ensino iria cair. O Governador decidiu então priorizar apenas os processos já prontos, até aquele momento, suspendendo os demais. 


         Mas, aí estava o problema. O processo de Itapuranga não estava pronto, porque ficou preso na burocracia sustentada pelo próprio secretário. Então, chamei o prefeito e sua esposa e comuniquei-lhes o fato. Não poderíamos deixar o sonho acabar. Depois, saímos à procura do professor França, o superintendente da área, que também defendia a idéia da interiorização do ensino superior. Ele resolveu desenvolver o processo em sua casa, evitando confronto com o secretário e desgaste ao Governador. Assim, com a ajuda da professora Edna, o processo de criação da faculdade rapidamente ficou pronto e, em seguida, aprovado pelo Conselho Estadual de Educação. Dali, foi ao gabinete do Governador, que resolveu encaminhá-lo ao MEC, onde estavam os demais.


      Ao saber da notícia chamei o prefeito João Batista e combinamos uma nova estratégia. Ele marcaria uma audiência para tratar de outros assuntos e encaminharia, para o meu gabinete, todas as lideranças de Itapuranga, que pudesse reunir, por aquela causa. Acertamos que na audiência, com o governador, só seria tratado esse assunto, nenhum outro. E que, então, seria tudo ou nada, sob pena de ocorrer um rompimento com o mesmo.

          No momento da audiência, o governador descobriu que o assunto não era o de pauta, mas não podia nos dispensar. Logo mandou me chamar, para que lhe explicasse como tramitou o processo de Itapuranga e porque diferenciava dos demais. Vi que não estava de bom humor, nem gostava do assunto, mas respondi que não havia diferença. Ele não se conformou e em tom nervoso, mandou chamar a Diretora Edna, para lhe afirmar que o processo de Itapuranga tinha atrasado em sua tramitação e não estava em pauta.  Aí a briga começou, porque Edna era do estopim curto e responsabilizou o secretário de educação Helder Mulatinho, transferindo-lhe a culpabilidade, por eventual diferença de tramitação. Após a entrada da Edna, entrou o Batista, mesmo sem ser chamado. Veio para socorrer a esposa e ai o caldo engrossou. Depois de alguns minutos de discussão, ou melhor, de briga mesmo, entrei de novo na questão, para ponderar que havia mesmo o compromisso, mas que Itapuranga poderia esperar um pouco mais, para fazer o seu vestibular. Fez-se um momento de silêncio. O governador, então, perguntou, se isso era possível. Respondi que sim, para atender as partes. Henrique Santillo então se levantou e nos deu o sim tão esperado. Em seguida abraçou-se ao prefeito e a professora Edna e nos convidou para ir ao encontro das lideranças, que esperavam pelo desfecho na sala anexa. Ali, fez um pouco de suspense, em tom de brincadeira, antes de pedir um pequeno prazo, para melhor preparar a estrutura para a faculdade, sob os aplausos e a emoção dos presentes. Neste momento, a diretora Edna definiu que o vestibular da FECLITA se realizaria daí a seis meses, o que de fato se concretizou.

            Passaram se poucos dias até que Santillo viajou para Quirinópolis, para anunciar o funcionamento da FECLQ. Lá se referiu aos desdobramentos de Itapuranga. Disse que o deputado Ângelo Rosa vinha ajudando muito a educação em Goiás e que era como o mineiro, trabalhava em silêncio, "até sub-repticiamente," para conseguir benefícios para suas comunidades.. Mas, de fato, eu sabia que os mineiros estavam mesmo em Itapuranga, sem a ajuda dos quais, não poderia estar relatando estes fatos históricos.

             Ângelo Rosa Ribeiro foi professor da EV-UFG, ex-deputado e ex-secretário estadual da Agricultura e ex-secretário estadual do Planejamento e Coordenação.

