domingo, 7 de abril de 2013

Mauro Borges - desaparece o estadista

      





 A perda do estadista


                      O ex-governador Mauro Borges faleceu no dia 29 de março de 2013, aos 93 anos. Seu corpo foi velado no Palácio das Esmeraldas e sepultado no Cemitério Jardim das Palmeiras, em Goiânia.

                 Ao se despedir do amigo, conselheiro e apoiador de primeira hora, o governador Marconi Perillo afirmou que Mauro era “o maior estadista vivo da história de Goiás”, comparando a trajetória pública do goiano a de Juscelino Kubiteschek, “ambos estadistas de notável dimensão, gestores que enxergavam muito a frente”. Outro traço comum de Mauro e Juscelino, enfatizou Marconi, era a “semelhante coragem, a forte, nunca demagógica, ligação com o povo e a determinação de cumprir os compromissos que assumiram”. Marconi, visivelmente emocionado, citou o discurso de Marco Antonio perante o corpo de Júlio César >“Sua vida foi tão nobre que a natureza inteira deveria se levantar para saudá-lo assim - aqui está um homem”. O mesmo pode ser dito em relação a Mauro Borges, finalizou Marconi.

                A origem e os feitos de Mauro Borges

                Mauro Borges Teixeira nasceu em Rio Verde, no dia 15 de fevereiro de 1920. Filho de ex-interventor e médico Pedro Ludovico Teixeira, e de Gercina Borges Teixeira, foi alfabetizado por professores particulares em seu município de nascimento. Não tardaria muito, deixaria a cidade em direção a então capital do Estado, a cidade de Goiás, em 1930.
                Instalado com a família na antiga Vila Boa, cursou o ginásio no Liceu de Goiás. Como seu pai nomeado por Getúlio Vargas interventor do Estado, residia no Palácio Conde dos Arcos, sede do Executivo estadual. Seis anos após sua mudança para a cidade de Goiás, dirigiu-se ao Rio de janeiro, onde ingressou na Escola Militar. Consta que obteve bom desempenho, iniciando a carreira como cadete, em 1938.
                Destacado para servir no município gaúcho de Santa Maria, conheceu Maria de Lourdes Estivallet, com quem se casaria em 1944. A carreira militar era promissora, atingindo o posto de tenente-coronel. Mauro Borges serviria ainda no Paraná, Rio de Janeiro e Goiás. Em 1948, entrou para a Escola de Comando e Estado Maior do Exército (Eceme), onde recebe orientações sobre como gerir crise sob ótica militar.
Em 1958, é transferido para Goiânia, à atual 7ª Circunscrição do Serviço Militar. Nessa mesma época, ingressa na reserva como coronel do Exército Brasileiro para dedicar-se a vida pública. Mauro Borges candidata-se a deputado federal, em 1958, pelo Partido Social Democrático (PSD), mesma legenda de Pedro Ludovico. Eleito lança-se como candidato ao governo de Goiás, seguindo os caminhos do pai, que havia ocupado o cargo à partir da Revolução de 30, quando pôs fim a oligarquia caiadista de Goiás.
Eleito governador em 1960, elaborou a primeira administração planejada do Estado por meio do Plano Mauro Borges (Plano MB). Para a tarefa, contratou a equipe da Fundação Getúlio Vargas. Criou a Secretaria do Planejamento para executar a proposta, antes mesmo que houvesse um Ministério de Planejamento no Governo Federal.
Foi afastado abruptamente do governo  por intervenção federal após o golpe de 1964, tendo seus direitos políticos cassados em 1966.

 O Governo Mauro Borges 

Entre os anos de 1961 e 1964 esteve à frente do Governo de Goiás. A principal característica deste período foi a promoção de uma administração com planejamento como instrumento de gestão pública o que foi fundamental para que se realizasse um governo ágil e operante. Os serviços públicos ganharam eficiência com funcionários públicos  contratados por concurso público. Teve destaque em seu governo as obras de infraestrutura de transportes, viabilizadas com a criação do Consórcio Rodoviário Intermunicipal (CRISA) e a instituição de um fundo de reservas financeiras para lhe dar sustentatação, com o que o governo pode construir 11.000 km de rodovias estaduais. Com recursos do tesouro estadual concluiu o Aeroporto Santa Genoveva, a Usina Rochedo, a usina de Cachoeira Dourada, além de  ampliar e reestruturar as Centrais Elétricas do Estado de Goiás (CELG). Com o Plano MB desenvolveu uma estrutura de governo moderna que impulsionou a administração estadual e permitiu integrar o estado no  cenário nacional. Entre as inovações, cria o 1º Plano Quinquenal de Desenvolvimento Econômico (conhecido como Plano MB) e  órgãos em áreas capitais da administração  do  Estado tais como: comunicação - Consórcio de Empresas de Radio Difusão do Estado (CERNE), infraestrutura rodoviária - Consórcio Rodoviário Intermunicipal (CRISA), saúde - Organização de Saúde do Estado de Goiás (OSEGO), indústria química/farmacêutica - Industria Química do Estado de Goiás (IQUEGO), extração de metais Metais de Goiás (METAGO) entre outras. Além disso, seu governo promoveu o crescimento das fronteiras econômicas por meio da retomada da marcha para o Oeste e a implantação de uma reforma agrária que teve como modelo os kibutz israelenses, organizados a partir da produção cooperativa.

A perda do mandato e dos direitos políticos

Por ter participado ativamente da Campanha pela Legalidade, em 1961, movimento surgido logo após a renúncia de Jânio Quadros, que gerou instabilidade institucional no país, tendo como parceiro o governador Leonel Brizola, do Rio Grande do Sul,  indispôs-se com militares de alta patente e com setores da sociedade brasileira que era contra a posse do vice-presidente João Goulart, por considerá-lo aliado dos comunistas. Na época, o Palácio das Esmeraldas, sede do governo estadual, se transformou em um importante quartel-general irradiador do movimento dos legalistas. Por seu posicionamento criou atritos com as Forças Armadas, que mandou aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) sobrevoarem a capital goiana como forma de intimidação. Acabou afastado por intervenção federal após o golpe de 1964 e tendo seus direitos políticos cassados em 1966.

A volta e o reconhecimento dos goianos

Em 1979, voltou ao cenário político, quando foi eleito presidente do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 1982, com a volta do estado de direito democrático foi eleito senador pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e, em 1990, após reposicionamento político-partidário foi eleito deputado federal pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Sem disputar novos mandatos, Mauro Borges vale-se de sua origem e de seus incontestáveis feitos como militar,  gestor público e agente  político para lograr a admiração, respeito e  reconhecimento dos goianos, como um grande  estadista, numa sucessão familiar, depois da morte do maior estadista goiano, que fez história como médico,  político e interventor por 19 anos em Goiás, o Dr.  Pedro Ludovico Teixeira, seu pai.

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