quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Registro histórico: Chico Preto e seu comércio nas Sete Lagoas





                                   Na década de 50, uma grande casa comercial rural


Entre os anos 1950 e 1960,  o senhor Francisco Rosa Ribeiro, o Chico Preto, era um  forte comerciante da zona rural, na região das Sete Lagoas.

 No seu comércio,  os trabalhadores rurais da região,  predominantemente braçais, vindo do Nordeste brasileiro,  podiam encontrar quase tudo que precisavam para o seu consumo.  

Erma milhares de imigrantes que se colocavam para os serviços de  derrubadas manuais dos cerrados e da mata atlantica, destocas, roçagens de capoeiras e outras atividades pesacdas para implantação de  lavouras, como arroz, milho e das pastagens do capim jaraguá. 

Lazer nos finais de semana

 Nos finais de semana, a venda  oferecia aos seus fregueses uma programação bem diversificada. As famílias ali  se  reuniam, confraternizam-se e podiam ver uma corrida de cavalos, um jogo de futebol entre equipes da região ou participarem de uma rodada de bingo ou víspora. Consumiam produtos enlatados diversos, salames, bolachas e bebidas, como  refrigerantes,  sem álcool.  Vendia-se bebidas alcoólicas, mas sob controle do proprietário.  

 Eram mercadorias eram adquiridas, em Uberlândia -MG,  na época, o  principal centro atacadista do Centro-Oeste Brasileiro. O  transporte  era feito em caminhões fretados, como os do senhor Afif Domingues dos Santos.

             
  Apoio a educação e saude

              
 Nas proximidades do armazém funcionava uma escola rural, com cerca de 70 alunos, que era mantida pelo Chico Preto, com ajudada dos pais dos alunos ali matriculados. Como professores nela trabalharam píoneiros como  João Freire dos Santos, João Barreto de Souza, Mário Marques de Almeida e  Ivani Borges Costa.

  O comérciante mantinha  um consultório com gabinete dentário, onde o dentista prático Beijamin Prates, o Beijinho, de Itumbiara, depois o Dr. Magalhães, um recém-formado, de Uberlândia, prestavam serviços, como preparo de dentaduras, obturações e outros serviços da rotina odontológica. 


O setor de ferragens e utilidades parfa o campo

No armazém se vendia as ferramentas e outras mercadorias usadas para o trabalho qo campo, como  machados, serra, serrotes, gurpiões, foices, enxadas, enxadões, martelos, pregos, parafusos, dobradiças  e outros para os serviços de limpeza da terra a ser cultivada. 
 Ali se encontravam utensílios e equipamentos para a cozinha caipira,  como fornos metálicos  e chapas de ferro para fogões a lenha, além de panelas, caldeirões, bules, caçarolas e etc.
 Materiais para caça e pesca, desde varas e anzóis, até revólveres, espingardas e suas munições. 
Vendia se também veículos  de transporte, como bicicletas, carroças de tração animal, arreios e seus acessórios
. Encontrava-se nos armazém  lamparinas, lampiões e o  combustível mais vendido à época - o querosene. Alguns eletroeletrônicos como rádio à pilhas ou à baterias, lanternas, bem como os dispositivos para reposição. Podia-se ali encontrar instrumentos musicais, como gaitas de sopro, violões, cavaquinhos e seus acessórioss. Bebidas fracas como guaranás, capilés e  fortes como aguardentes, conhaques, misturas alcoólicas amargas e as cervejas. O fumo em corda para cigarros de palha e os cigarros industrializados de marcas diversas como Continental, Beverly, Holywood eram  vendidos. 

         Vendia-se ali diversas também mercadorias para atender as necessidades da família dos pioneiros. Encontravam-se marcas de perfumes e cosméticos como as memoráveis brilhantinas, óleos e cremes para pentear, loções ou águas de cheiro, bem como sabonetes e pastas dentais. Acessórios de uso pessoal como chapéus de lebre, tecidos ou de palha; o espelho de bolso, oval ou quadrado; isqueiros do tipo binga que eram abastecidos com gasolina e que acendia com pedra faiscadeira. Pentes de diversos tipos para arrumar o cabelo e para retirar piolhos, assim também  tesouras,  estojos para barbear,  cortadores de unha, lixas, prendedores do tipo ramonas, diademas,  esmaltes, alguns aviamentos e diversas  bugingangas.  

Roupas feitas, como  as  calças de brim rancheiras, precursoras das calças de jeans.   Os tecidos para confecções da roupa de trabalho e de passeio, com amesclas, algodões de tear, americanos,  popelines,  chitas, linhos, tropicais e cambraias. Os acessórios de cama e mesa como cobertas de algodão feitas por tecedeiras da região, cobertores do tipo sapeca negrinho, forros de plásticos e  toalhas. Os calçados ali encontrados eram as tradicionais  botinas de goma, mas vendia-se também botinas com fechamento a zíper ou botões externos, além de sapatos,  sandálias,  meias e  alpargatas, que era uma espécie de sapatilha de sisal. Artigos para festas,  como bandeiras de São João e São Pedro,   fogos de artifício, bombinhas e busca-pés tinham saídas nos meses de festas juninas.  

