Carreando açúcar
de forma
Das
moendas do engenho a garapa era levada à tachas de fervura e destas ia aos
gamelões de apuração, mas a calda açucarada ainda não era açúcar. Espalhada em
tabuleiros ou formas forradas com bagaço de cana, ela teria de repousar por alguns dias
sob cobertura de barro preto nativo de lagoa
para se purificar, clarear e transformar-se em um produto novo, cristalizado e
de agradável sabor - o açúcar
de forma.
Este produto era considerado mais suave na comparação com a tradicional rapadura. Tinha a mesma origem -
vinha da cana de açúcar, que era moída em
engenhos para extrair a calda, que passava por vários processos, até ganhar a doçura e a consistência de um
adoçante. Seu uso vinha dos tempos coloniais, como um produto muito
usado na preparação de bebidas, doces, bolos e alimentos diversos.
Para
a missão de levar, em 1932, ao Porto da Maria Cunha, no rio dos Bois, 90 sacos deste açúcar reunidos de vários engenhos na região da Capelinha, foi procurado e contratado o casal Benedito Carlota e sua esposa Olímpia Alves. Ele com seu carro de
bois, um veículo de sua própria criação, e ela como candeeira, à frente de
seis juntas de bois de propriedade do casal. Vieram da região do Varjão, que
ficava às margens do rio Paranaíba, entre o antigo Porto do Gouveinha e a barra
do córrego da Ronda, onde residiam.
Benedito
Carlota era assim chamado por ser filho de Carlota Corrêa, da
família de pioneiros – os Corrêa(s), da
qual era mais conhecido o seu irmão Chico Corrêa, proprietário da marca Lagimeira, uma
caninha de agradável paladar, muito apreciada em toda região do Sudoeste
Goiano. Benedito, além de carreiro, fabricava
carros de bois, carretões, carroças, utilizando-se de madeira que ele esculpia e de ferro fundia e moldava. Em casa tinha
sua oficina diversificada, onde desempenhava os ofícios de ferreiro,
sapateiro, carpinteiro, pedreiro, portanto era um senhor para toda serventia.
Carregado
e toldado o seu carro, com couro de boi e folhas de palmeira, como se
exigia, partiram para a viagem. Deveriam cortar uma região de cerrados e matas
pouco desbravada. Exigia-se muita coragem da mulher candeeira. O imprevisto foi a chuva que tinha chegado
já à alguns dias. O caminho passava pela
ponte da cachoeira do rio São Francisco,
que estava novinha, erguida por um mutirão comandado pelo ainda jovem
José Salomão. Ali, estava o primeiro
desafio: um atoleiro, na subida do rio,
depois da ponte, que deixou o seu carro
fincado na piçarra até o eixo, nas trilhas amolecidas daquela estrada em formação. Era preciso pernoitar, por isso procuraram a casa de um conhecido, que ficava a três
quilômetros dali.
No
outro dia, voltaram para desatolar o carro. Ao aproximar do veículo tiveram uma
grande e desagradável surpresa: a carga amanheceu completamente tomada por formigas doceiras e
cabeçudas. Nunca se viu tanta formiga assim. As sacas estavam todas cortadas
pelas saúvas e o açúcar que era branco opaco agora tinha ganhado uma cobertura marrom
avermelhada devido as formigas.
Para arrancar o carro do atoleiro
adicionaram outras seis juntas de bois cedidas pelo fazendeiro. A tarefa não foi tão difícil comparada ao trabalho que dava as formigas. Por fim, chegaram ao entendimento que o jeito era tocar a viagem com elas mesmo. Debaixo de muita chuva chegaram ao senhor João Barbosa, compadre do carreiro, no alto da região do Paredão e seguiram pela estrada mestre, margeando o
córrego do Lajeado. Já era noite, quando alcançaram o Porto da Maria Cunha, de onde
e se podia chegar ao Triângulo Mineiro. A mercadoria agora era açúcar e algumas formigas, que não era boa, mas não podia ser descartada. Foi então depositada em uma sala de piso de chão, que foi forrada às pressas, com folhas de bananeiras. No outro dia veio o ataque das abelhas. Era assim naquela época. Mas, logo o produto seria dali levado à pé ou através de cavaleiros para ser consumido por moradores da região
e se podia chegar ao Triângulo Mineiro. A mercadoria agora era açúcar e algumas formigas, que não era boa, mas não podia ser descartada. Foi então depositada em uma sala de piso de chão, que foi forrada às pressas, com folhas de bananeiras. No outro dia veio o ataque das abelhas. Era assim naquela época. Mas, logo o produto seria dali levado à pé ou através de cavaleiros para ser consumido por moradores da região
Naqueles
tempos difíceis, o açúcar de forma servia para adoçar a vida da
população que vivia em lugares distantes das pequenas cidades, mas seu
transporte até estas localidades por carros de bois em época de chuvas, nem sempre fazia da vida dos
carreiros uma doçura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário