terça-feira, 28 de setembro de 2021

Gouvelândia - ascensão e queda do prefeito Júnior Macedo

                                   


                                

Entre tantas histórias de administrações públicas,  algumas chamam a atenção por terem desfechos inusitados, como a do exemplo que a seguir será comentado. 

Por volta do ano 2000,  assumia a prefeitura de Gouvelândia, o candidato Ademar  Macedo dos Santos  Júnior, com a logo ' Jr. Mais Cedo', com proposta de renovação da  política local. Era jovem, não tinha  a rejeição dos políticos mais velhos e agradou  o povo, sempre defendendo  mudanças para melhorar a vida das pessoas. De fato, era uma revelação na política local.

Foi fácil a tarefa de eleger o Macedo,  mas a vitória que lhe concedeu poder, logo  iria cobrar-lhe um alto preço. 

Ele precisava primeiro voltar-se para comunidade que o elegeu,  buscar  pessoas com conhecimento das demandas e dos compromissos de campanha, que tivessem capacidade de gestão, credibilidade pública,  qualificação técnica exigida, sensibilidade  politica e idealismo  para arrumar logo  a casa e tocar a gestão, no momento em que a população estava disposta a esperar.

Mas,  isso não aconteceu.  Sem experiência, não  se aprofundou na busca de gente capaz para nomear seu secretariado e  constituir   um conselho de administração  experiente para ajudar no planejamento e  tomada das principais decisões.    

 Com o tempo, os problemas foram se agravando.  O seu plano de obras não se  encaixava mais no seu orçamento. Para alguns, faltaram humildade e realismo. Para outros, um ar de vaidade e arrogância tomava conta do prefeito e de seus assessores.  As más notícias começaram a se  espalhar.

O prefeito buscou recursos no governo estadual e até em Brasília com apoio de seus deputados, mas os recursos não chegavam no tempo certo. Preocupado,  com muitas obras em andamento, procurou a opinião de seu amigo, o ex-deputado Ângelo Rosa, que hoje pode dar  seu testemunho. 

Fiquei honrado pela consulta, afinal foi de minha autoria a iniciativa da emancipação de Gouvelândia. Depois de ouvi-lo, lembrei a ele  que um prefeito deve sempre dar seus passos,  conforme suas pernas,  não fugindo dos limites do orçamento. Economizar no início para investir no fim. Não deixar  os críticos sem adequada resposta e ser sempre transparente,  criterioso,  justo e honesto,  não dando motivos para o povo desconfiar de sus ações.  Manter bom relacionamento  com os parceiros do poder legislativo, ministério público e  judiciário, O resto é consequência do dia a dia, de seu aprendizado, performance e  da sua  liderança pessoal.

De forma pouco agradável, soube que tudo que não podia acontecer já tinha acontecido. Os agentes políticos  experientes e idealistas que podiam ajudar,  já o criticavam. Acabara  a confiança e a colaboração espontânea da população.  

Isolado, o prefeito só recebia pedidos dos  mal intencionados  e de aproveitadores. Foi aí que apareceram  os advogados para evitar o agravamento das ações judiciais já em execução.  O prefeito,  na defensiva, teve que se afastar ainda mais do povo. No fim,  acabou sendo afastado do cargo. 

Como sempre acontece, fugiram dele os políticos que lhe ofereciam recursos e  os amigos de oportunidades. Ficaram com ele  a má fama, os advogados e os intermináveis processos na justiça

Nunca mais se viu falar do prefeito Júnior Macedo.  Era  um  jovem sonhador, que  parecia ter  muito futuro.  De fato,  teve a oportunidade de ser  prefeito e lutar pela sua querida cidade.

Seu insucesso muito nos ensinou. Seu sonho virou pesadelo, todavia, ainda hoje, a lição oferece subsídios válidos, como regras  básicas e sempre atuais para quem quer fazer uma boa e harmoniosa gestão.


sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Terras - nem de graça



 Antes da década de 50,  ninguém dava um cavalo arreado, indispensável para a lida com o gado  e a locomoção das pessoas, por um pedaço de terras que  tinham pouca ou nenhum utilidade. Mas, nem todo mundo pensava assim.

 Dois jovens passeavam com suas éguas ao estilo da época, quando foram surpreendidos por uma cutucada de um dono de terras, que ofereceu   8 alqueires de mata na beira do rio dos Bois, em troca dos dois animais que montavam. Ficaram muito animados, com a possibilidade de possuírem um pedaço de terra, mas pediram para falar com seus  pais.

