A Revolução de 64 muda os
rumos da política em Quirinópolis
Em 07 de outubro de 1960, o senhor João Hércules tomava posse
na prefeitura de Quirinópolis. Ele era ex-presidente da Câmara na gestão do
prefeito Joaquim Quirino Cardoso, que
era filho do coronel José Quirino
Cardoso e cunhado do coronel Jacintho Honório da Silva. Esta data e este mandato tem um valor simbólico como um divisor no destino da política em Quirinópolis.
João
Hércules realizava uma boa gestão, tendo em vista a continuidade administrativa
dos governos do tradicional Partido Social Democrático, PSD. Viria abrir a estrada que liga o povoado do Tocozinho à Castelândia,
cortando os cerrados fechados da região, dando a ela a dimensão de uma rodovia.
Firmou convênio com o Consórcio Rodoviário
Municipal, CRISA, para pavimentar com cascalho a rodovia para Gouvelândia. Construiu
novo prédio para abrigar a prefeitura municipal, na Praça São Sebastião; edificou
o Grupo Escolar Olga Parreira, bem como a nova Cadeia Pública. Conseguiu com o
governador Mauro Borges a construção dos
prédios onde hoje funcionam o Colégio Pedro
Ludovico Teixeira, o Grupo Escolar Lauro
Jacintho e o posto de saúde hoje denominado Juca Severiano.
Antes do término de seu mandato, deu-se a Revolução de Março
de 64. Era esta a senha que precisavam as oposições para mudar rumos de
políticas tradicionais, em todo o país. Na
Câmara Municipal de Quirinópolis, encarregavam-se os vereadores oposicionistas a
mover processo administrativo contra o
prefeito João Hércules, que sem ter onde se agarrar para sua defesa, decidiu
renunciar. O seu vice-prefeito era o ex-prefeito Joaquim Quirino, que andava
afastado da cidade. Isso foi o
bastante para que um militante da
oposição à política tradicional viesse a cena para distribuir folheto com os
dizeres: “ Quirinopolino, você mora em Quirinópolis, mas seu prefeito mora em
Barretos”. No caso, este feito coube a Moacir Alexandre de Macedo, que ensaiava
seu projeto de disputar a eleição para a Câmara Municipal. Diante da
insegurança reinante, o vice-prefeito Joaquim Quirino também renuncia. Assumiu
a prefeitura o Presidente da Câmara,
Fábio Garcia da Silveira, que pertencia ao PSD, mas, para se resguardar, decide ficar do lado das forças dominantes - adere a UDN, para concluir o seu mandato.
Em 1965, Hélio Campos Leão se candidata pela terceira vez e
consegue se eleger ao derrotar o
udenista Raul Pereira Ramos. Era seu vice Francisco Quirino Cardoso, irmão do
ex-prefeito Joaquim Quirino, que havia renunciado meses atrás.
Os
vereadores foram eleitos um ano depois, em 15/11/66, por novas siglas
partidárias. Pelo Movimento Democrático
Brasileiro, MDB, sucedâneo do PSD, elegeram-se: Onílio Venâncio de Oliveira,
Jovani Inácio de Araújo, Lino da Costa Filho, Dalvo Antônio Carvalho Gouveia e
Francisco Rosa Ribeiro. Pela Aliança Renovadora Nacional, ARENA, sucedânea da
UDN: Melquíades Gonçalves Rodrigues,
Cristovam Rios Veloso, Moacir Alexandre de
Macedo e Newton Oliveira.
Hélio
Leão, seu vice Francisco Quirino e o
presidente do MDB, também ligado aos Quirinos, foram a Goiânia pedir apoio do governador Otávio Lage, da
antiga UDN. No retorno, disseram que foram bem recebidos, mas, conforme espalharam para a população,
ajuda só seria possível com a adesão destes à ARENA. Como se recusaram, o
prefeito confirmou que sofrera retaliações, como a da vinda de uma comissão do
departamento de assistência aos municípios do estado para verificar a prestação de
contas do município, com a finalidade indisfarçável de
pressioná-lo a aderir. Por outro lado, na Câmara Municipal, os vereadores
ligados ARENA tencionavam as reuniões, ao usar forças policias do governo, para
coagir os emedebistas. Neste clima, o vereador Dalvo Antonio Carvalho Gouveia, administrador de um porto interestadual, na divisa com Minas Gerais, decide passar
para a ARENA, braço partidário da Revolução de 64. Enquanto isso, a
administração do prefeito Hélio Leão
segue seu rumo, com os recursos da própria municipalidade.
Os
reflexos destes acontecimentos viriam a seguir, na escolha do candidato para a sucessão
de Hélio Leão. Realista, o velho líder teria confidenciado aos seus correligionários,
em reunião do diretório do MDB, que sua intenção era apoiar o candidato Humberto
Xavier, que era um moço que gozava de bom conceito na cidade. Pertencia aos quadros do fisco estadual, era filho de um antigo companheiro do PSD, o pioneiro Lázaro Xavier, ex-aluno do Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR) e que tinha evidentes ligações
como a política do momento. Seria melhor para todos - um candidato único, naquele momento. Mas, militantes do velho
PSD, mais radicais, não aceitaram. Decidiram concorrer, mesmo antevendo o
resultado adverso.
Veio
a eleição e confirmou-se a expectativa: foi expressiva a diferença
de votos em favor do candidato a prefeito Humberto Xavier e de seu vice Dalvo
Antônio de Carvalho Gouveia. Sua vitória teve o significado da ruptura com o
antigo, com o tradicional na política quirinopolina. Apesar de ninguém contestar
o fato de que os políticos tradicionais muito fizeram pelo desenvolvimento do
munícipio, estava a chegar ao fim o
poder dos coronéis, que se fazia com a participação quase sempre obrigatória de um membro da família Quirino e
sob a proteção do velho coronel Jacintho Honório da Silva, chefe político maior do velho
PSD. Pela da força da ditadura, mudou-se o quadro político no município, mas Hélio Leão, que era o braço direito destas forças, ainda tentou permanecer em
atividade na política: disputou outras eleições mas, diante dos fatos e da nova realidade, não logrou êxito. Assim, encerrava-se, depois de quase 50 anos de dominação, um
ciclo político de inquestionável significado para Quirinópolis.