sábado, 10 de dezembro de 2011

Bernardo Cerri, empreiterio de rodovias e espião


O empreiteiro que virou espião sem querer


            Em 1927, o paulista, natural de Ribeirão Preto, Bernardo Cerri, chegou a Capelinha, a procura de seu destino.  Solteiro, mestre de obras, exímio tocador de sanfona, ali encontrou a jovem Maria de Lourdes Mendonça, com quem veio a se casar, em 18 de setembro do mesmo ano.

            Bernardo Cerri marcou sua passagem na história do município,em sua fase de estruturação, como realizador de importantes construções e benfeitorias públicas. Logo que se casou, construiu para seu sogro Gabriel Joaquim de Mendonça a primeira casa ao estilo platibanda, uma novidade que virou moda no povoado. Contratado pela Comissão de Fundação da Igreja Católica construiu o cemitério da comunidade em formação. 

Da Sul-Goiana para o Porto de São Jerônimo e Canal de São Simão

          Pela sua capacidade de empreender tornou-se, em 1928, empreiteiro da rodovia que a partir de um ponto da Autovia Sul Goiana, próximo ao Ribeirão Cabeleira, dava acesso a Capelinha e ao Porto São Jerônimo, no rio Paranaíba, de onde já se chegava por rodovia a Santa Vitória e a Ituiutaba, ligando definitivamente Rio Verde ao Triângulo Mineiro. Para a obra que cortava espigão pela margem direita do rio São Francisco, Bernardo Cerri contratou centenas de trabalhadores, sub-empreitou trechos, pontes e mata-burros, ao longo dos 148 quilômetros da rodovia, que foi concluída antes da Revolução de 30, ainda no período do governo Totó Caiado. 

         Com o triunfo de Getúlio Vargas, o Dr. Pedro Ludovico Teixeira foi nomeado interventor em Goiás. Animados com a vitória, os interventores Pedro Ludovico, de Goiás, e Benedito Valadares,de Minas Gerais,  decidiram construir uma ponte em concreto armado no Canal de São Simão.  Foi dada ao empreiteiro Bernardo Cerri a responsabilidade de rápida construção da autovia, que ligaria Quirinópolis a São Simão e à nova ponte, estabelecendo-se definitiva ligação de Goiás com Minas Gerais e São Paulo. 

O espião sem querer

             Pouco tempo depois de construir o trecho que dava acesso ao Porto de São Jerônimo, Bernardo Cerri foi surpreendido por estranha convocação do subdelegado de polícia do Distrito, Fernando Carvalho, concunhado do chefe político governista local Joaquim Timótheo de Paula para acompanhar uma verificação policial na região de fronteira, nas proximidades do Porto de São Jerônimo, sobre o movimento dos revolucionários de Minas Gerais, partidários da Aliança Liberal.  O Dr. Pedro Ludovico por lá se encontrava a organizar um movimento com mais de uma centena de homens armados para enfrentar os governistas goianos, iniciando a marcha por Quirinópolis para depois atingir Rio Verde, onde se concentrava expressivo contingente de forças aliadas ao governo provincial, chefiado por Totó Caiado. No primeiro episódio belicoso, logo na chegada a cidade, as forças revolucionárias encontraram o carro do subdelegado, iniciando uma breve troca de tiros. Bernardo Cerri, no meio do tiroteio, acabou ferido na perna. Seus companheiros esconderam-se no mato, mas foram perseguidos e presos. Um deles, o cabo Arquimino José Roque morreu baleado no meio da escaramuça. O empreiteiro acabou prisioneiro do Dr. Pedro Ludovico, que ao anoitecer, com a ajuda do farmacêutico Wilson Barbosa, ainda zelou dos seus ferimentos.

            O episódio não parece ter abalado o prestígio de Bernardo Cerri. O tocador de obras que virou espião sem querer a serviço do governo de Totó Caiado, logo se tornou parceiro do novo governo, sendo por este contratado para construir a estrada para São Simão, que foi concluída no prazo estipulado, pouco antes da inauguração da ponte interestadual, com a presença do agora amigo Dr. Pedro Ludovico, em 24 de dezembro de 1934.

Com suas obras de construção civil e a abertura das importantes estradas o povoado começou a se estruturar. Passou a receber visitas periódicas de médicos, que vinham atender a população. Outros profissionais começaram a chegar, para aqui se estabelecerem. O comércio se tornou mais dinâmico e o povoado se abriu para um tempo de desenvolvimento.

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