sábado, 13 de abril de 2024

Quirinópolis, o milho e a poetiza Cora Coralina



Abaixo  a Oração do Milho - Cora Coralina

O município de Quirinópolis,  até a metade do século XX,  era um grande produtor de milho, utilizado sobretudo para a criação e engorda de suínos. 

A expressiva produção local colocava  Quirinópolis no 'ranking',  como maior produtor  do Estado de Goiás. 

Tanto  milho levou a que exigentes paladares e boas cozinheiras do lugar o transformasse em deliciosas iguarias. Uma delas se tornou conhecida em todo o mundo, dado ao seu sabor incomparável - a Chica Doida.

Por isso, o louvor ao milho da célebre Cora Coralina deve ser divulgado e incorporado ao patrimônio cultural deste rincão goiano.

Quirinópolis agradece a poetiza do cerrado pela sagrada oração que tem muito a ver com a história sócio-econômica e cultural do município. Hoje, criamos e ostentantamos  a Chica Doida, prato famoso que dada a sua popualridade  virou nome de festival, além da produção de grandes safras do grão que vira ração animal e combustível de uso mundial.

No tempo e no espaço de nossa existência sempre tivemos tudo a ver com o milho.

A oração consagrada ao milho

Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.

Meu grão, perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada. Ponho folhas e haste e se me ajudares Senhor, mesmo planta de acaso, solitária, dou espigas e devolvo em muitos grãos, o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.

Sou a planta primária da lavoura. Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo. E de mim, não se faz o pão alvo, universal.
                
O Justo não me consagrou Pão da Vida, nem lugar me foi dado nos altares.

Sou apenas o alimento forte e substancial dos que trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.

Sou de origem obscura e de ascendência pobre. Alimento de rústicos e animais do jugo. fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito.

Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante. 

Sou a farinha econômica do proletário.

Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.

Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis.

Sou o cocho abastecido donde rumina o gado

Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.

Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos

Sou a pobreza vegetal, agradecida a Vós, Senhor, que me fizeste necessário 
 
 SOU O MILHO"


        Por Angelo Rosa Ribeiro, quirinopolino, ex-secretário estadual de agricultura

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