segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Adolfo José D'Abadia protagoniza encontro fatal


A vida oferecida pelo amigo, pela lei e a paz na Capelinha

        No dia 17 de fevereiro de 1924, o senhor Adolfo José da Abadia, na condição de juiz distrital, presidia as eleições da Capelinha.

      O juiz, além de sua autoridade formal, tinha grande prestígio como político, agropecuarista e comerciante. Era dono da  Fazenda Engenho da Serra, onde criava gado e produzia o açúcar, que era comercializado na região. 

       Adolfo D'Abadia  nasceu em Ipameri -GO. Como era amigo de Pedro Ludovico, desde a época em que estudavam, no Rio de Janeiro, conseguiu sua transferência,  como agente do fisco estadual, de Ipamari para o Porto São Jerônimo, no Rio Paranaíba, na divisa deste município com Santa Vitórna-MG.
      
       No Distrito de Quirinópolis, casou-se com uma filha do coronel Antônio Pereira Rodrigues, o homem mais rico de região da Capelinha.

A fatalidade 

        Logo pela manhã,   o senhor Adolfo foi avisado que José Veloso de Matos, um homem perigoso, conhecido pelo sobrenome Veloso, por razões até hoje não bem esclarecidas o procurava para matar.  

          Foi aí que, por seu destemor, Sebastião Ovídio Ribeiro, que era  esposo de Josina Rosa de Morais, filha do pioneiro das Sete Lagoas - Francisco Rosa de Morais.-  e  que respondia pelo apelido de Sebastião Meia Légua,  foi chamado às pressas, pelo próprio juiz, para dar um jeito no valente Veloso. A denominação Meia Légua era uma alusão a seu gosto pela viola e pela força de sua garganta, que se fazia ouvir a tamanha distância. 

   Sem saída, por ser amigo do juiz, o  Meia Légua aceitou a missão. Após encontrar e ouvir o fora da lei, convidou-o para juntos voltarem para a região das Sete Lagoas, onde ambos residiam, convencendo-o a evitar maiores complicações, naquele dia de eleição. 

         A poucos quilômetros da cidade, em uma passagem estreita no Córrego Cruzeiro, Veloso se atrasou, arrancou de sua arma e detonou-a, atingindo pelas costas o seu acompanhante.  Ferido na coluna, já sem forças, Sebastião pediu que não o matasse pelas costas, quando Veloso, virando-o, explicou suas razões, qual era uma ação por vingança. Estes fatos teriam sido narrados pelo próprio Veloso aos parentes  da vítima.

Soube-se, algum tempo antes deste fato, que em uma festa na casa de José Vicente, morador do Paredão, à pedido do Meia Légua, seu amigo e parceiro Orosimbo Mesquita tentou matar a tiros o Veloso, que alvejado teve orelha e face perfuradas por uma bala. 

 O incidente ocorreu porque Veloso, que acabava de ali chegar, com uma carabina a tiracolo, mal disfarçada sob uma capa para proteção das chuvas, exigiu que Meia Légua, que animava a festa, tocasse um tango. Antes que o fizesse,  uma mulher ali presente, conhecida por América, desquitada, destemida e amiga do festeiro, interveio e pediu que ele tocasse música chasquenta, no que foi prontamente atendida. A divergência se tornou evidente, quando Veloso deu vários tiros debaixo da dançarina, causando enorme correria na noite escura e um conflito entre ele e Meia Légua que, impossibilitado de se movimentar, com uma contusão na perna, então, pediu ao seu amigo Orosimbo dar cabo ao desordeiro. Solícito, com o revólver emprestado pelo amigo, este passou a perseguir o desafeto que foi encontrado, já montado em seu cavalo, pronto para a fuga, quando foi atingido, por uma bala, disparada pelo parceiro do Meia Légua.

Voltando ao caso, após matar o Sebastião, Veloso fugiu para a fazenda do Coronel Jacinto Honório, amigo do juiz e da família da vítima, onde solicitou um almoço, que pagaria com o revólver “da fera das Sete Lagoas”, que tinha acabado de matar.  Daí,  prosseguiu viagem para sua propriedade, onde esteve escondido por alguns dias. 

      Forte esquema policial foi montado, por iniciativa do influente Coronel Antonio Rodrigues Pereira, sogro do juiz, quando soube que o marginal Veloso, que acabava de matar Meia Légua, tinha sido contratado por alguém para matar seu genro.

     As operações policiais ficaram a cargo do delegado de polícia de Rio Verde, Catulino Viegas, que foi especialmente contratado para dar solução ao caso. Acossado pelos policiais, sob o comando do Tenente João Ferreira, Veloso deixou a propriedade do senhor José Corrêa Neves, concunhado e desafeto de Meia-Légua, onde se refugiava, para seguir em direção a Ouroana, escondendo-se na fazenda de Ataliba Jaime, na época citado como uma pessoa influente em Rio Verde, cujo intendente era Frederico Gonzaga Jaime, chefe político local,  nomeado pelo governador Antonio Ramos Caiado, o  Totó Caiado. 
  
     O caso acabou ganhando uma conotação política, pois os Jaimes eram adversários  políticos do Coronel Antonio Pereira, amigo do Dr Pedro Ludivico. 

     Para  fazer parte da escolta foi convocado o senhor José Bento, um morador da região, amigo do falecido,  que conhecia as pegadas do cavalo do fugitivo, por um defeito de seus cascos. Daí, Veloso seguiu para o município de Jataí, onde foi capturado, em seu esconderijo, quando ainda dormia. Ao tentar tentou fugir, mas foi atingido por tiros dos policiais.
           
         Segundo o relato de populares que o temiam, Veloso era também um grande feiticeiro. Ele era capaz de sumir e aparecer de qualquer lugar.  Na dúvida, para que o mesmo tivesse fim, os policiais crivaram-no de balas, mas foi preciso que o informante José Bento contasse que o mesmo possuía, implantado em suas costas, uma imagem de Santo Antonio, que lhe dava proteção. Assim, decidiram arrancá-la e, em seguida, cortar-lhe o pescoço.

Devido à distância e as dificuldades de traslado à época, o corpo ali foi enterrado. O seu rosto e sua orelha, marcados por velhas cicatrizes, foram levados, com um bilhete, informando que “o touro foi abatido próximo a Jataí”, e entregues ao Cel. Antonio Rodrigues Pereira, que ao conferir as provas, deu uma grande gargalhada.

Este episódio, de forma resumida, foi lembrado no livro de memórias do Dr. Pedro Ludovico Teixeira, que como médico estava no povoado, cuidando da saúde do Coronel, a pedido de seu amigo Adolfo, quando os portadores chegaram, com as provas da missão cumprida.  Ao perguntar-lhe o motivo dquela grande expansão  alegria, o Coronel disse: “livrei meu genro da morte certa,” não entrando em pormenores.

      O coronel Antonio Pereira  livrou o seu genro de morte certa, mas o pai de família Sebastião Ovídio Ribeiro já havia morrido para garantir a vida de seu amigo, que era o juiz da cidade,  e para que houvesse paz no dia da eleição.


Observação: Sebastião Ovídio Ribeiro, um dos protagonista deste episódio, era o pai de Francisco Rosa Ribeiro e avô deste escriba.

                         Ângelo Rosa Ribeiro, conforme relato de seu pai Francisco Rosa Ribeiro.

Um comentário:

  1. Olá! O senhor Adolfo era meu bisavô. Pai de meu avô Roselnvaldo José D'abadia.
    Meu Pai: Roberto Rodrigues D'abadia.
    E eu: Summer Bittencourt D'abadia.
    Parabéns pela sua história.
    Abraço!

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