sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A Revolução de 64 e a política em Quirinópolis



A Revolução de 64 muda os rumos da política em Quirinópolis

         Em 07 de outubro de 1960, o senhor João Hércules tomava posse na prefeitura de Quirinópolis. Ele era ex-presidente da Câmara na gestão do prefeito  Joaquim Quirino Cardoso, que era filho do coronel  José Quirino Cardoso e cunhado do coronel Jacintho Honório da Silva. Esta data e este mandato tem um valor simbólico como um divisor no destino da política em Quirinópolis.

João Hércules realizava uma boa gestão, tendo em vista a continuidade administrativa dos governos do tradicional Partido Social Democrático, PSD.  Viria abrir a  estrada  que liga o povoado do Tocozinho à Castelândia, cortando os cerrados fechados da região, dando a ela a dimensão de uma rodovia. Firmou convênio  com o Consórcio Rodoviário Municipal, CRISA, para pavimentar com cascalho a rodovia para Gouvelândia. Construiu novo prédio para abrigar a prefeitura municipal, na Praça São Sebastião; edificou o Grupo Escolar Olga Parreira, bem como a nova Cadeia Pública. Conseguiu com o governador Mauro Borges  a construção dos prédios  onde hoje funcionam o Colégio Pedro Ludovico Teixeira, o Grupo Escolar Lauro  Jacintho e o posto de saúde hoje denominado Juca Severiano.

         Antes do término de seu mandato, deu-se a Revolução de Março de 64. Era esta a senha que precisavam as oposições para mudar rumos de políticas tradicionais, em todo o país.  Na Câmara Municipal de Quirinópolis, encarregavam-se os vereadores oposicionistas a  mover processo administrativo contra o prefeito João Hércules, que sem ter onde se agarrar para sua defesa, decidiu renunciar. O seu vice-prefeito era o ex-prefeito Joaquim Quirino, que andava afastado da cidade. Isso foi o  bastante  para que um militante da oposição à política tradicional viesse a cena para distribuir folheto com os dizeres: “ Quirinopolino, você mora em Quirinópolis, mas seu prefeito mora em Barretos”. No caso, este feito coube a Moacir Alexandre de Macedo, que ensaiava seu projeto de disputar a eleição para a Câmara Municipal. Diante da insegurança reinante, o vice-prefeito Joaquim Quirino também renuncia. Assumiu a prefeitura o Presidente da  Câmara, Fábio Garcia da Silveira, que pertencia ao PSD, mas, para se resguardar, decide ficar do lado das forças dominantes - adere a UDN,  para concluir o seu mandato.

         Em 1965, Hélio Campos Leão  se candidata pela terceira vez e consegue se eleger  ao derrotar o udenista Raul Pereira Ramos. Era seu vice Francisco Quirino Cardoso, irmão do ex-prefeito Joaquim Quirino, que havia renunciado meses atrás. 

Os vereadores foram eleitos um ano depois, em 15/11/66, por novas siglas partidárias.  Pelo Movimento Democrático Brasileiro, MDB, sucedâneo do PSD, elegeram-se: Onílio Venâncio de Oliveira, Jovani Inácio de Araújo, Lino da Costa Filho, Dalvo Antônio Carvalho Gouveia e Francisco Rosa Ribeiro. Pela Aliança Renovadora Nacional, ARENA, sucedânea da UDN: Melquíades  Gonçalves Rodrigues, Cristovam Rios Veloso, Moacir Alexandre de   Macedo e Newton Oliveira.

Hélio Leão,  seu vice Francisco Quirino e o presidente do MDB, também ligado aos Quirinos, foram a Goiânia pedir apoio do governador Otávio Lage, da antiga UDN. No retorno, disseram que foram bem recebidos, mas, conforme espalharam para a população, ajuda só seria possível com a adesão destes à ARENA. Como se recusaram, o prefeito confirmou que sofrera retaliações, como a da vinda de uma comissão do departamento de assistência aos municípios do estado para verificar a prestação de contas do município,  com a finalidade indisfarçável de pressioná-lo a aderir. Por outro lado, na Câmara Municipal, os vereadores ligados ARENA tencionavam as reuniões, ao usar forças policias do governo, para coagir os emedebistas. Neste clima, o vereador Dalvo Antonio Carvalho Gouveia, administrador de um porto interestadual, na divisa com Minas Gerais, decide passar para a ARENA, braço partidário da Revolução de 64. Enquanto isso, a administração  do prefeito Hélio Leão segue seu rumo, com os recursos da própria municipalidade.

Os reflexos destes acontecimentos viriam a seguir, na escolha do candidato para a sucessão de Hélio Leão. Realista, o velho líder teria  confidenciado aos seus correligionários, em reunião do diretório do MDB, que sua intenção era apoiar o candidato Humberto Xavier, que era um moço que gozava de bom conceito na cidade. Pertencia aos quadros do fisco estadual, era filho de um antigo companheiro do PSD, o pioneiro Lázaro Xavier, ex-aluno do Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR) e que tinha evidentes ligações como a política do momento. Seria melhor para todos - um candidato único, naquele momento. Mas, militantes do velho PSD, mais radicais, não aceitaram. Decidiram concorrer, mesmo antevendo o  resultado adverso. 

Veio a eleição e confirmou-se a expectativa: foi expressiva  a diferença de votos em favor do candidato a prefeito Humberto Xavier e de seu vice Dalvo Antônio de Carvalho Gouveia. Sua vitória teve o significado da ruptura com o antigo, com o tradicional na política quirinopolina. Apesar de ninguém contestar o fato de que os políticos tradicionais muito fizeram pelo desenvolvimento do munícipio, estava a chegar ao fim o poder dos coronéis, que se fazia com a participação quase sempre  obrigatória de um membro da família Quirino e sob a proteção do velho coronel Jacintho Honório da Silva, chefe político maior do velho PSD. Pela da força da ditadura, mudou-se o quadro político no município, mas Hélio Leão, que era o braço direito destas forças, ainda tentou permanecer em atividade na política: disputou outras eleições mas, diante dos fatos e da nova realidade, não logrou êxito. Assim, encerrava-se, depois de quase 50 anos de dominaçãoum ciclo político de inquestionável significado para Quirinópolis.

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