quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Quanto valia a terra? ( em rascunho)

Nascimento do Chico Preto - uma história real, com discriminação, ciúmes, medo e felicidade.

Conta-se que em 1914, um jovem,  bem afeiçoado, bom peão, cantor e  tocador de sanfona,  criado em terras do coronel Jacinto Honório, e que era conhecido por Negão Meia Légua, tinha um casamento confirmado com uma viúva rica, proprietária de muitas terras, nas Sete Lagoas. 

 O jovem, porém, se dizia  frustrado por ainda não possuir uma  boa mula, com arreata no estilo da época  para trabalhar e para ir nas festas, que ele gostava muito.  Com a pulga na orelha, sua companheira ia temperando o assunto, alegando que não tinha dinheiro para esta compra e que seus irmãos eram contra vender o gado dela, que era pouco.

Não adiantou.  A decisão  do Negão de comprar a mula tinha sido tomada. Deu 20 alqueires da terra que nem era só da patroa, sem consultar a ninguém,  por uma mula bem arreada e, de sobra, uma sanfona, que exigiu no negócio.  

Aí deu uma baita confusão. A família se revoltou  e não aceitou o negócio.  A situação ficou  ruim.  Ninguém  queria  vender a terra, nem o comprador aceitava as tramas de volta. O Negão, então, além de desmoralizado,  foi acusado de malandragem, de não ter juízo e  considerado uma ameaça para a família. A união dos dois descabeçados estava desautorizada.  Não tinha futuro.

Mas, o que ninguém sabia  era que a companheira do Negão estava grávida e isso piorou muito as coisas. Então, depois de acalorados debates, os do contra decidiram que não aceitavam um filho do Negrão na família. Teriam  que dar um fim na cria, antes do nascimento. Não podia vingar.  

A mãe estava muito contrariada,  estressada, mas queria o filho. Resistiu a ideia do aborto, mas temia pelo futuro do rebento no momento do parto. Na cabeça dela, iam sufocar o filho com um travesseiro. Desesperada, achava que isso ia acontecer.

 Foi preciso que um amigo da família, que veio de longe,  procurasse um padre que estava na região para o aconselhamento familiar.  A turma da paz decidiu celebrar uma missa por ocasião do parto para proteger a criança que ia nascer.

A intriga continuou, aliás ficou pior, mas a criança escapou. 

Era um menino negro. Sua mãe, Dona Josina,  o batizou como Francisco. Virou Chico Preto.  Foi bem criado, prosperou e se tornou o líder daquela família. 

Neste caso perdeu-se um pedaço de terra, mas a troca  compensou. Como diria o senhor Sebastião Ovídio Ribeiro, o Meia Légua:  naquele tempo a terra não valia nada mesmo.

  

Terra pra que?

 Antes da década de 40,  ninguém dava um cavalo arreado, indispensável para a lida com o gado  e a locomoção das pessoas, por terras que  tinham pouca ou nenhum utilidade. Mas, nem todo mundo pensava assim.

 Dois jovens passeavam com suas éguas, quando foram surpreendidos por uma oferta de um vizinho de seus pais, que ofereceu   8 alqueires de mata na beira do rio dos Bois, em troca dos dois animais. Ficaram muito animados, com a possibilidade de possuírem um pedaço de terras. Afinal eram apenas duas éguas, mas pediram para falar com o pai deles.

Ao contarem a oferta, ficaram decepcionados com a resposta do pai: para que querem mais terra?  Não estamos dando conta da que já temos.

 E não estavam mesmo, porque, naquela época, sem máquinas  tinham que ter capital e mão-de-obra para desmatar,  destocar,  enfaixar, queimar, preparar para o plantio,  cultivar e esperar a chuva, que ali sempre faltava e, por fim, enfrentar o preço  que também nem sempre ajudava. 

Na realidade, não era fácil. A vida do dono de terras foi sempre assim. 

O pai estava com a razão? 

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