Origem e feitos de Francisco Rosa Ribeiro



Origem e Feitos de Francisco Rosa Ribeiro

Francisco Rosa Ribeiro, o Chico Preto, como é conhecido, nasceu em 05/10/1915, na região das Sete Lagoas, Distrito de N. S. D’Abadia do Paranaíba, hoje Quirinópolis. É filho de Sebastião Ovídio Ribeiro e Josina Rosa de Morais.  Eram seus avôs, pelo lado paterno, Antonio Ovídio Ribeiro e Sebastiana Rita de Jesus, que vieram de Prata - MG, para trabalhar em terras do Coronel Jacinto Honório. Pelo materno, Francisco Rosa de Morais, pioneiro das Sete Lagoas, descendente de portugueses e originário de Araxá - MG, que aqui chegou em 1860, aos 18 anos, para se juntar a Ana de Jesus Morais, filha da ex-escrava Brígida, que pertencia a escravaria do João Crisóstomo de Oliveira, o primeiro desbravador desta região. O apelido Chico Preto veio para diferenciá-lo de Chico Rosa, seu avô, e de um primo, que eram brancos. 

Francisco Rosa Ribeiro tinha apenas nove anos, quando perdera seu pai. Como era o filho mais velho, ajudou sua mãe a criar seus irmãos - Azarias, João, Maria Luca, Luzia e Cristiano, todos de assinatura Rosa Ribeiro. Com eles cuidavam do gado, das plantações e de outras atividades da fazenda. O Chico Preto desenvolveu sua habilidade como líder da família e se fez respeitado pelos irmãos, amigos e companheiros.  

Aos 35 anos, após uma longa jornada de vida bem intensa, casou-se com Olina Alves Rodrigues, uma garota de 17 anos, que era filha de Benedito Gonçalves Rodrigues (Benedito Carlota) e dona Olímpia Alves Rodrigues. Portanto era neta do casal Pedro Gonçalves Rodrigues (Pedro Cecília) e dona Carlota Correa Neves, pelo lado paterno. A índia Maria Alves Rodrigues era sua avó, pelo lado materno. Do casamento citado resultaram os filhos Ângelo, Aldo, Anádio e Arnaldo Bartolomeu.

Chico Preto, em 1960, era um modesto criador de gado e produtor de leite. Por um determinado tempo, no início dos anos 70, dedicou-se a agricultura, ao plantio de arroz de sequeiro, mas devido as constantes frustrações de safras, por falta de chuvas, teve que abandonar a lavoura, plantando capim em seu lugar. Como a sua principal atividade era o comércio, podia se dizer, então, que ele era um comerciante da zona rural. Todavia, tinha uma grande paixão: a política. E com o passar dos anos se fez um influente líder político. Antes mesmo de se casar, já era um militante. Foi coordenador de campanhas de candidatos a prefeito e membro do PSD – Partido Social Democrático.  Era amigo e companheiro político dos ex-prefeitos Joaquim Quirino Cardoso e Hélio Campos Leão, já falecidos. Este último, uma legenda política, que por três vezes administrou o município, em suas etapas de estruturação, tornando-se o seu grande benfeitor. 

            Como político Chico Preto sempre discutia com seus amigos os problemas da região e a forma de resolvê-los.  Foi o principal articulador das campanhas eleitorais dos representantes da região. Ajudou seus companheiros Cory Andrade Oliveira e João Vieira Neto a se elegeram vereador, cada um por dois mandatos consecutivos e Valdemar Rosa Martins, por um mandato. Chico Preto também ajudou a eleger como vereadores seus filhos, Anádio Rosa Ribeiro, por um mandato e Aldo Rosa Ribeiro, por duas legislaturas. Com seu apoio, o filho Ângelo Rosa Ribeiro se elegeu deputado estadual em 1982 e 1986, consecutivamente. Este chegou a ocupar por duas vezes o cargo de secretário estadual de agricultura e de secretário estadual de planejamento e coordenação, nos governos de Henrique Santillo e Naphtaly Alves. O Chico Preto, pela sua origem humilde, muito se orgulha de ter como o filho o primeiro deputado de seu partido filho de Quirinópolis e  o primeiro a ocupar cargos de primeiro escalão no governo de Goiás.

          Sua luta política resultou em importantes conquistas para a região das Sete Lagoas, como abertura e conservação das estradas, construção de pontes, escolas, assistência a doentes, prestação de serviços, através da contratação de dentistas, apoio ao esporte e tantos outros benefícios. Em sua fazenda, construiu e manteve, com ajudas de pais de alunos, por vários anos, uma escola rural particular, onde os professores José Freire dos Santos, João Barreto de Souza, Ivani Borges Costa e Mário Marques de Almeida puderam ajudar mais de 100 alunos a conquistar a tão necessária alfabetização e os conhecimentos das disciplinas do ensino primário.   

