quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Quirinópolis, o agronegócio e a universidade

   
            Com a chegada dos grandes empreendimentos sucroalcooleiros, como os da São João Cargil Bioenergia e Nova Fronteira Bioenergia, a região de Quirinópolis passa por profundas transformações socioeconômicas, culturais e mudanças na forma de utilização dos solos e recursos naturais.

            São facilmente perceptíveis as mudanças, desde o campo até a cidade. Constata-se a agonia das tradicionais atividades agropecuárias do município cercadas pelos canaviais que brotam por todo lado.  O peão vaqueiro e o tratorista rapidamente se tornam operários das agroindústrias.  A cidade se encheu de migrantes. Mudou o comércio, o ritmo da construção civil e das atividades industriais de pequena monta que se intensificaram com abertura de novas empresas, de todos os portes. Também mudou para melhor a oferta de empregos e de serviços públicos. Por outro lado, esta revolução gerou consequências sociais desagradáveis, como desemprego, pelo enfraquecimento de atividades tradicionais e fechamento de serviços devido à inviabilização de suas estruturas econômicas.


Todavia, a paisagem do município é a que mais se modifica. O meio ambiente passa a sofrer a intervenção de centenas de máquinas de grande porte para a implantação dos canaviais. Toneladas e toneladas de adubos químicos, repetidas aplicações de resíduos do processo industrial, fortes cargas de defensivos agrícolas, nuvens de insetos utilizadas para controle biológico de pragas, insumos diversos, tudo em grandes quantidades e continuadamente derramadas com alteração da composição dos solos, das águas e do ar. As queimadas de canaviais, embora em proporções menores que em outras regiões do país, ainda ocorrem.  Em terras fragilizadas pelas suas características naturais, por mais cuidados que tenham os novos empreendedores rurais, intervenções como estas causam preocupações à ambientalistas e mesmo aos leigos, sobre o que acontecerá em futuro breve. A monocultura canavieira se consolida nas terras do cerrado,  como se pode constatar, sustentada por uma sucessão de eventos de grande monta e de consequências pouco conhecidas. 
É inevitável a discussão se o interesse imediato dos usineiros e dos produtores não comprometeria a sustentabilidade da região. A resposta para esta e para outras importantes questões estará na investigação científica. Para tanto, governo e sociedade devem agir na busca de respostas. Aí é que entra a importância da universidade que deve acumular todo o conhecimento deste processo para segurança de produtores e da população. No caso, a UEG deve ser preparada para estes desafios.  
                                                                                                                                                       É hora do curso de agronomia
        As condições mencionadas e a demanda existente recomendam a implantação de novos cursos como o de agronomia para incrementar as atividades produtivas e minimizar possíveis impactos nocivos. Desta forma será de grande valia a implantação de laboratórios de físico-química (de solo, água, planta e resíduos), microbiologia, entomologia, fitopatologia, multiplicação vegetal e outros, bem como a administração de disciplinas específicas para subsidiar esta fase de desenvolvimento regional com a boa qualidade de ensino, bons trabalhos de extensão e resultados de pesquisas. A UEG local oferece espaço suficiente e conta com grande número de profissionais que poderão colaborar com a implantação, sem maiores despesas para o Estado. Também deve se levar em conta a participação das usinas que já contam com diversos laboratórios e já possuem o campus para o desenvolvimento do curso, quais sejam as próprias áreas de produção de cana-de-açúcar, soja e outras culturas. Ademais, o curso de agronomia possui uma plataforma curricular que permite o desenvolvimento de outros cursos, de grande importância para a região, como o de química industrial e os tecnológicos para as demandas do setor agroindustrial.

Por isso é louvável a movimentação das lideranças locais pelo pela instalação do curso de agronomia. O município de Quirinópolis, diante dos desafios de sua nova vocação, precisa se preparar para o futuro com investimentos, sobretudo em educação, seja através de instituições públicas ou privadas, para preparação de mão de obra qualificada, formação de técnicos de nível superior e em pesquisas para amparar o seu desenvolvimento. No caso, é inadiável preparar a UEG para liderar estes esforços. 

                                           Por Ângelo Rosa Ribeiro, ex-deputado, ex-secretário estadual de Agricultura e ex-secretário estadual de Planejamento e Desenvolvimento Regional.
 

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