A trajetória de São Simão
O lugar onde hoje se encontra a cidade de São Simão era considerado um santuário sagrado, construído pela natureza e contemplado por
civilizações ameríndias desde tempos imemoriais. Caprichosamente o largo e caudaloso rio Paranaíba ali se estreitava em um canal de rocha basáltica de cerca de cinco quilômetros de extensão, palco de majestoso
e incomum espetáculo das águas.
A partir de 1930, na margem esquerda do misterioso canal formado no Rio Paranaíba, na divisa dos estados de Goiás e Minas Gerais, começou a se desenvolver um povoado de garimpeiros e pescadores.
Naquela época, os governos iniciaram a construção de uma ponte a ligar os dois estados, que foi inaugurada em 28 de outubro de 1935, no dia de São Simão. Com a ponte houve a instalação de um posto fiscal e as moradias foram surgindo em suas adjacências. Os benefícios promoveram o incremento da população do lugarejo que se tornou uma pequena cidade e que ficou conhecida como Canal de São Simão. Os antigos moradores Alberto Reis Machado, Andiara Bitencourt e Antonio
Santarem são considerados pioneiros e fundadores de São Simão.
Em 24 de junho de 1957, pela Lei Municipal 24, a comunidade do Canal foi elevada a condição de distrito de Paranaiguara. No ano seguinte, por força da Lei Estadual 2.108, de 14 de novembro de 1958, foi promovida a município com o denominação de São Simão. Seu primeiro prefeito foi José Waldemar da Silva.
A construção da hidrelétrica fez submergir a antiga cidade. No dia 3 de outubro de 1975 foram instalados, oficialmente, os poderes Executivo e Legislativo do novo município de São Simão, sendo nomeado prefeito, nessa data, Salvador José Jacinto.
A hidrelétrica e o Lago Azul
Na década de 60, sob pretexto de desenvolver o país, a região do canal de São Simão foi escolhida para sediar um projeto de transformação do potencial dinâmico das águas do rio Paranaíba em
eletricidade. Sacrificaram o belo canal de imenso apelo turístico, que encantava os seus observadores. No lugar surgiu uma hidrelétrica e o seu o grande lago, o
Lago Azul, como resultado de gigantesco empreendimento patrocinado pelas Centrais Elétricas de
Minas Gerais, CEMIG. Felizmente, o belo
ganhou nova configuração e se espalhou por 80 quilômetros à montante a alegrar
os municípios ali situados. Com as obras da barragem milhares de
funcionários se juntaram a população do lugar. São Simão ganhava o status de uma cidade desenvolvimentista. Todavia, sua vocação não era só a de produzir energia elétrica. A
localização geográfica privilegiada, no
centro do país, somada a existência de generoso leito do rio Paranaíba, sob forma de canal navegável,
que se estendia por todo o Sul do país, reservaria a São Simão um papel
logístico estratégico: o de servir ao transporte de mercadorias e commodities agrícolas como importante hidrovia a ligar o Sudoeste Goiano aos portos do Sudeste do país.
A grande transformação
Com tanto potencial o município se
tornava um dos mais promissores do Estado.
Mas era preciso deixar de lado o conservadorismo e avançar para o futuro, através da construção de um projeto político-administrativo consistente e bem sucedido. Nesta missão se envolveram o deputado estadual Ângelo Rosa e lideranças locais, entre estas José
Leite de Castro que deve ser citado pelos seus esforços e para homenagear a todos que lutaram para a transformação da cidade.
Na busca de
recursos o grupo conseguiu viabilizar junto ao governo do Estado o asfaltamento do trecho da GO-164 para Quirinópolis, melhorando o acesso a capital do Estado e para o distrito de Itaguaçu; a construção de um
moderno ginásio de esportes, a rede
de iluminação pública da Vila Bela e a instalação da agência da Caixa Econômica de Goiás, a CAIXEGO. Com recursos estaduais a prefeitura asfaltou boa parte da cidade. Inclui-se nesta lista as obras de construção da estratégica ponte sobre o rio Verdinho, que
atendia diretamente os interesse
do distrito de Itaguaçu, entre outros
benefícios.
Como se pode observar foram várias as conquistas da época, mas o trabalho político era
a prioridade. Naquela época se integrou ao grupo José Márcio de Vasconcelos Castro, o Marcinho, tido como
um dos melhores quadros da cidade. Sua inclusão foi valorizada com a presença do governador Henrique Santillo que veio para recepcioná-lo. Mais
tarde Marcinho se tornaria prefeito, como era o objetivo do trabalho político planejado.
Com a chegada de Márcio iniciava-se um período de busca de soluções definitivas para São Simão. Com base em conhecimentos que adquiriu sobre
tributação em usinas hidrelétricas, mais especificamente sobre os direitos dos
municípios por parcela do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, ICMS, gerado por elas, que no caso de São Simão chegaria a 25% dos valores da venda de energia elétrica efetuada pela CEMIG
- Centrais Elétricas de Minas Gerais S/A, instalada no município. Por isso o prefeito
acompanhado pelo deputado Ângelo Rosa solicitaram ao
governo de Goiás o direito de adicionamento
ao índice de ICMS de São Simão do percentual relativo a produção de energia do município,
o que foi deferido, de forma inédita, após estudos procedidos
pela Procuradoria Geral do Estado, no governo Iris Rezende.
Não seria demasiado ressaltar que esta foi a principal conquista de
São Simão em toda sua história, pois
significou sua efetiva participação na riqueza que produzia e proporcionou os
recursos para que a cidade se transformasse em uma das mais importantes de
Goiás.
Foi possível
a partir desta conquista deslanchar um grande projeto administrativo,
com ênfase na saúde, educação, na questão social e na construção de infraestruturas em sintonia com a vocação municipal, como praia
artificial e o complexo turístico do
Lago Azul. Com os recursos obtidos promoveu-se uma verdadeira reestruturação urbanística com a realização de obras que enriqueceram a arquitetura da
cidade. Além disso, o prefeito Márcio conseguiu
conduzir exemplarmente as negociações institucionais preparatórias para
a viabilização do projeto hidroviário do rio Paranaíba, com
estruturação do terminal portuário fluvial
da Hidrovia Paranaíba-Paraná-Tietê. Em
seguida, em parceria com o governo estadual, a administração municipal projetou e
consolidou o Distrito Industrial de São Simão e trouxe importantes
empreendimentos, que fizeram a diferença
em termos de economia e desenvolvimento da cidade e da região.
Neste período, com a visão e tirocínio de um verdadeiro estadista, o prefeito Márcio realizou um notável trabalho, o que por sinal foi reconhecido pelo governador à época. Nos anos seguintes o
município teve dificuldades com constantes cortes de sua receita, através de
ações judiciais contestatórias de sua privilegiada condição fiscal e tributária,
que complicaram administrações posteriores.
Sem dúvida, neste período São Simão deu um grande salto de desenvolvimento em razão dos fatos citados e da convergência e sinergia de fatores favoráveis. Ao que tudo indica, nada poderá impedir o desenvolvimento deste município.
Deus colocou sua mão sobre os destinos da cidade
e suas lideranças construirão um futuro
promissor.
Por Ângelo Rosa Ribeiro, de Quirinópolis-GO. Foi professor da EV-UFG, deputado estadual por GO (2X), secretário estadual de agricultura GO (2X), secretário estadual de planejamento, superintendente da SEMARH GO, chefe de gabinete da PGE-GO. Atual residente e produtor rural em Quirinópolis-GO.
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