Sem a verdade e a honestidade não se edifica uma casa, uma família, nada se sustenta de forma permanente.
Quem rouba um lápis, rouba um boi, rouba um caminhão.
Tinha 8 anos, estudava em escola rural frequentada por outras 50 crianças e adolescentes da região das Sete Lagoas.
A escola funcionava na fazenda, ao lado da casa de morada e da venda dos meus pais, Francisco Rosa Ribeiro, o Chico Preto, e dona Olina, que a construíram e a mantiveram durante 5 anos.
Ali trabalharam, contratados pelo senhor Chico Preto, os professores João Paulo de Freitas, de Formiga-MG (in memrorian); João Barreto de Souza, o João Baiano (in memorian); Mario Marques de Almeida, o Mário Baiano (in memorian) e, por último, Ivani Borges Costa, os quais tenho a honra de nominá-los como meus primeiros professores.
Bem, dito isso, um fato ali ocorrido, devo relatar: dado pelo professor a tarefa para cada aluno desenhar algo de sua imaginação, avancei no trabalho, mas minha caixa de lápis possuía apenas 12 cores. Pedi a um colega, um vermelho que existia numa caixa maior. Ele entregou a caixa, eu tirei a cor desejada e a devolvi. Nessa hora, bateu o sinal do recreio e todos se levantaram pra ir ao lanche ou à venda. Esperei alguns minutos antes de sair para terminar o desenho.
Quando cheguei na venda, todos os meus colegas estavam com o meu pai, a me esperar. Ele tomou o meu braço e revelou que eu tinha sido denunciado pelo furto de um lápis de cor. Então, arrancou o seu cinto e disse o que ia acontecer para que eu e meus colegas nunca esquecêssemos. Em seguida proferiu - "Filho, quem furta um lápis, furta um boi e rouba um caminhão". Apanhei forte, com seu cinto, diante de todos os meus colegas.
O impacto emocional e o sofrimento foram enormes e me perseguiram, pois, desnorteado, envergonhado e com raiva dos colegas, não consegui voltar à sala da escola pela porta aos meninos reservada.
Adentrei a sala pela porta reservada as meninas, tamanho meu constrangimento e descontrole emocional. Para piorar, isso motivou risadas, por boa parte dos colegas. Foi um horror! Não tinha roubado o lápis, por isso não estava com raiva de meu pai, enganado. Ele queria nos ensinar a ser honestos, sem o que nada pode ser edificado. Mas, não conseguia aceitar a mentira e falsidade dos colegas, o que considerei uma grande traição, pois nenhum me defendeu.
Não pude saber quem tinha feito aquela maldade. Quem me emprestou o lápis, era meu amigo, negou tudo. Devolvi a ele o maldito lápis e preferi não dar sequência ao caso. Todavia, ficou o registro em minha memória, ao vivo, ad eternum, que nunca me esqueci.
Passados 38 anos, no final de meu segundo mandato de deputado estadual, meu pai me pediu para levá-lo a casa de um amigo seu, que estava doente, muito mal e que morava em Goiânia. Ao chegarmos a sua casa, veio nos receber o seu filho, que foi meu colega na escola da fazenda. Ao me ver junto de meus pais, ele me olhou e foi logo dizendo - Ângelo, foi Deus que trouxe você e seus pais aqui, agora. Eu tinha medo de morrer sem te pedir perdão. Fui eu quem o denunciou ao seu Francisco, que você tinha roubado um lápis de cor. Lembra? Nunca me esqueci dessa maldade. Me perdoe!
Tudo veio a luz na minha mente. Abracei, sem nenhuma mágoa o amigo de infância. Eu não tinha nada para perdoar. Falei - Cara, você me surpreendeu. Que humildade!
Fui por 2 (duas) vezes deputado estadual, diretor agroindustrial do antigo Banco do Estado de Goiás, por duas vezes secretário de agricultura. Ao ser convidado para assumir a secretária de planejamento e coordenação de Goiás perguntei ao governador Naphthali Alves:
- Porque Eu, se não sou um especialista da área do planejamento?
- Porque sabemos que você é honesto, não vai roubar e vai vigiar para que não roubem o nosso Governo. Já consultei nossos chefes, o Iris, o Maguito e os técnicos da SEPLAN, que já te esperam lá Confesso, foi grande a emoção!
Fui responsável pela gestão do Orçamento Estadual, por 10 meses, além da aplicação dos recursos da venda de Cachoeira Dourada. Claro, com minhas limitações, mas tornei-me amigo de grandes técnicos da área, que tal como eu, tinham a honestidade como o principal pilar de suas vidas. No final, deixamos o governo sem nenhum senão, sem nenhuma mácula ou nota em desfavor. Isso é um grande troféu.
Com certeza, a lição da escola, de meu pai e daquele colega me ajudaram muito - ao consolidar meu maior patrimônio - a honestidade. Graças a Deus!
O reconhecimento e a confiança do governador Naphtaly Alves foram fatos marcantes, de inestimável valor, que tenho como minha melhor referência, pela missão recebida e cumprida como agente público. Aproveito para dizer muito obrigado ao grande e inesquecível governador Naphtaly. Que Deus derrame copiosamente sua benção e sua graça por toda sua vida!
Ângelo Rosa Ribeiro, 71, quirinopolino, ex-deputado, ex-secretário estadual de agricultura e de planejamento