domingo, 11 de dezembro de 2011

O empreendedorismo do Dr. Francisco Junqueira

                                                    

O empreendedor Dr. Chico Junqueira




No final da década de 60, após adquirir a Fazenda Tamboril, na região de Gouvelândia, mudou-se para Quirinópolis o advogado Francisco de Paula Botelho Junqueira, trazendo consigo a sua esposa, filhos e um enorme desejo de contribuir para o desenvolvimento deste município.

 Dr. Francisco é natural de  Barretos SP, onde nasceu em 9 de outubro de 1933. Em 1962, casou-se com Áurea de Paula Souza Junqueira. Concluiu seus estudos pela  Faculdade do Lago de São Francisco, da Universidade de São Paulo – USP,

Ao chegar à região,  este dinâmico advogado logo se tornou um atuante líder agro-pecuarista, dando enorme contribuição à organização do setor produtivo no Sudoeste Goiano. Demonstrou seu espírito inovador, ao plantar, com o parceiro Antenor Fernandes, no ano agrícola de 1969/70, uma significativa área de soja, para efeito demonstrativo, iniciativa que o fez pioneiro no cultivo desta oleaginosa em Quirinópolis.

Ainda em 1969, foi informado por técnicos da extensão rural local que estava prestes a  caducar uma outorga do Ministério da Agricultura para a sindicalização do produtor rural. Ao atuar em defesa dos interesses da agropecuária, Dr. Chico chamou para si a responsabilidade de estruturar o Sindicato dos Produtores Rurais de Quirinópolis, fato que  agradou bastante a classe ruralista. Foi, em seguida, eleito primeiro presidente da entidade, em 1970. Neste mandato, com o apoio dos principais fazendeiros e líderes do setor, criou e estruturou o Parque Agropecuário de Quirinópolis.

Em 1972, estimulado pelo seus admiradores e animado pelo grande prestígio que já desfrutava, sobretudo, no meio ruralista, disputou a eleição para a prefeitura do município, em uma composição de oposição, mas não se elegeu.

      Continuou então com sua trajetória como empreendedor. Em 1974, quando era dirigente de uma das lojas maçônicas da cidade, criou a Fundação Pelicano, uma entidade de natureza filantrópica, que muito ajudou aos menos favorecidos da cidade. Em 1975, idealizou e liderou uma campanha pela organização de uma cooperativa de produtores rurais para a região do vale do rio Paranaíba, que culminou na fundação da Cooperativa Agrovale, uma das principais do Sudoeste Goiano, com sede em Quirinópolis,  em 28/05/76.

      Em 1983, voltou a pleitear a eleição para a prefeitura municipal. Com o resultado desfavorável da disputa, mudou-se para Goiânia para atender a um convite do governador Iris Rezende Machado, que em reconhecimento a sua capacidade o nomeou diretor financeiro e a seguir presidente da CASEGO – Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Goiás.

 Ligado ao associativismo por formação, convicção e ideal, ao retornar a Quirinópolis, em 1995, dedicou-se a organizar várias associações de produtores de leite e a construir uma central de recebimento do produto, que mais tarde se transformou em uma empresa, a Indústria e Comércio de Produtos Lácteos Quirinópolis - PROLAQUI, da qual se tornou sócio gerente, tendo como membros da diretoria todos os presidentes das associações, que ajudara a criar.

 Como político ousou buscar a prefeitura por duas ocasiões, não logrando êxito, porém deixou a todos os quirinopolinos a nítida impressão de que logo chegaria ao seu intento. Elegeu-se vereador em 1996, sendo presidente do legislativo municipal, por dois anos.

Em 1997, com o apoio de empresários da indústria e comércio local, de políticos, profissionais autônomos e outros, fundou a ADEQUI - Associação de Desenvolvimento de Quirinópolis, com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento econômico, cultural e esportivo do município.

Durante o período em que esteve em Quirinópolis, Dr. Francisco Junqueira trabalhou intensamente na advocacia e impressionava a todos, pela sua eloquência, cultura geral e saber jurídico.

        Na execução das obras da central de recebimento de leite, em 7 de junho de 2000, deslocou-se para Goiânia em busca de um transformador para a central em instalação. Ao retornar da viagem, envolveu-se em um acidente, quando o veículo que o conduzia, desequilibrado com o considerável peso do referido equipamento, desviou-se da rodovia GO-164 e caiu em um lago, nas proximidades de Santa Helena de Goiás. Muito ferido veio a falecer, pouco tempo depois do acidente.

O seu desaparecimento precoce deixou insuperável lacuna na comunidade quirinopolina, pela perda de um de seus mais valorosos membros, reconhecido pela sua vasta cultura, insuperável capacidade de trabalho e enorme força de liderança. Entre as personalidades que aqui viveram nenhuma delas, em qualquer fase do desenvolvimento do município, demonstrou tanta visão de futuro, capacidade de empreendimento e entusiasmo pela inovação, como o fizera Dr. Chico Junqueira.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Chico Anta constrói um aeroporto em Quirinópolis

Uma justa homenagem



         Francisco Cândido de Castro, o Chico Anta, era um ferreiro que há muito trabalhava em Quirinópolis, na época uma cidade em formação.  No ano de 1940, fez uma viagem a Rio Verde, aonde teve a oportunidade de ver uma pequena aeronave em evoluções sobre a cidade. Impressionado com o objeto voador, decidiu ir até seu campo de poso, para observá-lo de perto.

         Era tanto seu entusiasmo, que o piloto se propôs a decolar com ele, para um sobrevôo de alguns minutos. Ao retornar ao solo, Chico Anta disse que seria capaz de construir uma pista semelhante em Quirinópolis, ao que o aviador contrapôs com uma visita à localidade, logo que a mesma estivesse concluída. Chico Anta caprichou nas anotações e, ao retornar a sua comunidade, tratou de iniciar o seu projeto.

A pista, segundo as informações recebidas, deveria de ter no mínimo 40 metros de largura, por 400 metros de comprimento, de uma área bem desmatada e limpa, com uma pista central de 15 metros de largura.  Em todo o seu comprimento, deveria ser bem firme e plana e que a mesma seria orientada na direção norte e sul.

Chico Anta, com o auxilio de Wilson Barbosa, dinâmico encarregado dos negócios da igreja local, escolheu uma área nos arredores do povoado, que foi previamente medida e demarcada.  Chico, então, pôs-se a desmatar e preparar a área. O seu entusiasmo com a obra era tão grande, que contagiou a todos os moradores. Logo boa parte da população do povoado estava engajava na preparação do campo de aviação.