            Em 1961, apoiou o candidato João Hércules, que se elegeu prefeito municipal e recebeu dele operários, máquinas e a missão de abrir, pelo meio de espessa mata,  a rodovia que liga o povoado do Tocozinho à Castelândia, obra a que se dedicou até o seu final.

Em 1965, quando foi indicado, pelos seus companheiros de oposição, candidato a vereador, a repressão à atividade política era escancaradamente exercida, em todo lugar. Em Quirinópolis, também, por aqueles que aqui se aliavam à ditadura militar. Como político, demonstrou coragem e idealismo, aceitando uma missão que criava indisposição com o poder absoluto e autoritário dominante. Em algumas oportunidades participou de sessões da Câmara Municipal, sob cerceamento de militares, que a todos constrangiam.  Eram raros os líderes que na época aceitavam uma candidatura oposicionista, porque temiam as perseguições políticas. Desta forma, exerceu um importante papel na defesa dos ideais democráticos ameaçados aqui e em toda parte do país.  E tudo isso, sem nenhuma remuneração, como era, naquele tempo, a atividade do vereador.


Os anos se passavam, Chico Preto continuava com sua militância idealista e assim se tornou vice-presidente do PMDB de Quirinópolis, mais tarde seu presidente de honra. Repassou aos filhos a paixão pela política e o ideal de servir com alegria, sem nada exigir em troca. Sua esposa Olina Alves Ribeiro, sempre o acompanhou e sente-se orgulhosa pela luta de seu esposo e seus filhos, pelo prazer que todos sentem ao servir aos seus semelhantes, sobretudo aos necessitados, pelos quais sempre dedicou sua atenção. Desde que estão juntos, o casal nunca deixou de participar de atividades político-partidária. A sua casa esteve sempre cheia de gente, como seus filhos, parentes, amigos e, claro, os seus correligionários. Na hora das eleições ninguém ficava em cima do muro. 

Em 2002, descontente com a forma de atuação de seu partido e diante de divergências incontornáveis com a cúpula local do mesmo, ainda na coordenação política da família, decicidiu sair com os filhos da agremiação e apoiar o candidato a reeleição Marconi Perillo. Em seguida, à pedido deste, filiou-se com sua família no Partido da Social Democracia Brasileira, PSDB, onde permaneceu fiel até seus últimos dias de vida.

Como homenagem aos pioneiros, Chico Preto sempre dizia: “Só quem conheceu a região, como conheci, toda coberta de extensos cerrados e matas, tão atrasada e improdutiva, pode imaginar todas as dificuldades, sofrimento e os temores porque passaram os pioneiros, porque, naquele tempo, o desconhecido dominava e representava uma ameaça constante. Um mundão a perder das vistas, coberto de cerrados e matas, com gente sem instrução e informação, sem novidades e que pouco produzia. Era preciso viver, tanto quanto hoje é preciso, mas não existiam vacinas, médicos, farmacêuticos, disponibilidade de remédios e outros recursos. Quando muito curandeiros e parteiras. Diante de cobras, bichos ferozes, acidentes graves, doenças perigosas e outras adversidades muitos perderam suas vidas e quase nada se podia fazer, além de pedir a proteção de Deus. 

       Para modificar aquela realidade muitos companheiros doaram suas vidas. Por isso é possível avaliar o tamanho da contribuição que estas famílias e seus descendentes deram, ao longo de muitos anos, para que o município chegasse aonde chegou, com todas as facilidades que hoje nele existem. Dado as dificuldade enfrentadas, penso que mereciam ser lembrados e homenageados todos os pioneiros, benfeitores, moradores e trabalhadores daquela época, diante de seus descendentes e familiares”.

Veja ainda neste blog:

1) Lembranças da "Venda do Chico Preto"
2) A abertura do rodovia Tocozinho a Castelândia
3) Clarões: Contos do Chico Preto
4) Uma cidade de valentões
5) Primeiros Moradores de Quirinópolis (incompleto)
6) Morre ex-vereador Francisco Rosa, de Quirinópolis
7) Chico Rosa, 1870, um pioneiro das Sete Lagoas



História de Paranaiguara (GO) - Ex - prefeito ajoelha-se diante do Governador

De joelhos, pelo asfaltamento da GO-164 


            O asfaltamento da GO-164, no trecho entre Quirinópolis e Paranaiguara era obra que vinha se arrastando desde os tempos do Governador Ari Valadão, pois foi uma das primeiras estradas do Sudoeste Goiano a ser incluída no programa do BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento, para ser asfaltada. Naquele momento era irreversível sua execução, mas os companheiros de Paranaiguara não estavam tão certos disto.

