sexta-feira, 13 de abril de 2012

Quirinópolis: rotas, estradas, portos, vaus e pontes usadas pelos pioneiros - histórico



Portos e vaus na rota dos pioneiros para Quirinópolis

O desenvolvimento do Sudoeste Goiano se deu através de um processo de expansão da fronteira do desbravamento, a partir do Triângulo Mineiro, sobretudo para  a criação de gado. 
Na completa ausência de estradas e na inexistênca de pontes, as viagens dos primeiros moradores da região se fazia por trilhas improvisadas. 
Por desconhecidos e perigosos portos e vaus realizavam a travessia de rios e ribeirões.  Foi desse modo que os primeiros moradores chegaram e ocuparam espaços  vazios na região de Quirinópolis.

 O porto de Santa Rita 

O mais importante dos portos  deste período foi o de Santa Rita do Paranaíba, construído pelo Governador das Armas da Província de Goiás, Cunha Mattos, em 1824. O porto serviu para a chegada dos desbravadores e deu origem a cidade de Itumbiara.  Sobre este estratégico porto  descreveu o Visconde de Taunay, que por ali passou, por volta de 20 setembro de 1865, quando acompanhava o exército brasileiro na sua marcha pelo Sul de Goiás e Mato Grosso, rumo a guerra do Paraguai: “A travessia do rio, àquela época, era através de uma pequena balsa formada por duas canoas unidas por tábuas grosseiras, com a capacidade de levar 10 animais em cada viagem e a travessia durava cerca de 40 minutos, de uma margem à outra.” Sobre as estradas do percurso até a Villa das Dores, hoje Rio Verde, assim relatava Taunay: "... tratava-se de picada aberta pela necessidade de comunicação recíproca entre os habitantes de algumas fazendas”. Mas, ressalva: “... o caminho é hoje assaz animado, pelo movimento das grandes boiadas que vão ter a Uberaba, dirigindo-se para o Rio de Janeiro."
O Porto do Mariano, cuja denominação era uma referência ao seu construtor,  foi inaugurado no Rio dos Bois, por volta de 1880.  Porém, foram os pioneiros José Corrêa Neves e sua esposa Maria Antônio Rosa de Morais os incentivadores da iniciativa. Eram  os donos das terras onde o mesmo fora instalado. 
O porto que foi construido devido a violência das águas do rio, que dificultava a travessia de boiadas à "vau de orelha".  Servia a rota de Rio Verde a Santa Rita do Paranaíba. Ficava próximo das ilhas do Rio dos Bois que mais tarde serviram de base para a edificação das três pontes, que o substituíram na referida travessia.
O porto atendia a população das  Sete Lagoas e da Capelinha na rcom rota para  Porto de Santa Rita,  e de lá para Uberabinha, hoje Uberlândia, e Uberaba, que eram centros de comercialização de produtos agrícolas, insumos e  manufaturados.
 O Porto do Quinca Pedro, de propriedade do casal Joaquim Pedro Martins e Maria Rosa de Morais, era o mais antigo deles. Localizava-se à montante da barra do Córrego do Lajeado com o Rio dos Bois. Sua instalação ocorreu por volta de 1885.

       Com a desativação do Porto do Quinca Pedro surgiu no  Rio dos Bois o Porto dos Cunhas, com o mesmo fim e mais facilidades para ols moradores da região.  O Porto do José Inácio, nas proximidades do Córrego Carvalho, é ainda mais recente e dava passagem inclusive a caminhões e ônibus que se dirigiam a Cachoeira Dourada e Itumbiara.


Porto de São Jerônimo
Com o crescimento da população e da demanda, surgiu a necessidade da construção de outro porto no Rio Paranaíba, para facilitar a ligação com o Triângulo Mineiro.
 Coube ao pioneiro Custódio Lemos do Prado, em 1982, tomar a iniciativa da construção do Porto São Jerônimo, por se localizar próximo a barra do Rio São Jerônimo, afluente do lado mineiro, na divisa com o distrito de Santa Vitória (MG).
 Para se chegar ao porto era preciso acompanhar  o rio São Francisco pelo espigão ao longo sua margem direita até um ponto onde nele se construiu um ponte, já nas proximidades do porto.
 Em 1855, pouco tempo depois de sua instalação, devido ao aumento do fluxo de pessoas e mercadorias, o Governo Provincial  o encampou e ali implantou uma recebedoria. O porto facilitou a vinda de pessoas para a região, contribuiu para o incremento da população da Capelinha e aumentou o intercâmbio comercial com o Triângulo Mineiro. As boiadas procedentes do extremo Sudoeste Goiano e de algumas regiões do Mato Grosso, que eram obrigadas a se dirigirem ao porto de Santa Rita, passaram a utilizar o novo porto para alcançar  Uberaba e o Rio de Janeiro ou a região de Barretos (SP), locais de comercialização das mesmas.