O sonho de Chico Anta foi concretizado, com sucesso, em 1942, quando vindo de Rio Verde, o primeiro avião pousou em Quirinópolis. Daí em diante ninguém mais se esqueceu desta contribuição de uma pessoa simples, que pelo seu esforço e entusiasmo entrou para a história da cidade. Hoje empresta o seu nome ao aeroporto local, que possui dimensões e estruturas bem atualizadas, conforme a demanda de um novo momento, mas que sempre lembrará a bela história de Chico Anta e seu campo de pouso de aviões.

Bernardo Cerri, empreiterio de rodovias e espião


O empreiteiro que virou espião sem querer


            Em 1927, o paulista, natural de Ribeirão Preto, Bernardo Cerri, chegou a Capelinha, a procura de seu destino.  Solteiro, mestre de obras, exímio tocador de sanfona, ali encontrou a jovem Maria de Lourdes Mendonça, com quem veio a se casar, em 18 de setembro do mesmo ano.

            Bernardo Cerri marcou sua passagem na história do município,em sua fase de estruturação, como realizador de importantes construções e benfeitorias públicas. Logo que se casou, construiu para seu sogro Gabriel Joaquim de Mendonça a primeira casa ao estilo platibanda, uma novidade que virou moda no povoado. Contratado pela Comissão de Fundação da Igreja Católica construiu o cemitério da comunidade em formação. 

Da Sul-Goiana para o Porto de São Jerônimo e Canal de São Simão

          Pela sua capacidade de empreender tornou-se, em 1928, empreiteiro da rodovia que a partir de um ponto da Autovia Sul Goiana, próximo ao Ribeirão Cabeleira, dava acesso a Capelinha e ao Porto São Jerônimo, no rio Paranaíba, de onde já se chegava por rodovia a Santa Vitória e a Ituiutaba, ligando definitivamente Rio Verde ao Triângulo Mineiro. Para a obra que cortava espigão pela margem direita do rio São Francisco, Bernardo Cerri contratou centenas de trabalhadores, sub-empreitou trechos, pontes e mata-burros, ao longo dos 148 quilômetros da rodovia, que foi concluída antes da Revolução de 30, ainda no período do governo Totó Caiado. 

         Com o triunfo de Getúlio Vargas, o Dr. Pedro Ludovico Teixeira foi nomeado interventor em Goiás. Animados com a vitória, os interventores Pedro Ludovico, de Goiás, e Benedito Valadares,de Minas Gerais,  decidiram construir uma ponte em concreto armado no Canal de São Simão.  Foi dada ao empreiteiro Bernardo Cerri a responsabilidade de rápida construção da autovia, que ligaria Quirinópolis a São Simão e à nova ponte, estabelecendo-se definitiva ligação de Goiás com Minas Gerais e São Paulo. 

O espião sem querer

             Pouco tempo depois de construir o trecho que dava acesso ao Porto de São Jerônimo, Bernardo Cerri foi surpreendido por estranha convocação do subdelegado de polícia do Distrito, Fernando Carvalho, concunhado do chefe político governista local Joaquim Timótheo de Paula para acompanhar uma verificação policial na região de fronteira, nas proximidades do Porto de São Jerônimo, sobre o movimento dos revolucionários de Minas Gerais, partidários da Aliança Liberal.  O Dr. Pedro Ludovico por lá se encontrava a organizar um movimento com mais de uma centena de homens armados para enfrentar os governistas goianos, iniciando a marcha por Quirinópolis para depois atingir Rio Verde, onde se concentrava expressivo contingente de forças aliadas ao governo provincial, chefiado por Totó Caiado. No primeiro episódio belicoso, logo na chegada a cidade, as forças revolucionárias encontraram o carro do subdelegado, iniciando uma breve troca de tiros. Bernardo Cerri, no meio do tiroteio, acabou ferido na perna. Seus companheiros esconderam-se no mato, mas foram perseguidos e presos. Um deles, o cabo Arquimino José Roque morreu baleado no meio da escaramuça. O empreiteiro acabou prisioneiro do Dr. Pedro Ludovico, que ao anoitecer, com a ajuda do farmacêutico Wilson Barbosa, ainda zelou dos seus ferimentos.

            O episódio não parece ter abalado o prestígio de Bernardo Cerri. O tocador de obras que virou espião sem querer a serviço do governo de Totó Caiado, logo se tornou parceiro do novo governo, sendo por este contratado para construir a estrada para São Simão, que foi concluída no prazo estipulado, pouco antes da inauguração da ponte interestadual, com a presença do agora amigo Dr. Pedro Ludovico, em 24 de dezembro de 1934.

Com suas obras de construção civil e a abertura das importantes estradas o povoado começou a se estruturar. Passou a receber visitas periódicas de médicos, que vinham atender a população. Outros profissionais começaram a chegar, para aqui se estabelecerem. O comércio se tornou mais dinâmico e o povoado se abriu para um tempo de desenvolvimento.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Clarões: A prosperidade vivida na lama





A difícil luta do peão que  tocava a porcos
 
            As fazendas do Sudoeste Goiano,  do início até meados do século passado, além da criação de gado bovino, dedicavam-se também a produzir  milho e suínos, mercadorias de fácil comercialização que tiveram importante papel na economia regional, como uma fonte de renda mais rápida e complementar para as famílias dos pioneiros. Pode se dizer que essa prática era típica da região de Quirinópolis que na época liderava a produção de suínos em Goiás.


O comum era o porco ser abatido gordo, transformado em toucinho ou banha, linguiça e outros derivados para depois o produto ser levado em carro de bois para um centro de maior consumo, como Uberabinha, hoje Uberlândia, no Triângulo Mineiro, onde era vendido ou trocado por outras mercadorias. 

 Na época havia demanda também para porco vivo e aí residia uma grande dificuldade - o transporte. Segundo informações dos moradores mais antigos, transportar suínos vivos em carros de bois era difícil e contraproducente. Mas a cavalo, também não era fácil. Bem pequenos, os porcos passavam em lugares, como nos matagais, que com cavalo não era possível. O jeito era tocá-los, a semelhança de uma boiada. Só que, no caso, a porcada tinha que ser  levada mesmo à pé.


            No início da viagem se exigia grande  preparo físico do, digamos, "peão porqueiro."  O que ia a frente da porcada, carregava nas costas um saco de milho para ofertar alguns grãos ou mesmo espigas do precioso cereal e assim manter o interesse do rebanho pela viagem. As vezes tinha que  acelerar o passo, cercar uma ponta rebelde, buscar outra que ficou de arribada,  depois, os bichinhos iam ficando obedientes. Andavam em filas e bem depressa. Só não podiam ver um brejo, ou melhor, os peões é que não gostavam de ver, pois a manada aí costumava se espalhar para  dar  aquela fuçada costumeira. Deste ambiente nunca estavam dispostos a sair para continuar a viagem. Dava muito trabalho recolocá-los em marcha.  Quando a noite chegava, dormiam perto uns dos outros, amontoados, por isso a viagem tinha que recomeçar no outro dia muito cedo, antes que se espalhassem.


