quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A importância de Barretos (SP) para Goiás





A região Noroeste Paulista e o Desenvolvimento de Goiás


Ao aprofundar estudos sobre a história da economia goiana percebe-se o grande significado da participação da região Sudoeste no desenvolvimento do Estado de Goiás. Como se sabe, com a decadência da mineração, que durou 50 anos, de 1726 a 1776, toda a província de Goiás viveu sob forte estagnação econômica. Não foi possível, por longos anos, encontrar um produto ou uma atividade que substituísse em nível de vantagem econômica a mineração, que se inviabilizara. A decadência do ouro sacrificou a sociedade goiana, por mais de cem anos, com migração dos habitantes dos centros urbanos para a zona rural e regresso a condição de uma economia de subsistência.


Havia, nesta época, um completo isolamento da região Sudoeste em relação à capital da província. A partir de 1838, após a publicação da lei federal que abolia a cobrança de dízimos de miunças e impostos sobre a criação de gado vacum e cavalar, intensificou-se na região Sudoeste de Goiás a migração de mineiros e paulistas, em busca de terras para criar gado, que ali se estabeleceram com suas famílias, aderentes, pertences, escravos e as miunças - porcos, carneiros, cabritos, galinhas e outras, fazendo surgir na região milhares de posses rurais e dezenas de povoados.


Foi a partir do Sudoeste que a economia de Goiás ganhou novo rumo. Por isso, para entender a retomada do desenvolvimento da província, sem os dividendos da mineração, será preciso compreender o que se passou nesta região, neste período.


Tudo começou por eventos climáticos surgidos na região Noroeste de SP, quando em 1870, fortes geadas caíram sobre matas, nas circunvizinhanças de Barretos-SP, dando origem a incêndios e a destruição de enormes áreas da vegetação. Com a chegada das chuvas, exuberantes pastagens ali se formaram e foram aproveitadas, para a criação de gado. Iniciou-se assim o ciclo da pecuária de maior importância para o desenvolvimento de toda região central do país. Em 1909, chegou a Barretos a Ferrovia Paulista, como uma extensão de sua rede cafeeira. Em 1913, veio a Companhia Frigorífica Anglo-Pastoril, de propriedade da Coroa Inglesa, reinado que dominava o mercado de carne mundial. À época, também se desenvolveu a indústria de refrigeração de carne, nas circunvizinhanças de capital paulista. A cidade de Barretos tornou-se centro de comercialização pecuária, aproximando os fornecedores de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás aos consumidores da capital paulista, das áreas de expansão dos cafezais, dos sítios da mineração e do litoral brasileiro.


Na esteira destes acontecimentos, os proprietários de terras da região Sudoeste e muitos empreendedores que aqui chegaram atraídos pela isenção de impostos concedida pelo governo da província, intensificaram a criação de gado. Com os grandes lucros auferidos na comercialização, pois monopolizavam o comércio e adquiriam toda a produção dos pequenos e médios criadores, surgiram os coronéis da região, proprietários de extensas áreas de terra e grandes rebanhos bovinos, entre eles Antonio Rodrigues Pereira e Jacinto Honório da Silva, ambos da Capelinha, hoje Quirinópolis, um dos maiores pólos de criação de gado da região de Rio Verde.


Nesta época surgiram diversas variantes de estradas boiadeiras, oriundas de diferentes pontos do Sudoeste, de outras regiões da Província e de  Mato Grosso. Por vaus ou portos improvisados, atravessavam o Rio Paranaíba, à montante da região do Canal, que mais tarde fora denominado Canal de São Simão, e adentravam o Triângulo Mineiro em direção a região de Barretos, na Noroeste Paulista.


A Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), a Guerra Abissínia (1935) e a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) proporcionaram forte incremento nas exportações brasileiras de carne e enlatados. Foram longos anos de grande acumulação de capital, pelos pecuaristas.


Em 1919, animados com o progresso da região, um grupo de empreendedores de Santa Rita do Paranaíba, hoje Itumbiara, inaugurou a primeira autovia de Goiás, a Sul Goiana, que ligava este  povoado a Rio Verde, Jataí, chegando até Santa Rita do Araguaia, em iniciativa de enorme significado socioeconômico. Conforme registros históricos, logo após a inauguração da autovia, o aventureiro João Cornélio Brum, guiou um fordinho, de São Paulo a Jataí e daí, por péssimas estradas tropeiras e carreiras, chegou à Vila Boa de Goyaz, capital da província, que assim recebeu o seu primeiro automóvel, alarmando as ruas daquela histórica comunidade.


Vivenciando este momento auspicioso, o médico Pedro Ludovico Teixeira, radicado em Rio Verde, adquiriu prestígio político em toda região e tornou-se o líder goiano do movimento revolucionário chefiado por Getúlio Vargas, com o que põe fim a oligarquia dos Caiados e se torna interventor da província de Goiás. Ao assumir o poder colocou em pratica idéias transformadoras defendidas pelas lideranças do Sudoeste, como a da mudança da capital, para uma região mais central, de melhor topografia e condições logísticas, para o desenvolvimento da província.


A partir de 1930, com o Estado Novo, os coronéis perderam status, mas os negócios do gado não pararam de crescer, favorecidos por políticas de fomento do governo Vargas, consolidando-se como uma atividade rentável, para grande e pequenos criadores, comerciante de gado e o grande número de trabalhadores da atividade.


Na década de 50, ocorreu no Sudoeste a intensificação dos desmatamentos, para a formação de pastagens e surgia em paralelo uma agricultura de mercado. Graças a pioneiros, que vieram, sobretudo, do Triângulo Mineiro e de São Paulo, tiveram início os plantios de arroz de sequeiro, que se multiplicaram por toda a região, abrindo espaços para a implantação de pastagens e conquista de novas fronteiras para a pecuária.


Com o advento de novas práticas e novos cultivos agrícolas, a região logo mostraria todo seu potencial. Nesta época, deu-se o domínio tecnológico dos cerrados, com grandes avanços na pesquisa agropecuária, com a utilização do calcário, para o controle da acidez dos solos, adubos químicos, mecanização agrícola e a diversificação das culturas, com o plantio comercial do milho, feijão, soja e a implantação de pastagens artificiais. O Sudoeste Goiano, impulsionado pelo ideal produtivista e por avanços tecnológicos, começa a se destacar como grande produtor de alimentos e ingressa em nova fase de seu desenvolvimento.


Embora a contribuição da região Sudoeste para a formação de riqueza goiana continuasse diferenciada, o Estado, beneficiado por longos anos do extraordinário impulso  sudoestino, com base na produção de bovinos, agora possuía outro perfil econômico, com o desenvolvimento de novas atividades, em várias regiões de seu território. Todavia, o seu desenvolvimento, em certo período de sua história econômica, muito dependeu das transformações que ocorreram no Sudoeste Goiano, alavancadas pela comercialização do gado e do mercado da carne bovina na região de Barretos e Noroeste Paulista.

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