Muito se vendia em suprimentos alimentícios como açúcar, sal, café, fubás, farinhas estavam lá disponíveis. Enlatados, como o interessante doce  4 em 1 de cinco quilos, além de marmeladas, goiabadas, doces em caldas eram comercializados. Vendia-se bastante as  sardinhas enlatadas e até o exótico camarão salgado. Além de  bolachas, bala doce, pirulitos.  Havia uma panificadora simples, onde se podia encontrar pães, roscas e bolos.

 A venda  gerava um intenso  movimento, sobretudo nos finais de semana, quando para lá se dirigiam centenas de fregueses para fazerem  suas compras e também em busca do divertimento, que encontravam em vários eventos, como  partida de  futebol, corrida de cavalos,  sorteio   com  víspora, bingo, truco e na  degustação de um refrigerante  ou cerveja gelada em raras geladeiras à querosene, com o tira-gosto, que podia ser queijo fresco da fazenda, salsicha picada, azeitona, sardinhas ou até uma lata de  camarão salgado. Muitos preferiam alegrar-se no gole da cachaça das marcas Tatuzinho, 29, 51, e outras tão apreciadas pelas pessoas do lugar.

O ato de tratar e curar as enfermidades

Como não havia médicos por perto, nem a possibilidade de se chegar até eles pela falta de estrada e meios de transportes, diante das urgências e necessidades o farmacêutico era o próprio Chico Preto.  Ele receitava, aplicava injeções e animava os seus pacientes. Brincando com todos, como era de seu feitio,  dizia que vender o remédio era fácil, difícil era perguntar se o paciente melhorou. Mas, com a prática fazia prodígios com suas prescrições e até pequenas operações como extração de um berne, drenagem de furúnculo ou abscesso, retirada de objetos perfurantes e outras. Fora dele, na grande região só havia o farmacêutico prático Antonio Pinheiro, distante 6 léguas, na beira da rodovia Sul Goiana. 

        De seu receituário constavam  medicamentos como  penicilina injetável, tetraciclina solúvel e em comprimidos, que indicava para infecções de garganta, abscessos e outras. Vendia  estreptomicina, de nome Dibiotil,  de uso intramuscular, que ele mesmo aplicava e que curava apendicite e a difteria ou Croup, uma doença que na época matava sufocadas as crianças. V endia as sulfas Aralem,  Camoquim e o Quinino para os casos comuns de  febre da maleita.   Indicava  Heparema e  Extrabil para queixas de mal estar e inchaço do fígado.  Vendia Melhoral ou  Cibalena o
 resfriado e a dor de cabeça,da gripe, que reforçava o uso com  conhaque gengibre ou chá de folha de limão;  Cibazol, para as diarreias.  Vendia o purgante de sal-amargo e o comprimido de Lacto-Purga para o encalhamento e limpeza dos intestinos. Receitava e vendi o Sal de Gláuber, bicarbonato de sódio, ruibarbo e sal de fruta  para indigestão e os problemas do estômago. Vendia a  Nóz-Moscada e o Elixir Paregórico para cólicas intestinais;  o Regulador Xavier para regular o ciclo menstrual das mulheres.  Elixir Tauyná para ralear o sangue e melhorar a circulação.  Biotônico e Tutangir como fortificantes das crianças e dos idosos. Maracujina  para acalmar os nervos e o  coração. O pó  Matricária para os sintomas decorrentes da  dentição  do nenê. Auris-Sedina para a dor de ouvido e Cera Dental para a dor de dente; a pomada Frixal era vendida para contusões, dor nas costas e nas juntas. Capivarol e Emulsão Scott   para pneumonia e  o catarro do peito.

Produtos agropecuários

      Havia poucos produtos veterinários disponívei à época O sal era o mais vendido para amnsar o gado bravio.  A Creolina  servia para vermes dos animais, aftas da febre aftosa, bicheiras e como desinfetante de uso geral,  O BHC, um veneno,  combatia pulghas,  bicho-do-pé das pocilgas, o piolho de galinhas, os formigueiros e as pragas que destruíam as plantações. Estes produtos ficavam noutra secção, mas o farmacêutico era o mesmo..

Centro social, comunitário e comercial

         Este ponto comercial na verdade era também um movimentado centro social e comunitário.  Deu suporte para o desenvolvimento da região das  Sete Lagoas, na década de 50, notadamente na fase de expansão da monocultura do arroz, no início dos anos 60, época em que se intensificou a implantação das pastagens, para a criação de gado e a diversificação da agricultura do município. 

No estabelecimento trabalhavam o proprietário e  dois ajudantes. Entre estes, registra-se a prestação de serviços como balconistas dos jovens Lázaro  Mesquita de Andrade, o Zozô, filho de Joaquim Braz de Andrade;  do jovem Itevaldo Martins da Silva, o Nenzinho, filho do Sr Jerônimo Martins da Silva; do jovem Geraldo Corrêa Neves, filho de Vitor Corrêa Neves.