  Para levar a porcada, os compradores de suínos recrutavam gente de toda a região, que ia sempre a contragosto e reclamava da distância, das dificuldades de lidar com os animais, mas a causa verdadeira é que, tocada a pé, por  onde a porcada  passava, sujava o caminho com lama e com seus excrementos dos quais a turma não escapava. O serviço era de fato muito sujo e mal cheiroso. Este trabalho não gerava um boa fama para o peão, ao contrário dos colegas que se dedicavam a tocar uma boiada. 

        Quirinópolis, desde a época da Capelinha, foi um importante produtor de suínos do tipo banha. Há relatos de compradores que vinham de Buriti Alegre-GO, um município que naquele tempo era lugar de intermediação de negócios agropecuários. Os compradores passavam por Santa Rita, hoje Itumbiara, e chegavam ao Rio dos Bois para comprar porcos nas fazendas, do lado de cá.  

A despeito das dificuldades de comercialização, a criação de porcos teve grande importância sócio-econômica na época do desbravamento da região Sudoeste Goiana, sobretudo nos municípios de Quirinópolis e Caçu. Para os pioneiros significava garantia da sobrevivência ou prosperidade para sua família. Era ao mesmo tempo excelente fonte de energia, proteínas e de renda para movimentar a incipiente economia regional.

Ângelo Rosa Ribeiro, com base em relato de seu pai senhor Francisco Rosa Ribeiro.

História do Colégio Dr. Pedro Ludovico, de Quirinópolis.

        Em 1954, na  gestão do prefeito João Rocha, foi criada a  Escola Normal Regional Coronel Quirino.  Mais tarde, assumida pelo estado, recebeu o nome de Ginásio Normal Estadual de Quirinópolis. Sua primeira  sede foi um modesto  prédio, onde hoje se encontra o Museu Histórico de Quirinópolis. Dali, enquanto era construida sua nova sede,  na Avenida Lázaro Xavier, pelo ex-governador Mauro Borges, onde hoje se encontra, o ginásio foi  transferido temporariamente para o prédio da antiga escola José Feliciano Ferreira, que mais tarde recebeu o nome de Escola Estadual Frederico Gonzaga Jaime, onde hoje se encontra a  sub-secretaria estadual de ensino.  De forma inexplicável, esta escola recebeu, alguns anos depois, a denominação de  Colégio "31 de Março" para referenciar a data alusiva ao Golpe Militar de 64. 

O nome e a história de Quirinópolis

    É importante destacar esta relação. O Dr. Pedro Ludovico, enquanto médico e político de Rio verde, teve sua vida marcada por fatos aqui ocorridos, por isso sempre demonstrava um carinho especial por Quirinópolis, onde tinha amigos como o coronel Jacinto Honório e Adolfo José D’Abadia, o ex-colega de secundário, no Rio de Janeiro.  Dr Pedro tinha aqui clientes, alguns especiais, como o Coronel Antonio Pereira Rodrigues, que para atendê-lo vinha a cavalo de Rio Verde, como ele próprio relatara em seu livro de memórias. Foi também por Quirinópolis, na condição de político do Sudoeste Goiano, que Dr. Pedro iniciou sua caminhada revolucionária, com o intuito de desbancar do poder,  em Goiás, o oligarca Antonio Ramos Caiado, o Totó Caiado. Com é sabido, no final de sua caminhada Dr.Pedro foi preso, em Rio Verde e, dali, foi levado à Goiás, antiga capital, onde em sua chegada, já nos arredores da capital, recebeu a notícia da vitória de Getúlio Vargas, na Revolução de 30. Este fato concretizava a derrota dos Caiados e viabilizava sua ascensão ao poder, como interventor federal em Goiás.

Mudando o nome de um colégio, por justiça. 
 

      No exercício de meus mandatos como deputado não gostava de iniciativas de  mudanças de nomes de ruas ou de próprios públicos, embora tenha denominado alguns... Mas, procurei fazer homenagens justas, devidas a feitos relevantes dos personagens referenciados ou de suas famílias. 
          Mas, há uma mudança de nome da qual me orgulho. É justamente a do antigo Colégio '31 de Março', nomenclatura imprópria que foi dada à Escola Normal Estadual de Quirinópolis, a referida unidade pioneira e histórica, criada em 1954

     Nada podia ser mais abusivo e injusto do que aquela denominação, já que a sede da escola fora construída por Mauro Borges, filho do Dr. Pedro Ludovico Teixeira, que tinham sido vítimas do golpe de 31 de março de 64, ambos punidos de forma injusta, arbitrária e antidemocrática,  com seus direitos políticos cassados por 8 anos, pela ditadura militar de 64. 
         Em meu primeiro mandato na Assembléia Legislativa, sem qualquer propósito revanchista, resolvi interferir e mudar aquele situação. Dei o nome de Colégio Dr. Pedro Ludovico, mudança procedida em lei, de minha autoria, com a intenção de corrigir um erro e fazer justiça aos ilustres benfeitores e amigos da cidade, principalmente, ao Dr. Pedro Ludovico, o patrono da emancipação política e administrativa do município de Quirinópolis.
         Foi no antigo Ginásio Normal de Quirinópolis, precursor do Colégio Pedro Ludovico, em 1963, com a idade de 11 anos, fiz minha matrícula  para cursar a segunda fase do primeiro grau. Dali, saí para buscar o futuro, cinco anos mais tarde, ao transferir-me para o Colégio Ateneu Dom Bosco, de Goiânia, onde cursei o científico para ingressar na universidade. O meu colégio foi fundamental, por isso, senti no dever, como legislador, resgatar este capítulo da minha própria história e da minha cidade, além de fazer justiça aos nossos benfeitores.
  
       Em outras iniciativas dei nomes como: Juca Severiano, ao mais antigo posto de saúde de Quirinópolis, ao denominá-lo à pedido da família do mesmo, por ter sido de sua iniciativa a doação do terreno para que a cidade pudesse ter o seu primeiro posto de saúde. Denominei JK ao colégio do Bairro São Francisco, pelo qual tinha lutado e conseguido sua construção. Também denominei Quintiliano Leão e Corina Campos Leão a duas escolas construídas na cidade, além de ter atendido a familiares do então prefeito Sodino Vieira, dando o  nome de seu pai, o popular Bichinho Vieira, ao estádio construído à época na cidade, pelo governo estadual.
           