Ao contarem a oferta, ficaram decepcionados com a resposta do pai: para que querem mais terra?  Não estamos dando conta da que já temos.

 Naquele  de matas densas os proprietários não possuíam máquinas, capital e nem mão-de-obra para desmatar,  destocar,  encoivarar,  queimar, preparar para o plantio,  semear, limpar   cultivar e, ainda tinha o fator chuva, que ali quase sempre faltava. Se colhesse, dependia do comprador, que não vinha, e do preço  que também nem sempre ajudava.   Se desistisse  no meio do caminho, a roça virava capoeira e mato de novo.

Mesmo assim, para os jovens que acreditavam no futuro,  o pai não estava com a razão.  



quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Quanto valia a terra? ( em rascunho)

Nascimento do Chico Preto - uma história real, com discriminação, ciúmes, medo e felicidade.

Conta-se que em 1914, um jovem,  bem afeiçoado, bom peão, cantor e  tocador de sanfona,  criado em terras do coronel Jacinto Honório, e que era conhecido por Negão Meia Légua, tinha um casamento confirmado com uma viúva rica, proprietária de muitas terras, nas Sete Lagoas. 

 O jovem, porém, se dizia  frustrado por ainda não possuir uma  boa mula, com arreata no estilo da época  para trabalhar e para ir nas festas, que ele gostava muito.  Com a pulga na orelha, sua companheira ia temperando o assunto, alegando que não tinha dinheiro para esta compra e que seus irmãos eram contra vender o gado dela, que era pouco.

Não adiantou.  A decisão  do Negão de comprar a mula tinha sido tomada. Deu 20 alqueires da terra que nem era só da patroa, sem consultar a ninguém,  por uma mula bem arreada e, de sobra, uma sanfona, que exigiu no negócio.  

Aí deu uma baita confusão. A família se revoltou  e não aceitou o negócio.  A situação ficou  ruim.  Ninguém  queria  vender a terra, nem o comprador aceitava as tramas de volta. O Negão, então, além de desmoralizado,  foi acusado de malandragem, de não ter juízo e  considerado uma ameaça para a família. A união dos dois descabeçados estava desautorizada.  Não tinha futuro.

Mas, o que ninguém sabia  era que a companheira do Negão estava grávida e isso piorou muito as coisas. Então, depois de acalorados debates, os do contra decidiram que não aceitavam um filho do Negrão na família. Teriam  que dar um fim na cria, antes do nascimento. Não podia vingar.  

A mãe estava muito contrariada,  estressada, mas queria o filho. Resistiu a ideia do aborto, mas temia pelo futuro do rebento no momento do parto. Na cabeça dela, iam sufocar o filho com um travesseiro. Desesperada, achava que isso ia acontecer.

 Foi preciso que um amigo da família, que veio de longe,  procurasse um padre que estava na região para o aconselhamento familiar.  A turma da paz decidiu celebrar uma missa por ocasião do parto para proteger a criança que ia nascer.

A intriga continuou, aliás ficou pior, mas a criança escapou. 

Era um menino negro. Sua mãe, Dona Josina,  o batizou como Francisco. Virou Chico Preto.  Foi bem criado, prosperou e se tornou o líder daquela família. 

Neste caso perdeu-se um pedaço de terra, mas a troca  compensou. Como diria o senhor Sebastião Ovídio Ribeiro, o Meia Légua:  naquele tempo a terra não valia nada mesmo.

  

Terra pra que?

 Antes da década de 40,  ninguém dava um cavalo arreado, indispensável para a lida com o gado  e a locomoção das pessoas, por terras que  tinham pouca ou nenhum utilidade. Mas, nem todo mundo pensava assim.

 Dois jovens passeavam com suas éguas, quando foram surpreendidos por uma oferta de um vizinho de seus pais, que ofereceu   8 alqueires de mata na beira do rio dos Bois, em troca dos dois animais. Ficaram muito animados, com a possibilidade de possuírem um pedaço de terras. Afinal eram apenas duas éguas, mas pediram para falar com o pai deles.

Ao contarem a oferta, ficaram decepcionados com a resposta do pai: para que querem mais terra?  Não estamos dando conta da que já temos.

 E não estavam mesmo, porque, naquela época, sem máquinas  tinham que ter capital e mão-de-obra para desmatar,  destocar,  enfaixar, queimar, preparar para o plantio,  cultivar e esperar a chuva, que ali sempre faltava e, por fim, enfrentar o preço  que também nem sempre ajudava. 

Na realidade, não era fácil. A vida do dono de terras foi sempre assim. 

