quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Quem rouba um lápis, rouba um caminhão

       

       Sem  a verdade e a honestidade não se edifica uma casa, uma família, nada  se sustenta de forma permanente.

       Quem rouba um lápis,   rouba um boi, rouba um caminhão.

    Tinha 8 anos, estudava em escola rural  frequentada por  outras 50 crianças  e adolescentes da região das Sete  Lagoas. 

     A escola funcionava na fazenda, ao lado da  casa  de morada  e da venda  dos meus  pais,  Francisco Rosa Ribeiro, o Chico Preto, e dona Olina, que a construíram e a mantiveram  durante  5 anos.

  Ali trabalharam,  contratados pelo senhor Chico Preto, os professores  João Paulo de Freitas, de Formiga-MG (in memrorian); João Barreto de Souza, o João Baiano (in memorian);  Mario Marques de Almeida, o Mário Baiano  (in memorian) e, por último,  Ivani Borges Costa, os quais tenho a honra de nominá-los como meus primeiros professores. 

    Bem, dito isso, um fato ali ocorrido, devo relatar:  dado pelo professor a tarefa para cada aluno desenhar algo de sua imaginação, avancei no trabalho, mas minha caixa de lápis possuía apenas 12 cores. Pedi a um colega, um vermelho que existia numa caixa maior. Ele entregou a caixa, eu tirei a cor desejada e a devolvi. Nessa hora, bateu o sinal do recreio e todos se levantaram pra ir ao lanche ou à venda. Esperei alguns minutos antes de sair para terminar o desenho.

             Quando cheguei na venda, todos os meus colegas estavam com o meu pai, a me esperar.  Ele tomou o meu braço e revelou que eu tinha sido denunciado pelo furto de um lápis de cor.  Então, arrancou o seu cinto e disse o que ia acontecer  para que eu e meus colegas nunca esquecêssemos. Em seguida proferiu  - "Filho, quem furta um lápis, furta um boi e rouba um caminhão". Apanhei forte, com seu cinto,  diante de todos os meus  colegas.

    O impacto emocional e o sofrimento foram enormes e me perseguiram, pois, desnorteado, envergonhado   e com raiva dos colegas,  não consegui voltar à sala da escola pela porta aos meninos reservada. 

     Adentrei a sala pela porta reservada as  meninas, tamanho meu constrangimento e descontrole emocional. Para piorar, isso motivou risadas, por boa parte dos colegas. Foi um horror! Não tinha roubado o lápis, por isso não  estava com raiva de meu pai, enganado. Ele queria nos ensinar a ser honestos, sem o que nada pode ser edificado.  Mas, não conseguia aceitar a mentira e falsidade  dos colegas, o que considerei uma grande traição, pois nenhum me defendeu.

      Não pude saber quem tinha feito aquela  maldade. Quem me emprestou o lápis, era meu amigo, negou tudo.  Devolvi a ele o maldito lápis e preferi não dar sequência ao caso.  Todavia, ficou o registro em minha memória, ao vivo,  ad eternum, que  nunca me esqueci.

      Passados 38  anos, no final de meu segundo mandato de deputado estadual,  meu pai me pediu para levá-lo a casa de um amigo seu, que estava doente,  muito mal e que morava em Goiânia. Ao chegarmos a sua casa,  veio nos receber o seu filho, que foi meu colega na escola da fazenda. Ao me ver junto de meus pais, ele me olhou e foi logo dizendo - Ângelo, foi Deus que trouxe você e seus pais aqui, agora. Eu tinha medo de morrer sem te pedir perdão. Fui eu quem o denunciou ao seu Francisco, que você tinha roubado um lápis de cor. Lembra? Nunca me esqueci dessa maldade. Me perdoe!

      Tudo veio a luz na minha mente. Abracei,  sem nenhuma mágoa o amigo de infância. Eu não tinha nada para perdoar. Falei - Cara, você me surpreendeu. Que humildade!

      Fui por  2 (duas) vezes deputado estadual, diretor agroindustrial do antigo Banco do Estado de Goiás,  por  duas vezes secretário de agricultura. Ao ser  convidado para assumir a secretária de planejamento e coordenação de Goiás perguntei ao governador Naphthali Alves: 

 - Porque Eu, se não sou um especialista da área do planejamento? 

 - Porque sabemos que você  é honesto, não vai roubar e  vai vigiar para que não roubem o nosso Governo. Já consultei nossos chefes, o  Iris, o Maguito e os técnicos da SEPLAN,  que já te esperam lá Confesso, foi grande a emoção!

   Fui responsável pela gestão do Orçamento Estadual, por 10 meses, além da aplicação dos recursos da venda de Cachoeira Dourada. Claro, com minhas limitações, mas tornei-me amigo de grandes técnicos da área, que tal como eu, tinham a honestidade como o principal pilar de suas vidas. No final, deixamos o governo sem nenhum senão, sem nenhuma mácula ou nota em desfavor. Isso é um grande troféu.

  Com certeza, a lição da escola, de meu pai e daquele colega me ajudaram muito - ao consolidar meu maior patrimônio -  a  honestidade. Graças a Deus!

                    O reconhecimento e a confiança do governador Naphtaly Alves foram fatos marcantes, de inestimável valor, que tenho como  minha melhor referência, pela missão recebida e cumprida como agente público. Aproveito para dizer muito obrigado ao grande e inesquecível governador Naphtaly.  Que Deus derrame copiosamente sua benção e sua graça por toda sua vida!

                                   Ângelo Rosa Ribeiro, 71, quirinopolino, ex-deputado, ex-secretário estadual de agricultura e de planejamento

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