    

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Uma escola ao modo antigo

Uma escola rural e do modo antigo



A escola rural onde concluí o primário ficava próxima da sede do sítio onde vivi minha infância, no município de Quirinópolis - GO.  Nela, entre os anos de  1958 e 1961, estudavam cerca de 70 alunos, que vinham de longas distâncias, a cavalo ou em bicicletas, diariamente, com sol ou com chuva. Alguns tinham que madrugar, para chegar a tempo. O administrador era meu pai, o dono do sítio, que tinha construído a casa do professor ou sede escolar, contratado os professores e cotizava as despesas com os pais dos alunos que a freqüentavam.

          A sala de aula era um espaço amplo, com duas fileiras de longos bancos de tábuas, para quatro alunos cada. Uns baixos, para assento dos estudantes e outros mais altos, para a colocação do material escolar, estudos, tarefas, numa disposição que se repetia alternadamente. Meninos de um lado, meninas de outro, em dois agrupamentos separados por um corredor central. Como em qualquer outra sala de aula, na frente dos alunos, havia a mesa do professor e o quadro negro.

A escola funcionava em tempo integral, com dois turnos. O primeiro iniciava-se as 8:00 horas da manhã e terminava as 11:00, com intervalo para o lanche ou recreio, às 9:30. O segundo turno iniciava-se as 13:00, intervalo as 14:30, indo até as 17:00. Entre os dois turnos, havia o intervalo do almoço. Cada aluno trazia de casa sua refeição e seus dois lanches diários. Fora desses intervalos, não era permitido sair da sala, exceção feita para atender as necessidades fisiológicas.   Durante as aulas, o controle do movimento de entrada e saída era feito com a utilização de uma pequena pedra, a chamada licença, que ficava sobre a mesa do professor. Só havia uma licença, portanto, só um estudante de cada vez recebia permissão para se retirar da sala. Sempre havia discussões e reclamações quando um aluno demorasse a retornar. Os recreios da manhã e da tarde constavam do momento do lanche e de atividades físicas, com brincadeiras escolhidas pelos alunos, como futebol, salto com vara, disputa de corridas, jogo com peteca, banho no córrego e outras atividades. Algumas vezes os alunos eram organizados em filas para marchar, sob o toque de um tarol, um tambor e o comando do professor.

Na sala de aula, para maior controle das turmas e eficiência de seu trabalho, o professor exigia que os alunos iniciantes ou mais atrasados nos estudos ficassem nas primeiras filas, bem próximo de sua mesa. Os mais adiantados ficavam do meio para o fundo da sala. Sobre a mesa do professor, além da pedra da licença, estava a palmatória, um instrumento disciplinador ou torturador, em madeira de lei, com vários furos em sua cabeça redonda e achatada e um longo cabo de manuseio, própria para castigar os maus alunos; também uma régua, como objeto de múltipla finalidade, usada em batidas sobre a mesa ou sobre as tábuas de assento dos alunos, para alertar os sonolentos, além de um apito, para situações em que um sinal sonoro forte se fizesse necessário.  Até parece absurdo, mas era real. Tudo isso tinha sua aplicação, de forma prática, com resultados satisfatórios.

 Os alunos de séries diferentes ficavam agrupados em áreas distintas, no mesmo ambiente. Ensinamentos e tarefas diferenciados criavam uma dinâmica interessante, que beneficiava o aluno perspicaz. A escola tinha único professor, quase sempre do tipo autoritário e disciplinador.

No momento reservado a prática do ditado, onde o professor lia pausadamente um trecho de um livro, para que cada aluno copiasse em seu caderno, o professor sugeria que se realizasse aposta entre os alunos, em número de bolos de palmatória.  Quem obtivesse a maior nota, após a correção do ditado, tinha o direito de aplicar os chamados bolos de palmatória em seu concorrente. Quando o aluno se recusava em aplicar o castigo em seu colega ou o fazia de forma muito branda, o professor considerava que estavam brincando e castigava severamente, tanto o ganhador quanto o perdedor da aposta.

  Os testes de avaliação do aprendizado escolar eram realizados semanalmente, com os alunos enfileirados, em círculo, por nível de aproveitamento escolar, para a tradicional hora do argumento ou da argüição oral. Nela, o professor lançava a pergunta, que normalmente saia da tabuada de matemática, das aulas de português e de conhecimentos gerais, para alunos tidos como de menor desempenho, no início da fila do conhecimento, para ser repassada ao seguinte, até que fosse respondida corretamente. Outras vezes se dirigia aos mais adiantados, com perguntas que exigiam maior conhecimento. Quem respondia certo recebia um muito bem, do professor. Aos que erravam, sobrava o bolo de palmatória, aplicado com força, na palma da mão, pelo colega que acertou a resposta ou pelo professor, que a tudo controlava.

Este era o modelo da maioria das escolas rurais da época. Embora o método fosse extremamente severo, tenho boas lembranças desta escola. Tinha medo e vergonha do castigo, por isso procurava estudar com seriedade para não fazer feio nas avaliações do professor, na hora do arguição.  Não eram raras as crises de choro de alunos devido às fortes cobranças dos mestres. Diante de tanta pressão alguns pareciam traumatizados e não aprendiam satisfatoriamente. Havia notícias de escolas em que os considerados maus alunos eram submetidos a humilhações, como ficar de castigo,  de joelhos, com objetos exóticos sobre a cabeça, mas este não era o caso de minha escola.  Com três anos de estudos neste tipo de instituição fui para a cidade, realizar exames de admissão, sendo, aos dez anos de idade, aprovado para a primeira série ginasial, hoje a quinta série do primeiro grau.

                                         

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pioneiros da agricultura mecanizada em Quirinópolis

Pioneiros da agricultura moderna


       No final da década de 50, a região das Sete Lagoas, no município de Quirinópolis,  vivia uma verdadeira transformação, com desmatamentos, cultivo de arrozais, implantação de pastagens e um grande aumento de sua população. 

