sábado, 10 de junho de 2023

A farmácia do Chico, nas Sete Lagoas, gerou homenagem

                                          



            

         Diante da significativa homenagem feita pelo ex-prefeito Odair Resende e  valorizada   pelo  atual prefeito Anderson  De  Paula  pelo que  realizou  o senhor  Francisco Rosa Ribeiro,  o Chico  Preto, na àrea da saude, faz-se necessário trazer fatos da realidade, nos anos 50 e 60, na região das Sete Lagoas.

        A população da época foi adensada pela chegada em massa de mão de obra, sobretudo nordestinos, para dar inicio ao processo produtivo. 

      Não era fácil encontrar um médico na região, até mesmo um farmacêutico,  pela falta de estradas e meios de transportes. Diante das urgências e necessidades, o Chico Preto, que já era um forte comerciante,  passou a vender alguma coisa e, por fim,  acabou  tomando gosto pelo ofício de medicar as pessoas 

 Ele aprendeu a receitar,  fazer assepsia, curativos, aplicar injeções e a orientava os seus pacientes. Com a prática,  passou a realizar pequenas intervenções, como drenagem de furúnculo ou abscesso, extração de um berne, retirada de objetos perfurantes cutâneos e outras. 

     Em duas  volumosas caixas metálicas e em prateleiras guardava e protegia os medicamentos.  De sua lista de variedades farmacêuticas constavam os antibióticos penicilina injetável, tetraciclina solúvel e em comprimidos, que indicava para infecções de garganta, da pele ,  abscessos e outras. Receitava a estreptomicina, de nome Dibiotil,  de uso intramuscular, que ele mesmo aplicava para curar infecção crônica da garganta, pneumonias e a difteria ou Croup, uma doença que na época matava sufocadas as crianças.

Na pequena farmácia vendia as sulfas Aralem,  Camoquim e o Quinino para os casos da febre da maleita, que era comuns na região. 

 Indicava  Heparema e  Extrabil para queixas de intoxicação, com mal estar e inchaço do fígado. Vendia Melhoral ou  Cibalena para o resfriado e  dor de cabeça da gripe. Para as diarréias indicava o Cibazol ou as sulfas. Para as verminoses de crianças - Licor de Cacau Xavier.  Vermes do amarelão,  Ankilostomina. Para  a anemia e  fortalecer as crianças e os idosos usava Sulfato Ferroso, Biotônico Fontoura,  Tutangir e o Capivarol. O sal-amargo e o Lacto-Purga para o ressecamento fecal e limpeza dos intestinos.  Sal de Gláuber, Bicarbonato de Sódio, Ruibarbo, Sonrizal e Sal de Fructa para azia e indigestão.  Àgua Ingleza para melhorar o apetite.  Nóz-Moscada e o Elixir Paregórico,  para cólicas intestinais. Regulador Xavier, para regular o ciclo menstrual das mulheres.  Elixir Tauyná,  para ralear o sangue, melhorar a circulação e prevenir o enfarto cardiáco. Maracujina,  para acalmar os nervos e o  coração.  Pó Matricária, para os sintomas decorrentes da  dentição  do nenê.  Auris-Sedina para a dor de ouvido e Cera Dental para a dor de dente. O Frixal,  para contusões, dor nas costas e nas juntas. Emulsão Scott,  para a expectoração. A pomada Vick Vaporub desentopia o nariz e melhorva  a respiração. A pomada Minâncora servia para erupções da pele. Indicava pólvora com vinagre ou limão para tratar empigem e micoses.
 
Caso clínico

Certa vez atendeu um casal que trouxera seu bebê com tosse e  respiração difícil e ruidosa.  Ja era noite e Chico Preto viu que se tratava da Difteria ou Croup e recomendou que levasse a criança para Rio Verde. Disseram que não podiam, não tinham condições,  e pediram que ele fizesse qualquer coisa para que a criança não moeresse à mingua. 
Então, o Chico Preto fez o que podia: limpou como pode sua garganta, medicou-a com antibióticos, aqueceu com compressas a região da garganta e fez fomentações para melhorar a respiração da criança. Ficou muito preocupado com o caso. 
Passados 2 dias, o casal retornava, no final da tarde, com a criança coberta por um lençol branco. desceram do cavalo e  pediram para que o Sr Chico Preto  viesse ver o que tinha feito com a criança. Uma bincadeira  que gerou grande apreensão.  Ao retirar o lençol, o Chico Preto viu que a criança se agitava, ao movimentar braços e pernas. Aí, foi lágrimas,  arrepio, alegria, abraços.

           Sua farmácia e sua prática farmacêutica foi de muita valia  diante da falta de recursos para a saúde das famílias que viviam daquela região.


                        Por Angelo Rosa Ribeiro, 72, médico veterinário, ex-professor da UFG,   natural da região das Sete Lagoas, em Quirinópólis - GO.       

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