segunda-feira, 26 de março de 2012

En detaque - o boi no carro de bois





O carro de bois foi essencial para o desenvolvimento do Sudoeste Goiano. 
Com ele era possível transportar diversas cargas: madeiras, telhas, tijolos, produtos agrícolas, diversas mercadorias  e até pessoas como a própria família dos agricultores. 
O primeiro veículo de rodas a adentrar-se aos sertões goianos foi um carro de bois, em 1824, vindo de Minas Gerais.





    Uma variante do carro de bois, o carretão, era um veículo construído de forma rudimentar, com eixo reforçado,  sem a típica carroceria, próprio para  transportar cargas pesadas, como toras de madeira, arrastando-as para a construção de benfeitorias.

 Com utilização destes veículos ou com o uso exclusivo de juntas de bois era possível realizar diversas serviços, inclusive obras públicas, como pontes, aterros, edificações de prédios, consertos de estradas e outros serviços.

  Embora fossem lentos, capazes de percorrer apenas três a quatro léguas por dia,  a dois quilômetros por hora, era comum, na virada do século passado,  observar filas destes, pelas principais estradas carreiras.  Podia-se ouvir, a  quilômetros,  o som característico do movimentar de seus eixos, como se entoassem tristes canções.

 Os referidos carros iam e vinham a percorrer longos caminhos para levar o que se produzia na região para  trocar por mercadorias em entrepostos, como Uberabinha, hoje Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Assim, este veículo possibilitou o intercâmbio comercial tão necessário para a sobrevivência das famílias dos pioneiros e o desenvolvimento regional. Foi desta forma que muitas famílias vieram de longínquas cidades  para o Sudoeste Goiano.


        Nestas viagens, os carreiros usavam toldar seus carros, com couro de bois e folhas de plantas, para proteger suas cargas dos efeitos do sol e das chuvas. Nos meses muito chuvosos, pelas estradas da região, sempre havia alguns carros de bois atolados. Os carreiros e os "candieiros" se juntavam de forma solidária, a emendar suas juntas de bois, formando fieiras de 8, 12 até 16 bois para desbloquear a estrada e continuar suas viagens.



 O uso do carro de bois como meio de transporte de cargas praticamente desapareceu, mas a tradição se mantém. 
Muitos fazendeiros guardam seus exemplares como lembranças de um tempo que já passou. Em Trindade (GO), uma romaria é feita desses veículos que se deslocam em caravanas de municípios vizinhos para a Festa do Divino Pai Eterno.

 Não existem mais na região os mestres da fabricação do carro. Contudo, espera-se que em alguma tese de pesquisa seja resgatado todo o processo de sua construção, que inclui a escolha das madeiras, a melhor época para a derrubada, os trabalhos de serraria, a arte de esculpir cada peça, o forjamento das ferragens e os detalhes do ajuste da afinação, da qual resulta um cantar próprio, inconfundível, que permitia, à léguas, a identificação de cada carro.

O que ninguém pode esquecer é que sem o boi carreiro não se movia o carro, nem se fazia o desenvolvimento. 

Hoje, edificam-se construções para proteger um exemplar de carro de bois, mas  quase não se vê a estátua de um boi carreiro.

 É preciso se fazer justiça à aquele que, de fato,  puxou o carro para desenvolver o país.

                    
Por  Ângelo Rosa Ribeiro, quirinopolino, ex-deputado estadual e amante das tradiõoes goianas..




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