       Este período foi precedido pela chegada de pioneiros, que vieram em grande parte de municípios da vizinha região do Triângulo Mineiro.  Entre eles, provavelmente, o primeiro a dedicar-se de forma organizada a agricultura de mercado foi Jordelino Luiz Ferreira – o Dino, que em 1957, abriu grandes áreas de cerrados, com a inédita utilização de tratores, sendo pioneiro no plantio de arroz mecanizado na região. Seu conterrâneo Dário Novais o seguiu nesta iniciativa. O parente  e conterrâneo Gabriel Luiz Ferreira adquiriu uma considerável área de terras no Paredão, em 1952, quando trouxe um pequeno, mas inédito trator de esteira, que causou grande  curiosidade entre os moradores do lugar. Com esta já antiga máquina  iniciou os desmatamentos, em 1959. Em 1960, ainda de Tupaciguara, vieram José Sandre - o Bepe e sua família, que adquiriram considerável área de terras próximo ao Córrego do Lajeado. O senhor Bepe e filhos desmataram grande parte de suas terras, adquiriram tratores pequenos e iniciaram a prestação de serviços de mecanização agrícola. Foi nesta época que através dos irmãos Valdivino e Bolivar Martins da Silva foi introduzida a primeira batedeira mecânica de arroz, acabando com a secular prática da batida manual deste cereal. Os irmãos Aristides, José e Lídio da família Pascoal também vieram para a região do Córrego Lajeado, onde, à partir de 1963, deram importante contribuição para o incremento da agricultura, ao conseguirem alta produtividade na cultura do arroz, plantando a seguir milho e soja. No caso da soja, é importante considerar os experimentos demonstrativos de Francisco Junqueira  e de Antenor Fernandes, ressaltando-se que o último se tornou um dos maiores produtores da oleaginosa no município. Oscarino Martins da Silva, o maior proprietário de terras da região, naqueles tempos, deu início à fase de arrendamentos, para o plantio de arroz, seguido de formação de pastagens e tornou-se o maior pecuarista da região. Hoje seus filhos, genros e netos dão continuidade ao seu trabalho.

         Em 1966, veio para Quirinópolis, procedente de Araguari-MG, Onício Resende, para impulsionar definitivamente a agricultura e a prestação de serviços mecanizados no município, utilizando-se de grande e diversificado número de máquinas para desmatamento, preparação de solos, plantio e colheita. Trouxe centenas de famílias de agricultores  braçais, entre elas, gente mineira e, em maior número, de origem nordestina. Tornou-se o empresário de referência desta área, construindo aqui o primeiro grande armazém, com secador e toda estrutura de armazenagem.

          
 

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Quirinópolis: UEG e Empresas Sucroalcooleiras

UEG e Empresas Sucroalcooleiras - uma parceria de futuro





                Fortes grupos do setor sucroalcooleiro migraram para o município de Quirinópolis e região, onde se estabeleceram em enormes plantas industriais. Recentemente a Usina Boa Vista, do Grupo São Martinho, associou-se a Petrobrás, para constituir a Nova Fronteira, com objetivos, entre eles, o de triplicar a sua produção de etanol. A Usina São Francisco, associou-se com a Cargil, para ser ainda mais produtiva e competitiva. Pelo que se noticia são bilhões de reais já investidos e outros sendo captados, para torná-las gigantes, no contexto mundial.





Em toda região Sudoeste podem ser encontrados dezenas de empreendimentos similares, entre projetados, em instalação e instalados. De uma forma geral, são iniciativas consideradas de grande porte, com objetivos a serem atingidos em curto prazo, com profundas implicações sócio-econômicas, culturais e ambientais.





                Sem dúvida, a UEG de Quirinópolis, pela sua posição estratégica, deveria ser acionada para acompanhar este processo, que diz respeito ao futuro da região. Ao aproveitar o novo momento de reestruturação já encaminhado, sob os auspícios do governador Marconi Perillo, a UEG deveria ser dada uma nova missão, qual seja a de realizar estudos, pesquisas e acompanhamento, do ponto de vista técnico-científico, para que as transformações em marcha ocorram realmente em beneficio da população.





 Portanto, como primeira providência, a UEG e as empresa sucroalcooleiras sediadas em Quirinópolis deveriam aprofundar a discussão deste assunto.  Segundo informações extra-oficiais as empresas se mostram dispostas a colaborar com parte dos custos para a instalação de laboratórios, como o de solos, química e reprodução vegetal, o que é uma atitude sensata e elogiável.  Estas estruturas dariam suporte ao desenvolvimento sustentado das atividades agrícolas regionais e serviriam aos objetivos de formação profissional, através da instalação, pela UEG, de cursos tradicionais, como os de agronomia, química industrial e de formação de tecnólogos, com fundamento nos interesses comuns dos parceiros.





Justifica-se, neste momento, a união das lideranças políticas e de todas as forças da região, e do próprio estado, por este objetivo, pois todos precisam de caminhos seguros, com fundamentos não só na tecnologia de produção, em busca da produtividade e da viabilidade econômico-financeira das empresas. É chegada a hora também da produção de conhecimentos. Desta forma será possível garantir os melhores resultados sócio-ambientais para que haja desenvolvimento com sustentabilidade, ou seja, com perpetuação da capacidade produtiva das áreas envolvidas e bem estar econômico e social para a população da região.





Ângelo Rosa Ribeiro, assessor técnico da SEGPLAN, ex-deputado estadual e ex-secretário estadual das pastas de agricultura e planejamento.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Zezão - um comissário boiadeiro valentão




Quirinópolis sempre se destacou pela força de sua pecuária, que gerou emprego e renda para o desenvolvimento regional. Não foi só boi que de lá saiu, aos milhares, desde a época dos coronéis, para o mercado externo e interno. Também, mão-de-obra qualificada. Neste caso se insere a história de  José Alves Rodrigues - o Zezão, que nasceu, neste município, em 7 de julho de 1926. 

Com o progresso, as rodovias e o transporte por caminhões empurraram as histórias dos peões boiadeiros para o passado, deixando apenas a nostalgia de tempos outros em que homens, bois, mulas e cavalos interagiam com a natureza exuberante. Estes personagens ao enfrentarem dificuldades às vezes indizíveis, em viagens que duravam meses, tangiam uma boiada de mais de mil reses, desde o coração do planalto central, até alcançarem a região Noroeste Paulista, passando pela região do Triângulo Mineiro ou pelo antigo estado do Mato Grosso. 

Por isso é importante o testemunho deste personagem sobre a condução das boiadas, pelas históricas estradas boideiras do Sudoeste Goiano. Certamente, o Zezão é um dos poucos comissionários boiadeiros autênticos, ainda vivo.