 O tempo ia se passando e agora só se falava em asfalto para Caçu, pois a estratégia das lideranças de Quirinópolis seria justamente conseguir as duas obras. Ambas estavam licitadas e contratadas, contudo a empreiteira, do trecho para Caçu, resolveu se antecipar - as máquinas já estavam estacionadas na entrada daquela cidade, para dar início às obras.

Este momento coincidiu com a realização de um governo itinerante, em Jataí. Para lá foram as lideranças de toda a região. Um dos primeiros municípios a ser atendido foi o de Quirinópolis. Havia razão para uma audiência calorosa e festiva. Afinal, uma grande obra estava começando e a outra não tardaria.

           Chegou a vez de Paranaiguara ser atendida, sob um clima de baixo astral, devido a presença das máquinas para começar o asfalto a partir de Caçu e nada de asfalto para Paranaiguara. As conversas ouvidas dos amigos de Quirinópolis não agradavam. Ao adentrarem a sala de audiência, fiquei retardatário, conversando com alguns líderes daquele município. O governador ia recebendo a todos, mas teve que esperar por dois companheiros que ficaram para trás. Para espanto do governador um deles se posicionava de joelhos. Era o ex-prefeito Cícero Gonçalves da Silva, que desde a entrada da sala assim se deslocava e o outro era o Sebastião Capanema, que o acompanhava.

O governador perturbado perguntou: “Porque isso gente?. "Ao que o Cícero em lágrimas respondeu: "Não é possível Íris, que você vai nos deixar sem o asfalto?  "Temos que ir a Uberlândia, Governador, para chegar até Goiânia. Isso é uma vergonha!” disse o Sebastião Capanema. Alguém, para apimentar, afirmou, naquele instante, que Quirinópolis tinha conseguido trocar o asfalto de Paranaiguara pelo de Caçu. Sem considerar a acusação infundada contra as lideranças de Quirinópolis, era possível entender as razões das lideranças de Paranaiguara. Tinha que ser tudo ou nada.  Não podiam deixar para depois.

Naquele instante percebi que a estratégia usada por aqueles líderes tinha dado certo. Alguém de joelhos, outros atirando para todos os lados, na base do desespero. Foi dramático, mas tinha valido a pena. O pagador de promessa sensibilizou o Governador e seus companheiros conquistaram uma grande vitória. Tal como diz o ditado: de joelho a providência vem, Deus resolve o problema, tira toda contenda, e não tem pra ninguém. Devido àquela audiência o asfaltamento de Quirinópolis para Caçu foi adiado e o da GO-164, para Paranaiguara, sem demora foi iniciado.  

domingo, 8 de janeiro de 2012

A difícil travessia do Rio Paranaíba





A índia Maria Alves e a difícil travessia do Rio Paranaíba
             Em meados do século XVIII, uma indiazinha de apenas oito anos vivia com seu povo Caiapó em liberdade, por campos e cerrados do vale mineiro do Rio Paranaíba. Enquanto passeava com seus pais foi surpreendida por cavaleiros brancos, que a laçaram e a levaram para o povoado de Santa Vitória.  Ali foi entregue a um casal que a ela deu o nome Maria e o sobrenome da família - Alves Gouveia.

              Por toda a região cortada pelo Rio Paranaíba há indícios de civilizações indígenas ou ameríndias, que por ali viveram. Os primitivos habitantes da região foram os Caiapós, que com a chegada dos exploradores de raça branca fugiram para regiões mais isoladas, mas deixaram vestígios como ruínas de cemitérios e objetos exóticos perdidos à margem dos rios Tijuco e Prata, do lado mineiro do grande rio, além de igaçabas ou urnas funerárias, aqui e acolá. Vestígios similares foram encontrados também em sua margem direita, em solos goianos. O historiador Edelweis Teixeira registrou a presença dos Caiapós, em liberdade e aldeados, submetidos aos brancos, na região de Campina Verde - MG.

