Desapareceu o murmúrio das águas
Tudo se iniciava pela rasura, a parte
mais larga do rio, à montante do canal, que era o espaço de preparação do rio
para o show das águas que se seguia. De região central da rasura, fortes correntezas
arrastavam as águas para o interior do canal em sucessivas quedas pelas suas paredes, com intensos ruídos
que impressionavam a quem conseguia dali se aproximar. Pelas bordas da rasura podiam ser observados pequenos e incontáveis lagos formados na superfície rochosa, semelhantes a espelhos d’água cristalina,
que serviam como criadouros de espécies da fauna aquática do lugar.
Tal como relata João Alberto Soares
Floriano, o poeta de São Simão, em seu livro 'Cessou o Canto das Águas': “O rio
Paranaíba, largo, de repente, partido ao meio, precipita-se em estreito canal
de rocha parda escura. Impressionava ao observador as águas que desciam pelas bordas do canal, envolvendo-as
e mergulhando-se raivosamente para o seu interior, em violento rugido. Este
movimento fazia surgir extraordinária cortina de espuma branca, a "Fumaça", como descrita na
linguagem dos moradores do lugar.
Este trecho de extensão superior a um
quilometro era o local mais temido e belo do Canal. A incidência do sol sobre a
densa nuvem ali formada gerava diversos arco-íris que, dependendo do local do
observador, alternavam a densidade de suas cores. O
movimento das águas caudalosas desde as bordas do canal para dentro da garganta gerava estrondos
vigorosos, que se ouvia a distância, a ressaltar ainda mais aquele fantástico
show das quedas. Em fim, domado pelo paredão de pedra, o rio prosseguia
turbilhonante por mais alguns quilômetros para alargar-se remansoso mais
além.”
O Canal de São Simão era maravilhoso, mas temerário. Em toda sua extensão, muitas mortes de indígenas e pescadores foram registradas.
A construção da barragem para
viabilizar a instalação da Usina Hidrelétrica de São Simão pelas Centrais
Elétricas de Minas Gerais, CEMIG, fez submergir toda esta beleza natural,
restando as fotos e a história que possui inéditos e incontáveis lances como
o do desaparecimento das cidades de Mateira, da Velha São Simão, da sede do Distrito de Gouvelândia, em Quirinópolis, e do povoado de Chaveslândia, na margem mineira do Canal, cujas ruínas se encontram submersas sob águas do Lago Azul.
Assim, desapareceu o Canal de São Simão - belo patrimônio natural e o seu fantástico show das águas. Mas ficou a saudade dos
habitantes do lugar como da pioneira Prudenciana de Castro, a Dona Xandoca,
que inconformada e com ar de tristeza, alguns anos depois da construção da
barragem, ainda reclamava: "Faltou boa vontade por parte dos envolvidos para
com a preservação daqueles caprichos da natureza" que tinham que ser preservados.
Ângelo Rosa Ribeiro, ex-deputado e ex-representante de São Simão na Assembléia Legislativa de Goiás.
BIBLIOGRAFIA
FLORIANO, João Alberto Soares. Cessou o
Canto das Águas. 1. ed. GO: Agência Goiana de Cultura, 1999.
Assim se foi como outros tantos “saltos” que o avanço do progresso vitimou… Assim se foram “forquilha e sumidouro” principais quedas da cachoeira de Paulo Afonso, também se foram os “três irmãos” nomes dos saltos que existiam na foz do rio tiete sendo dois deles no rio paraná e um no Tiete (salto grande e saltinho do Urubupungá e salto do Itapura no rio tiete). Ainda no rio Tiete se foram vários, para destacar o salto do macuco e Avanhandava, vitimados pela UHE Nova Avanhandava. O que dizer do Salto Santiago no rio Iguaçu. E por fim sete quedas ou salto guairá, como preferiam chamar os sertanejos locais. Muita tristeza, mas o progresso não para.
ResponderExcluirAssim desapareceu também a Cachoeira Dourada, neste mesmo rio, que era considerada uma das maravilhas do mundo.
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