Zezão morou em Qurinópolis, até aos 14 anos. Em 1941,  mudou-se para Jatai, indo morar numa fazenda, onde permaneceu por 7 anos.  Diante de sua vocação, começou a viajar como peão boiadeiro  com o Tonicão Borges, conhecido comissário daquela cidade.  Trabalhou com ele uns 10 anos, sempre viajando para São Paulo e Mato Grosso, em uma época em que havia muitas estradas boiadeiras, quase sempre mal definidas, na imensidão dos cerrados. Levava grandes boiadas, em média 1200 bois de cada vez. De Jataí a São Paulo eram necessárias 40 marchas. Tomava-se a direção do rio Aporé, que atravessava para chegar a Cassilândia (MT), depois Aparecida do Taboado, no mesmo estado, onde atravessava o rio Paraná, na balsa do Semi Rodrigues. Pelas margens deste rio, chegava-se a Andradina, no Estado de São Paulo. Outro caminho era seguir a velha rota por Quirinópolis. Neste caso, passava-se  por Santo Antônio da Barra, Santa Helena, Quirinópolis e São Simão, em Goiás, de onde se chegava a Monte Alto, em Minas, para, depois de atravessar o rio Grande, chegar a Auriflama, já na região Noroeste de São Paulo.

Em 1962, Zezão mudou-se para Inhumas (GO), após fazer uma "arte" em Jataí. Como afirma, “aí teve que sair de lá.”. Ali, trabalhau numa fazenda por algum tempo. Em 1968, mudou-se para Presidente Prudente (SP). Lá, ele recebia o gado que vinha de Goiás e levava para outras fazendas daquela região. Em 1972, retornou à Goiás, para de novo morar em Inhumas.  Aí, tornou-se comissário. Comprou comitiva e começou a viajar. Pegava gado no interior de Goiás e levava para o Pará ou São Paulo. Em 1975, mudou-se para o Estado do Pará para mexer com fazenda. Em 1982, retornou a Inhumas, comprou outra comitiva, outra tropa e recomeçou a sua vida de comissário boiadeiro. Nessa época era grande a concorrência dos caminhões boiadeiros.
A viagem da qual tem as melhores lembranças foi uma com destino a São Paulo, como descreve:  "Foram 142 dias de viagem. Era boiada grande. Levava 10 peões - além do cozinheiro, tinha dois primeireiros, dois segundeiros, dois chaveeiros e dois culatreiros. Todas as viagens eram boas, mas esta do Alfredo Gibran, não esqueço. Levei 1.723 bois, entreguei 1.722. Só lá no Taboado (MS), que um boi quebrou a perna. Foram 106 marchas. Nunca vi um trem bom daquele jeito. Durante o dia eu levava ela cortada. A comitiva era uma só. Soltava uma parcela na frente, ela comia o dia inteiro... Só dormia junto, no curral de corda" Ao concluir disse: "Seu Gilbran ficou tão admirado que me deu uma mula de presente, ...que já morreu". Viagem ruim ele fez também, como resume: "Um dia, numa viagem,  dei um tiro num caboclo, que estava numa camionete. Depois disso a polícia me chamou, fui montado na  mula até a delegacia, expliquei tudinho e a delegada me liberou. Era uma camionete cheia de gente. O sujeito me ofendeu, a camionete saiu e eu atirei e acertei justo nele, mas não moreu. Eu só viajava armado. Naquele tempo podia.”


Depois disso, Zezão viajou até 2005, quando parou, aposentado. Certamente é um dos mais velhos comissários de boiada ainda vivo. Em 2007, ainda podia ser encontrado na periferia de Jussara (GO). Estava com 81 anos completos. Apesar da idade, mostrava-se perspicaz e brincalhão. Mantinha o bom humor e cuidava de uma chácara próxima ao bairro em que morava.


A história que este blog ora registra, bem representa a saga de muitos outros comissários, que desde o início do século passado, com seus peões boiadeiros e sua tropas sempre bem treinadas, enfrentaram todo tipo de perigo, em longas jornadas, sertões afora, por  solitárias estradas boiadeiras, conduzindo a mais importante das mercadorias daqueles tempos, as boiadas, e dando suas contribuições para o desenvolvimento do Sudoeste Goiano e de Goiás.

Expressões regionais usadas nos textos:
 
Comissário da boiada: responsável pelo transporte da boiada, que a recebe na origem e entrega no destino. Em geral, contratava  os peões e possuía tropa própria (mulas, burros, égua madrinha).
Ponteiro: o que vai na frente da boiada, puxando o gado com o berrante.
Premereiros: os que vão nos flancos dianteiros da boiada.
Chaveieiros: os que vão nos flancos traseiros da boiada.
Culateiro: o que vai por último, na culatra, tocando o gado e cuidando para que nenhuma rês se perca ou fique de arribada.
 
Texto baseado em entrevista publicada no site www.fotomemoria.com.br.

O Comissário e a Comitiva


 

As comitivas eram formadas por grupos de peões de boiadeiro e suas montarias, geralmente mulas ou burros, embora também fossem usados cavalos, que faziam o transporte das boiadas pelas estradas de terra, chamadas de “estradões”, de uma fazenda à outra ou da invernada para o matadouro, percorrendo grandes distâncias, durante dias a fio, que eles chamavam de “marchas”, antes do advento dos caminhões-gaiola e das estradas pavimentadas.

Esse fenômeno sócio-econômico e cultural ocorreu na região compreendida pelo norte do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, praticamente extinguindo-se no Estado de São Paulo na década de oitenta do século vinte, valendo notar que a última boiada conduzida para abate na cidade de Barretos foi no ano de 1.986, pelo comissário Wilson Pimentel.

Considerando a grande abrangência dessa atividade no tempo e no espaço, é importante salientar que a terminologia empregada, bem como os usos e costumes dos boiadeiros, podiam variar.

O comissário era o dono da comitiva. O ponteiro era um peão experiente e conhecedor das estradas, que ia à frente tocando o berrante, nos momentos apropriados, para atrair, estimular a marcha ou acalmar o gado e dar sinais para os demais peões. Os rebatedores eram os peões que cercavam o gado, impedindo que se espalhassem. Os peões da culatra iam na retaguarda da boiada. Os peões da “culatra manca” ficavam para trás tocando os bois que tinham problemas para acompanhar a marcha da boiada, por cansaço, ferimento ou doença. O cozinheiro saía mais cedo que os demais integrantes da comitiva, conduzindo os burros cargueiros com suas bruacas, nas quais levava os mantimentos e tralhas de cozinha, até encontrar um rio em cuja margem pudesse preparar a refeição, ou seja, “queimar o alho”. Conforme destacado acima, a terminologia podia variar de região para região.

A comida era constituída, basicamente, de arroz de carreteiro, feijão gordo, paçoca de carne feita no pilão, e carne assada no “folhão” (chapa), podendo variar, conforme as circunstâncias, de região para região ou de comitiva para comitiva, de modo que não havia um cardápio único para todas.