O pai estava com a razão? 

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Cessou o show e o encantamento em um rio de Quirinópolis - história

https://goo.gl/maps/h4NbWC5xoeW75n4M7
Selecione o link acima e o insira em nova guia. Veja  foto de  Nádia Cruz


            Por volta de 1928, o senhor José Salomão  Lemos da Silva disponibilizou aroeiras  e protagonizou uma parceria para a construção de uma ponte que ficaria do lado de baixo de uma cachoeira existente no Rio São Francisco, a 3 km da sede de sua propriedade.
     Sua intenção era melhorar as condições de acesso para os moradores da região das Sete Lagoas e de viajantes que se dirigiam para Quirinópolis. Com a ponte cessaria a utilização dos perigosos vaus do referido rio.  Os fazendeiros da região doaram gado e desta parceria resultou a construção da ponte. 
             O conjunto surgido da união cachoeira e ponte tornou-se uma atração, pela sua surpreendente beleza. A queda das águas do rio produzia uma intensa nuvem de gotículas, sob forma de fumaça, que se dirigia para cima da ponte, ao soprar  de agradável corrente de ar que surgia  no ambiente da cachoeira. 
       Crianças de toda a região, ao passarem por ali pediam aos pais,  que quando chegassem na ponte, deixassem os vidros dos carros abertos, para serem pulverizadas pelos refrescantes chuviscos. Algumas subiam nas carrocerias das camionetes, outras preferiam passar à pé,  correr sobre o leito molhado da ponte, para se deliciarem com a "chuvinha" e com o som emitido pela cachoeira.
          Eram encantadores e  mágicos os efeitos naturais ali produzidos e, de fato, propiciavam momentos felizes e inesquecíveis  para a garotada e suas famílias. 
          Abaixo, o rio seguia o seu curso, a desviar-se de grandes pedras, em seu leito coberto por exuberante mata ciliar. Tudo isso a compor um bucólico panorama, um visual que não sai da memória de quem teve a oportunidade de viver a emoção de passar por aquele lugar.
            Com a construção de nova ponte,  à  montante da cachoeira, o tráfego  de veículos migrou para nova direção. Os proprietários das terras, criadores de gado, fecharam o corredor para rodovia e isolaram a ponte, que já estava necessitando de reforma. Com o passar do tempo a ponte caiu.  
Fecharam as portas do show
        Para o povo, que não pode mais passar por ali,  o sentimento é  de que  quebraram a ponte de tanta tradição e encantamento. Sobraram apenas as ruínas da velha construção.  A estrada que dava acesso ao lugar, foi bloqueada.  Fecharam as portas do show,  daquele espetáculo natural, que atraia olhares e  era objeto de contemplação.
              A área foi doada ao poder público pelo casal pioneiro José Salomão Lemos da Silva  e Francisca Jacinto. Nos finais de semanas e feriados, uma multidão  procura aquele lugar para se divertir.
        Quem sabe um dia o poder público municipal  possa resgatar este patrimônio, reconstruir a ponte da chuvinha, viabilizar uma estrutura nova, permanente  e ecologicamente correta. 
       Ponte Quebrada, como hoje é conhecida,  é uma designação que não faz jus a um lugar que tem tanta  história - a ponte foi o primeiro bem público de porte construído em parceria  pelos fazendeiros da região -  em 1928. O lugar foi sede da primeira hidrelétrica da cidade de Quirinópolis e o conjunto ponte-cachoeira foi, enquanto existiu,  uma atração memorável.
      Tudo  vale  a pena:  sonhar,  valorizar a cachoeira, construir uma ponte, resgatar a chuvinha,  a paisagem bucólica, a beleza das correntezas e  a magia do lindo lugar, inclusive como ponto de fortalecimento do turismo  ecológico em Quirinópolis.  Quem sabe agora não é hora de se articular  uma nova parceria. Lembra-se de como foi a construção  da ponte? Ali há potencial para muito mais.

    Por Ângelo Rosa Ribeiro, natural de Quirinópolis-GO, foi professor da EV-UFG, deputado estadual por 2 mandatos, secretário estadual de agricultura por 2 vezes, secretário estadual de planejamento, diretor de credito agroindustrial do BEG, presidente do PMDB de Quirinópolis, presidente do PSDB de Quirinópolis por 2 mandatos, superintendente da SEMARH-GO, chefe de gabinete da PGE-GO, hoje  produtor rural residente  em Quirinópolis-GO.
  

 https://youtu.be/RsTQ2tjtyD8
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