segunda-feira, 12 de março de 2012

São Simão: desapareceu a magnifico canal e o majestoso espetáculo das águas.

Desapareceu o murmúrio das águas
             Através dos tempos, o rio Paranaíba esculpiu sob rochas basálticas  de seu leito um impressionante e espetacular monumento natural, sob forma de canal, que hoje   divide os estados de Goiás e Minas Gerais.  Com extensão aproximada de cinco quilômetros, este canal,  a que se denominou São Simão, encontra-se hoje submerso sob águas do Lago Azul, formado pelo barramento do Rio Paranaíba.

              O canal era uma um belo legado da natureza ao povo brasileiro. Para se ter uma ideia do seu significado, basta lembrar que o volumoso Rio Paranaíba, no trecho inicial da fenda, de margem a margem, possuía a largura de mil e duzentos metros.
              O canal ali formado em alguns pontos não contava com mais do que quarenta metros de largura por outro tanto de altura. Para receber, acomodar e transportar este volume de água o referido canal se transformava em palco de um espetáculo incessante, multiforme e de indescritível beleza.
             Tudo se iniciava pela rasura, a parte mais larga do rio, à montante do canal, que era o espaço de preparação do rio para o show das águas que se seguia. De região central da rasura, fortes correntezas arrastavam as águas para o interior do canal em sucessivas quedas pelas suas paredes, com intensos ruídos que impressionavam a quem conseguia dali se aproximar. Pelas bordas da rasura podiam ser observados pequenos e incontáveis lagos formados na superfície rochosa, semelhantes a espelhos d’água cristalina, que serviam como criadouros de espécies da fauna aquática do lugar.
Tal como relata João Alberto Soares Floriano, o poeta de São Simão, em seu livro 'Cessou o Canto das Águas': “O rio Paranaíba, largo, de repente, partido ao meio, precipita-se em estreito canal de rocha parda escura. Impressionava ao observador as águas que desciam pelas bordas do canal, envolvendo-as e mergulhando-se raivosamente para o seu interior, em violento rugido. Este movimento fazia surgir extraordinária cortina de espuma branca, a "Fumaça", como descrita na linguagem dos moradores do lugar. 
Este trecho de extensão superior a um quilometro era o local mais temido e belo do Canal. A incidência do sol sobre a densa nuvem ali formada gerava diversos arco-íris que, dependendo do local do observador, alternavam a densidade de suas cores.  O movimento das águas caudalosas desde as bordas do canal para dentro da garganta gerava estrondos vigorosos, que se ouvia a distância, a ressaltar ainda mais aquele fantástico show das quedas. Em fim, domado pelo paredão de pedra, o rio prosseguia turbilhonante por mais alguns quilômetros para alargar-se remansoso mais além.”  
O Canal de São Simão era maravilhoso, mas temerário. Em toda sua extensão, muitas mortes de indígenas e pescadores foram registradas.
A construção da barragem para viabilizar a instalação da Usina Hidrelétrica de São Simão pelas Centrais Elétricas de Minas Gerais, CEMIG, fez submergir toda esta beleza natural, restando as fotos e a história que possui inéditos e incontáveis lances como o do desaparecimento das cidades de Mateira, da Velha São Simão, da sede do Distrito de  Gouvelândia, em Quirinópolis, e do povoado de Chaveslândia, na margem mineira do Canal, cujas ruínas se encontram submersas sob águas do Lago Azul.
Assim, desapareceu o Canal de São Simão - belo patrimônio natural e o seu fantástico show das águas. Mas ficou a saudade dos habitantes do lugar como da pioneira Prudenciana de Castro, a Dona Xandoca, que inconformada e com ar de tristeza, alguns anos depois da construção da barragem, ainda reclamava: "Faltou boa vontade por parte dos envolvidos para com a preservação daqueles caprichos da natureza" que tinham que ser preservados.






                                                   Ângelo Rosa Ribeiro, ex-deputado e ex-representante de São Simão na Assembléia Legislativa de Goiás.


BIBLIOGRAFIA

FLORIANO, João Alberto Soares. Cessou o Canto das Águas. 1. ed. GO: Agência Goiana de Cultura, 1999.

2 comentários:

  1. Assim se foi como outros tantos “saltos” que o avanço do progresso vitimou… Assim se foram “forquilha e sumidouro” principais quedas da cachoeira de Paulo Afonso, também se foram os “três irmãos” nomes dos saltos que existiam na foz do rio tiete sendo dois deles no rio paraná e um no Tiete (salto grande e saltinho do Urubupungá e salto do Itapura no rio tiete). Ainda no rio Tiete se foram vários, para destacar o salto do macuco e Avanhandava, vitimados pela UHE Nova Avanhandava. O que dizer do Salto Santiago no rio Iguaçu. E por fim sete quedas ou salto guairá, como preferiam chamar os sertanejos locais. Muita tristeza, mas o progresso não para.

    ResponderExcluir
  2. Assim desapareceu também a Cachoeira Dourada, neste mesmo rio, que era considerada uma das maravilhas do mundo.

    ResponderExcluir