O berrante é uma buzina feita de chifres de boi unidos entre si por anéis de couro, metal ou chifre mesmo, e era usado pelos ponteiros para atrair, estimular ou acalmar o gado e dar sinais aos demais peões da comitiva. Ele emite sons, que podem ser graves ou agudos, dependendo do toque, a partir das vibrações do ar feitas pelos lábios do berranteiro em contato com o bocal mais estreito do instrumento. Esse bocal varia de acordo com a forma dos lábios, podendo ser mais raso ou mais fundo.

São vários os tipos de toque do berrante, que se diferenciam de acordo com a situação. No concurso de berrante realizado no setor da “Queima do Alho” da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, são exigidos dos concorrentes os seguintes toques: 1º – saída ou solta: toque sereno destinado a despertar a boiada pela manhã; 2º – estradão: toque que reanima a boiada na estrada, é repicado, semelhante ao som do soldado marchando; 3º – rebatedouro: toque de aviso de perigo, semelhante ao toque de clarim; 4º – queima do alho: aviso de que o almoço está pronto; 5º – floreio: toque livre, podendo ser uma música.

O peão de boiadeiro, integrando a sua comitiva, percorria léguas e mais léguas pelo sertão, durante dias e até meses, tangendo o gado no lombo de mulas, vivendo toda a sorte de aventuras no estradão, ora enfrentando situações de perigo, como quando a boiada estourava ou tinha que cruzar um rio caudaloso, ora vivendo romances com as mocinhas nas vilas por onde passava, ora se divertindo com os companheiros à noite nos pontos de pouso, onde tocavam viola e dançavam o catira.

O peão de boiadeiro por onde passava despertava a paixão das moças, a admiração dos jovens que queriam tornar-se um deles e o respeito dos demais homens, tal como os cavaleiros andantes da Idade Média. Garbosos em seus trajes típicos, com chapéu de aba larga, lenço no pescoço, guaiaca, bombachas, botas de cano alto e chilenas tinindo a cada passo. Suas mulas eram arreadas com esmero, a tralha cheia de argolas de metal reluzente (alpaca). Na garupa, além da capa “Ideal” no porta-capa de vaqueta, cheio de franjas e “margaridas”, pendia da anca direita o “cipó” (laço) de couro de veado mateiro.

Pena que o progresso tenha decretado o fim do chamado “transporte elegante das boiadas”, restando dos peões de boiadeiro apenas as lembranças e as saudades...

Transcrevo aqui os versos finais da moda de viola "Saudosa Vida de Peão", de autoria de Peão Carreiro e Tião Carreiro, interpretada pela dupla Tião Carreiro e Pardinho:

"... Ao deixar o estradão

Para o meu coração

Foi um forte veneno

Minha rede macia

Que nela eu dormia

Até no sereno

Expressos boiadeiros

Deixou os pioneiros

Com a vida arrasada

Acabou-se o berrante

O transporte elegante

De uma boiada "



Transporto para cá, igualmente, os derradeiros versos da moda de viola "Ponteiro de Boiada", de autoria de Joaquim Moreira da Silva, gravada pela dupla "Carreiro e Carreirinho":



"... O transporte de boiada

Para nós velho peão

Não era só por prazer

Era o nosso ganha-pão

Com o tempo, infelizmente,

Veio os grande caminhão

Asfaltaram nossa estrada

Deixando toda a peonada

Maldizendo a evolução."



Não é à toa que as mais belas modas de viola, legítimas manifestações do rico universo cultural do homem do campo, que nos fazem chorar de emoção, têm como tema a vida do peão de boiadeiro. Disso são exemplos as modas: “Boi Soberano”, “Ponteiro de Boiada”, “O Menino da Porteira”, “Boi Fumaça”, “Os Três Boiadeiros”, “A Volta do Boiadeiro”, “Saudosa Vida de Peão”, “Berrante de Ouro”, “Mágoa de Boiadeiro”, “Velho Peão”, “Travessia do Araguaia”, “Boiadeiro Errante”, além de outras tantas que nem daria para enumerar neste espaço exígüo.

O maior movimento das comitivas passou a ser em direção à cidade paulista de Barretos, a partir do ano de 1.913, quando se instalou ali o primeiro frigorífico do Brasil. A Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos foi criada no ano de 1.956, inspirada nas comitivas e na figura do peão de boiadeiro.


 Aguinaldo José de Góes

Comissário


terça-feira, 5 de abril de 2011

Boas notícias do Entorno de Brasília

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O Entorno de Brasília se destaca como pólo de Desenvolvimento

Matéria publicada: sexta-feira, 25 de setembro de 2009.

Veja na íntegra, mais uma belíssima matéria feita pelo Jornal Diário da Manhã de Goiânia, escrita por Ângelo Rosa Ribeiro, que é médico-veterinário, assessor especial da Seplan, ex-deputado e ex-secretário estadual de Agricultura e de Planejamento de Goiás, a respeito da nossa região, dando ênfase aos municípios de Cristalina e Luziânia.