As primeiras rodovias

 Em 15 de agosto de 1918, uma iniciativa marcou época em Goiás. De posse de um privilégio governamental para construção de uma estrada de rodagem entre Santa Rita e Jataí, com um ramal para o Porto de São Jerônimo, partiram do Porto de Santa Rita os empresários Ronan Rodrigues Borges e Sidney Pereira de Almeida, acompanhados do motorista José Sabino, em um Fordinho, com o propósito de mostrar a viabilidade do uso de automóveis, angariar apoio, fundos e promover, em Rio Verde, a fundação de uma companhia de viação. Dirigiram-se por estradas salineiras, seguindo a rota dos pioneiros, passando pelo Vau do Ribeirão Boa Vereda, pela Balsa do João Vermelho, no Rio Meia-Ponte, pelo Vau do Ribeirão Santa Bárbara e pelo Porto do Mariano, no Rio dos Bois, na época equipado com uma embarcação rústica, um balsa suportada por duas canoas grandes, movida a remo e varejão, conhecida como voga. Dai seguiram pela rota tradicional, até Rio Verde. 
Em 30 de agosto de 1918, nesta cidade, foi fundada a Companhia Autoviação Sul Goiana. À pouco menos de um ano, no dia 19 de julho de 1919, ocorreu a inauguração da primeira estrada para automóveis em Goiás, que se denominou Autovia Sul Goiana, numa extensão de 360 quilômetros, que ligava Santa Rita a Rio Verde e Jatai. 
Somente em 1930, foi inaugurada uma estrada para automóveis, que da Sul Goiana ia ao Porto de São Jerônimo, passando pelo povoado da Capelinha, que logo seria elevado a condição de distrito de Quirinópólis, numa extensão de 140 quilômetros, para facilitar o acesso de Rio Verde a Ituiutaba (MG). 

Vaus na passagem do primeiro automóvel

         Do Porto do Mariano, no Rio dos Bois, 
por trilhas de boiadas, que cortavam ao meio a região das Sete Lagoas, numa extensão de aproximadamente 70 quilômetros, passou o primeiro automóvel que chegou a Quirinópolis, em 1927. 
Três vaus no Rio São Francisco foram usados para facilitar a passagem de carros de bois, tropas, boiadas e pessoas à cavalo: o Vau do Atolador ou do José Salomão, o  Vau do Quito ou da Pedreira e o Vau dos Cassimiras, na região do Paredão, este usado para a passagem do primeiro automóvel. 

    Tem-se notícias da existência do Vau das Sete Ilhas, neste mesmo rio, que servia a passagem do tráfego oriundo da região do córrego da Ronda, com destino a sede distrital e vice-versa.
 Passar pelos vaus do rio São Francisco em tempos de cheias era sempre muito perigoso, devido ao leito estreito, profundo e cheio de pedras e corredeiras.

     Para as idas e vindas a Rio Verde usava-se o Vau Vermelhinho, do Ribeirão São Tomaz.  


O Porto do Gouveínha

          O Porto Novo ou Porto do Gouveínha, no Rio Paranaíba, foi instalado por iniciativa de João de Oliveira Gouveia e Lupércio Veludo, em 1951, para facilitar o tráfego entre Quirinópolis e o Triângulo Mineiro, passando por Ipiaçu (MG), já que a rota pelo o Porto de São Jerônimo e Santa Vitória (MG) não atendia mais a demanda do crescimento da região. 
O tempo de viagem entre Quirinópolis e Ituiutaba por um novo caminho reduziu-se em muito. Nesta época já havia pontes sobre os rios dos Bois e Paranaíba, para se chegar ao Triângulo Mineiro, em Itumbiara e São Simão, por onde na época passavam boiadas e caminhões com cargas pesadas.
 Com a construção do Lago de São Simão desaparecera o antigo porto entre Quirinópolis e Ipiaçu. Todavia, um novo foi instalado no município de Inaciolândia,  com o mesmo nome, para servir a rota.

Ângelo Rosa Ribeiro, conforme depoimentos de seu pai Francisco Rosa Ribeiro, de antigos moradores da região e da bibliografia abaixo citada. 

                                              
 Porto de São Jerônimo, 1930.

Porto do Gouveínha, Quirinópolis,1960

 Porto do Gouveínha, Inaciolândia, 2012.

Referencias usadas

Franca, Basileu Toledo, Cavalo de rodas / a entrada do automóvel em Goiás 
Sagim Junior, Odir, Quirinópolis Histórico/2000

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