quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Clarões: A prosperidade vivida na lama





A difícil luta do peão que  tocava a porcos
 
            As fazendas do Sudoeste Goiano,  do início até meados do século passado, além da criação de gado bovino, dedicavam-se também a produzir  milho e suínos, mercadorias de fácil comercialização que tiveram importante papel na economia regional, como uma fonte de renda mais rápida e complementar para as famílias dos pioneiros. Pode se dizer que essa prática era típica da região de Quirinópolis que na época liderava a produção de suínos em Goiás.


O comum era o porco ser abatido gordo, transformado em toucinho ou banha, linguiça e outros derivados para depois o produto ser levado em carro de bois para um centro de maior consumo, como Uberabinha, hoje Uberlândia, no Triângulo Mineiro, onde era vendido ou trocado por outras mercadorias. 

 Na época havia demanda também para porco vivo e aí residia uma grande dificuldade - o transporte. Segundo informações dos moradores mais antigos, transportar suínos vivos em carros de bois era difícil e contraproducente. Mas a cavalo, também não era fácil. Bem pequenos, os porcos passavam em lugares, como nos matagais, que com cavalo não era possível. O jeito era tocá-los, a semelhança de uma boiada. Só que, no caso, a porcada tinha que ser  levada mesmo à pé.


            No início da viagem se exigia grande  preparo físico do, digamos, "peão porqueiro."  O que ia a frente da porcada, carregava nas costas um saco de milho para ofertar alguns grãos ou mesmo espigas do precioso cereal e assim manter o interesse do rebanho pela viagem. As vezes tinha que  acelerar o passo, cercar uma ponta rebelde, buscar outra que ficou de arribada,  depois, os bichinhos iam ficando obedientes. Andavam em filas e bem depressa. Só não podiam ver um brejo, ou melhor, os peões é que não gostavam de ver, pois a manada aí costumava se espalhar para  dar  aquela fuçada costumeira. Deste ambiente nunca estavam dispostos a sair para continuar a viagem. Dava muito trabalho recolocá-los em marcha.  Quando a noite chegava, dormiam perto uns dos outros, amontoados, por isso a viagem tinha que recomeçar no outro dia muito cedo, antes que se espalhassem.


  Para levar a porcada, os compradores de suínos recrutavam gente de toda a região, que ia sempre a contragosto e reclamava da distância, das dificuldades de lidar com os animais, mas a causa verdadeira é que, tocada a pé, por  onde a porcada  passava, sujava o caminho com lama e com seus excrementos dos quais a turma não escapava. O serviço era de fato muito sujo e mal cheiroso. Este trabalho não gerava um boa fama para o peão, ao contrário dos colegas que se dedicavam a tocar uma boiada. 

        Quirinópolis, desde a época da Capelinha, foi um importante produtor de suínos do tipo banha. Há relatos de compradores que vinham de Buriti Alegre-GO, um município que naquele tempo era lugar de intermediação de negócios agropecuários. Os compradores passavam por Santa Rita, hoje Itumbiara, e chegavam ao Rio dos Bois para comprar porcos nas fazendas, do lado de cá.  

A despeito das dificuldades de comercialização, a criação de porcos teve grande importância sócio-econômica na época do desbravamento da região Sudoeste Goiana, sobretudo nos municípios de Quirinópolis e Caçu. Para os pioneiros significava garantia da sobrevivência ou prosperidade para sua família. Era ao mesmo tempo excelente fonte de energia, proteínas e de renda para movimentar a incipiente economia regional.

Ângelo Rosa Ribeiro, com base em relato de seu pai senhor Francisco Rosa Ribeiro.

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