Acostumados com os piores relatos sobre a chamada região do Entorno do Distrito Federal (DF), tida como depósito de problemas sociais e mazelas, onde são encontrados os mais baixos índices de renda per capita do Estado de Goiás, os entusiastas pelo crescimento da economia goiana se alegram ao conferirem as boas notícias, que de lá estão surgindo.
A inserção do Distrito Federal em espaço geográfico goiano trouxe para a esfera do governo de Goiás as consequências de sua existência. Estima-se em 1,1 milhão a população goiana nos municípios do Entorno do DF, que cresce de forma desordenada, às mais altas taxas efetivas anuais. Em decorrência disso, estabeleceu-se ali um perverso quadro de carências de infraestruturas e serviços em áreas essenciais, como segurança, saneamento – água, esgoto, gestão de resíduos sólidos; asfaltamento urbano, habitação, preservação do meio ambiente e outros, além de grande deficit de postos de trabalho para a população.
O Entorno do DF é formado por 19 municípios em diferentes estágios de desenvolvimento. Se por um lado a construção de Brasília deu origem aos problemas atuais, por outro, a sua presença constitui-se em importante indutor para o desenvolvimento dos municípios ao seu redor. Com seus 2,4 milhões de habitantes de alto poder aquisitivo e na ponta do Eixo Goiânia-Anápolis-Brasília, que congrega mais de seis milhões de habitantes, a capital transforma-se em poderoso centro consumidor e irradiador de ações para o desenvolvimento. A sua condição propicia vantagens, como facilidade na busca de recursos governamentais. Além disso, enseja maior oportunidade de participação na formulação de políticas de interesse regional.
Alguns municípios do Entorno do DF já aproveitam estas oportunidades e transformam a realidade de suas economias. Luziânia, cuja população cresce a uma taxa 4,7% ao ano, possui hoje cerca de 200.000 habitantes, mesmo assim, consegue dar resposta em termos de crescimento econômico. Sua participação no comércio exterior garantiu-lhe o primeiro lugar em Goiás, ao exportar, de janeiro a julho deste ano, US$ 184,9 milhões, basicamente com o complexo-soja e alguma participação do setor de conservas alimentícias. Os principais destinos foram China, Países Baixos (Holanda), Espanha, Tailândia e Alemanha. A atividade das empresas exportadoras criou um novo ciclo de desenvolvimento na cidade, impulsionando setores, como o da construção civil e da prestação de serviços, com geração de empregos e renda. O município de Cristalina é outro destaque. Ali já são cultivados cerca de 300.000 ha de agricultura diversificada. Todavia, é na irrigação que o município se agiganta, com 570 pivôs instalados e uma área de 47 mil hectares irrigados. É um dos maiores, senão o maior produtor nacional de batata, trigo, milho doce e alho, sob irrigação e maior produtor de cebola e café irrigados, em Goiás. Tudo isso, cultivado em uma região considerada até recentemente imprópria para a agricultura.
Para apoiar o desenvolvimento regional, o governo estadual vem incrementando várias ações, com a utilização de instrumentos importantes, como a disponibilidade dos recursos dos programas Produzir, Fundo Centro-Oeste e de articulação, para parcerias, que envolvem o Sebrae, empresários e os governos federal, distrital, estadual e municipal. Como exemplo desta disposição, determinou a Seplan a implantação de 80 barragens destinadas ao armazenamento de águas das chuvas, a serem utilizadas no período de estiagem, em iniciativa que possibilitará triplicar a área irrigada na região de Cristalina. Resulta de parcerias a implantação, também em Cristalina, de três grandes empreendimentos industriais. A multinacional francesa Bonduelle, maior do mundo no setor de processamento de vegetais e as empresas Incotril e Fugini, que são também do ramo e que produzirão atomatados, sucos e polpas de frutas. Essas empresas juntas prometem investir, em curto prazo, mais de R$ 230 milhões e gerar 1.400 empregos diretos e 9.800 indiretos no município. Em todo o Entorno do DF, através de parcerias com o governo federal, o Estado enfrenta as complexas questões de segurança, saneamento, habitação, meio ambiente, saúde, ocupação de espaços urbanos e rurais, entre outras. Entretanto, o crescimento populacional desordenado continua sendo seu principal problema. Se não enfrentado de forma efetiva, o risco será o da propagação dos conflitos sociais, sobretudo pelo agravamento do desemprego e da situação socioeconômica, como um todo.
Diante do imenso desafio, os governos deverão intensificar esforços, através de ações, que resultem em aumento da produção e da produtividade agropecuária, em instalação de pólos industriais e de serviços, com políticas de apoio, sobretudo aos pequenos empreendimentos, essencialmente geradores de emprego e renda. Há condições favoráveis para o desenvolvimento de atividades como confecções, calçados, alimentos, bebidas, tecnologia da informação e comunicação, turismo e outras. Será preciso consolidar o Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste, FDCO-Sudeco, como fonte permanente de recursos para os setores produtivos, infraestruturas e melhoria nas áreas de segurança, educação, saúde e outras de interesse social. Apoiar a criação de consórcios públicos para a gestão de resíduos sólidos. Acelerar a execução de planos diretores municipais e aprimorar a política tributária e sanitária, de forma a maximizar o intercâmbio entre produtores e consumidores goianos e brasilienses, entre outras ações.
Em resumo, a região continua com muitos problemas, mas vem envidando esforços para superá-los. Há muitos estudos, projetos e ações que apontam os caminhos para o seu desenvolvimento. Como se vê, algumas iniciativas ali implantadas chamam a atenção de todo o País. Cristalina e Luziânia são surpresas muito agradáveis. Por sinal, a primeira realiza neste final de semana o Festival do Alho, Batata e Cebola – ABC da Boa Mesa, com palestras, concursos de redação e outras atividades, sob comando de grandes chefs, em consonância com o elevado astral do momento que vivencia, mostrando a força de sua gastronomia e cultura. Estes municípios oferecem seus exemplos, como modelos, para que todo o Entorno do DF ganhe um brilho ainda maior, destacando-se entre as regiões mais desenvolvidas do Estado.
Fonte: Diário da Manhã


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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Elina - autodidata da Cidade de Goiás

Aos jovens professores

            A educação é tão necessária como o alimento. Do alimento vem a força do organismo; da educação, o vigor da inteligência. A alimentação bem balanceada modifica o corpo; a educação bem dirigida altera o comportamento humano.
            O alimento que agora estão aptos a oferecer, além de um imperativo social, ao visar o aperfeiçoamento técnico-científico do homem, é também uma exigência espiritual, na medida em que a educação visa à ascensão da alma.
            O professor com seu trabalho modula o caráter humano. É preciso que o faça com dedicação e amor. Sua ação repercutirá não só na sociedade em que vivemos, mas na que viverá os nossos filhos.
            Queremos externar o nosso reconhecimento e homenagem ao trabalho de seus mestres, cuja ação amanhã estarão a repetir com ainda maior proficiência, a exemplo da candeia primitiva, que está sempre a acender outras candeias, com a mesma chama, o mesmo calor e a mesma luminosidade, e o que é mais importante: sempre com renovado entusiasmo e devotamento.

Elina de Goiás – Assessora parlamentar do ex-deputado Ângelo Rosa Ribeiro


Aos jovens contabilistas

            O complexo sistema econômico de uma nação começa a ser contabilizado no orçamento doméstico ou na administração de uma pequena empresa, seja ela de qualquer natureza.
            Fayol, conhecido engenheiro e administrador francês, a respeito da Contabilidade, disse: È o órgão visual da empresa. Deve permitir que se saiba, a todo instante, onde estamos e para onde vamos.” Claro está que o seu papel é extraordinariamente relevante. Ao manusear números ou dados contábeis, esteja onde estiver, faça-o com profundo senso de responsabilidade. Não os manipule tendenciosamente. Não aceite falsear sua expressão verdadeira. A nação brasileira está a exigir práticas transparentes. O Brasil sério e seguro que queremos depende dos registros e dos controles de atos e fatos administrativos expressos em termos de valor, de cuja responsabilidade é o contador.
            Nenhum sistema e nenhuma relação humana podem subsistir se o valor da verdade é posto em questão, se a mentira é aceita, para atingir qualquer objetivo. Ajude a construir com atos dignos uma sociedade em que prevaleça o sentimento de respeito a si mesmo e aos outros.

Elina de Goiás – Assessora parlamentar do ex-deputado Ângelo Rosa Ribeiro