            Aos 15 anos, Maria Alves Gouveia casou-se com Bernardino Silva Costa, da família dos Panagogos, com quem teve vários filhos. Com o fim desta relação, veio para Goiás em companhia de Joaquim Rufinom e duas filhas muito pequenas, deixando para traz a família de criação. Teve que atravessar o Rio Paranaíba ou rio ruim em linguagem tupi-guarani, de tristes lembranças e tragédias para seu povo para adentrar aos sertões de Goiás a procura de seu cunhado João Rufino, que possuía uma significativa área de terras nas imediações do Ribeirão Castelo, na região da Capelinha, hoje Quirinópolis. Por lá viveram alguns anos, até que o desgaste da união a fez tomar o caminho de volta a Santa Vitória. Seu companheiro insistiu para que ela ficasse, porque gostava muito dela e de suas duas meninas, mas ela não aceitou. O companheiro inconformado disse que não a esqueceria e que se casasse de novo daria o nome de  Diolina e Elina a filhas que tivesse na nova família. Ela não ficou e o Joaquim Rufino cumpriu a sua promessa.

               A viagem de retorno foi feita em carro de bois. Levou consigo sua mudança e suas duas filhas  na companhia de uma amiga.  Ao tentar a travessia do rio em época de cheia, os seus cavalos foram arrastados e os quatro filhos de sua companheira foram levados pela forte correnteza. Com habilidade, a índia nadou e conseguir salvar três destes, ancorados sobre as moitas de ramos das várzeas invadidas pelas águas daquela grande enchente.
            Maria Alves Gouveia assim retornou a Santa Vitória, onde voltou a viver em companhia de Bernardino Silva, da família dos Panagogos. Nesta época nasceu Olímpia Alves, esposa de Benedito Gonçalves Rodrigues, avós maternos deste escriba.
 Passados alguns anos, o seu filho mais velho, José Alves ou Zequinha Alves, que era tido como meio louco, planejou buscar sozinho os sertões de Goiás. Chegou às margens do longo e estreito canal rochoso do Rio Paranaíba, em 1928, quando ali se instalava uma ponte pênsil, para dar apoio a construção de outra em concreto armado que ia ligar a região de Rio Verde GO ao Triângulo Mineiro. Zequinha Alves foi desafiado a passar a nado pelas violentas águas do canal.  A sua disposição foi colocado apenas um fio de arame comprido, no qual fez uma laçada em uma das suas pontas. Para se mover sob um cabo de aço já estendido fixou este fio em sua cintura com a utilização de um ajoujo, peça de couro usada para unir pelos chifres bois carreiros, em duplas. Zequinha ouviu dos presente a história de um aventureiro, conhecido apenas pela alcunha Acreano, morador da fazenda do senhor Oscar José Bernardes, que havia conseguido passar pelo canal, pioneiramente, nadando e levando amarrado na cintura um fio de arame fino, com o qual os encarregados da construção da ponte conseguiram puxar e estender o primeiro cabo de aço, para sua sustentação. Zequinha topou o desafio, levou consigo outro fio e assim deu sua contribuição ao se tornar também um pioneiro da travessia a nado do perigoso canal, mais tarde denominado São Simão.
As dificuldades da travessia do Rio Paranaíba não era um problema só para as populações indígenas, mas dificultou o desenvolvimento das regiões situadas a direita de seu curso. No  fim do século XVIII, as boiadas que demandavam do extremo Sudoeste Goiano e das regiões do hoje Mato Grosso do Sul, para chegar ao Rio de Janeiro ou a Barretos-SP, tinham que marchar por longas estradas boiadeiras e buscar passagens em  águas  menos profundas, em vaus a montante da região conhecida como do Canal e subir até Uberaba, pelas dificuldades da travessia do Rio Paranaíba. Com o passar dos anos foram surgindo alguns portos, como o do Taboado, no Mato Grosso  e o de São Jerônimo, entre Quirinópolis e Santa Vitória-MG, que amenizaram este problema.  Em 1934, foi inaugurada a ponte de concreto sobre o Rio Paranaíba, que mudou a realidade da região e pôs fim a um tempo de dificuldades e tragédias em sua travessia.

Ângelo Rosa Ribeiro - conforme depoimentos de antigos moradores da região.