quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Itajá, Itarumã e Aporé: integrando-os a Goiás



Região do extremo isolamento goiano


            Em 1982, os municípios de Itarumã, Itajá e Aporé, no extremo Sudoeste Goiano, constituíam uma espécie de ilha, que se isolava do plano estadual e se agregava cada vez mais a conjuntura de Mato Grosso do Sul e da região Noroeste de São Paulo, para onde os goianos destes municípios tinham que se deslocar para adquirir mercadorias e bens diversos, encontrar opções de lazer e entretenimento e, assim, de lá importavam também modos e costumes. Era freqüente ouvir por ali expressões populares, completamente diferentes das empregadas pelos goianos, “coisas” das culturas mato-grossenses e paulista, trazidas pela influência de suas cidades, mais próximas e ligadas por asfalto, a partir da fronteira de Goiás.

A exclusão dos goianos do seu próprio estado advinha de fatores como precariedade dos meios de transportes e de comunicação da região com o restante do estado de Goiás, fato notório, que humilhava e causava revolta das principais lideranças daqueles municípios. O isolamento era decorrente da  falta de planejamento, organização administrativa, investimentos em infraestruturas, portanto, por falta de presença do governo de Goiás, naquela região.

            O diagnóstico era fácil. O difícil era mudar em poucos anos esse grave quadro de atraso, de várias décadas. Não havia estradas que permitissem trafégo regular durante todo ano, entre Quirinópolis, Rio Verde, Jataí e mesmo Caçu, mais integrada a Goiás,  até a divisa com Mato Grosso.

 O município de Itajá possuía um agravante: tinha sido  transformado em estância hidromineral, pela ditadura militar. Os prefeitos eram nomeados e havia completa desmotivação política, pela supressão da participação popular e era diminuta a capacidade de solução administrativa através de seus prefeitos nomeados.  A cidade se desorganizou completamente e atrasou-se no tempo e no espaço.

Em 1983, teve início um período de grandes transformações em Goiás, com a queda da ditadura e o advento do governo de Iris Resende,  e especial atenção foi dada a esta região de Goiás, agora sob o comando de novas lideranças, eleitas em 1982.
 

A contribuição do prefeito Valdemar, de Itajá

         No início do governo de Iris Resende, casualmente nos encontramos com o prefeito de Itajá, Valdemar de Freitas Sampaio, em uma antesala do gabinete do secretário da fazenda Osmar Cabral. O prefeito estava impaciente com a demora de seu atendimento. Informamos ao secretário sobre sua presença e este imediatamente o recebeu.

            O prefeito agradecido disse-nos que pelejava sozinho nas repartições do Estado e que se estivéssemos com disposição para ajudá-lo, ele e a população de Itajá, que precisava muito de ajuda, não iriam disso esquecer. Então, passamos a conversar sobre os problemas de sua cidade e da região. A partir daquele momento assumimos algumas de suas solicitações  e demos solução as mesmas. Logo começaram a chegar pedidos encaminhados pela primeira dama Marta Simões de Oliveira Sampaio, vereadores, companheiros do prefeito, populares, cada um com uma demanda. Foi desse modo que uma série de benefícios foram levados a população itajaense.

Ao conhecer a situação política de  Itajá constatamos que entre suas principais lideranças  haviam divisões irreconciliáveis, o que nos favoreceu, por uma condição óbvia – a causa que unia. Consegui reunir a todos em torno de um pleito comum na região,  com o qual estava comprometido e vinha trabalhando com intensidade, que era conseguir o asfaltamento da rodovia GO-206, desde Cachoeira Dourada, passando por  Quirinópolis, Caçu, até a divisa com Mato Grosso do Sul.
 
A nossa presença serviu para aumentar o pode de reinvindicação  e evidenciar ainda mais as carências da região. Passamos a discutir as questões locais na Assembléia Legislativa e no Governo.  Os assuntos inerentes a luta em defesa da  região começaram a ser discutidos de forma veemente, muitas vezes até em clima de tensão e nervosismo.

 Jamais poderemos nos esquecer do ocorrido pouco tempo depois do lançamento das obras de asfaltamento do trecho Quirinópolis-Caçu, durante uma visita do governador Iris Rezende. Para Caçu se deslocaram lideranças de Itarumã e Itajá, na esperança de ouvir do governador o compromisso de levar o asfalto até seus municípios. Como nada se ouviu na sua fala, combinamos ir até as escadas de seu avião, para interpelá-lo sobre o assunto e reiterar o pedido. Nas proximidades do avião, encheu-se de lideranças dos dois municípios. Quando o governador se aproximou, sem que houvéssemos combinado a estratégia, tomou a frente o senhor Orestes de Freitas, um velho líder da região, para dizer ao governador, em tom veemente, que se o asfalto não chegasse até Itarumã, que o governador falasse ali, naquele instante, porque iria rasgar o seu título de eleitor, para não ter mais que falar em política, porque estava desmoralizado. O governador provocado tomou-se de certa  irritação e disse que ainda não podia fazer aquele compromisso, para também não ficar desmoralizado, se por acaso não tivesse como cumprir. 

O ”se” proferido pelo governador evitou que o título de Orestes fosse ali rasgado, mas não deixou ninguém satisfeito. Ao entrarmos no avião, percebemos que o governador estava preocupado com o ocorrido, mas nos tranquilizou ao dizer que sua intenção era fazer o asfalto, era este seu desejo, mas que preferiu não se comprometer. Deixava para falar no momento certo.


A partir daquele momento o governo  priorizou os pleitos da região. A luta dos prefeitos e das lideranças se intensificou. Não se falava noutro assunto. Até que, com a ajuda de Mauro Miranda, irmão do governador de Mato Grosso do Sul, Marcelo Miranda, que presidia o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, DERGO, o trecho foi incluído no rol de obras prioriárias, para asfaltamento. Não demorou e os trechos foram licitados e as obras começaram.

 Outro fato interessante aconteceu com chegada do asfalto a Itajá. O prefeito Valdemar, no caso em questão, com medo de ficar desmoralizado não sabia como responder às indagações dos moradores de sua cidade.  Aconteceu que o asfalto da GO-206  chegou ao trevo da cidade e deveria  demandar a Ponte Zeca Pereira, no Rio Aporé, na fronteira estadual,  a poucos quilômetros de uma rodovia asfaltada, no Mato Grosso do Sul. Todo mundo estava esperando por isso, mas, o governador ordenou que se fizesse primeiro o trecho da Lagoa Santa. A população de Itajá, com medo do asfalto não passar pela cidade, caiu de cima do prefeito. Ele sem saber o que responder teve que deixar a cidade, mas teria que voltar com uma boa solução. O governador  e o diretor do DERGO estavam em Cristianópolis, para aonde fomos, na esperança de ter uma palavra, que minimizasse seu sofrimento. A resposta foi que de imediato não seria possível atendê-lo. Teve que voltar com o que já tinha – apenas com a promessa. Como juntos trabalhamos muito e o prefeito teve muita sorte, não ficou desmoralizado, como temia. Acabou levando o asfalto para a Lagoa, para a ponte Zeca Pereira e também para Cassilândia. Aí valeu a pena.

Para consertar Itajá, cujas ruas se encontravam tortuosas, desniveladas, com erosões gigantescas, quarteirões fora do esquadro e uma situação geral de caos urbanístico foi preciso muita competência e dedicação do prefeito Valdemar de Freitas Sampaio, que como engenheiro deu enorme contribuição para a reestruturação física e para a organização administrativa daquela cidade. O prefeito Sebastião de Freitas Neto, seu sucessor, também deu significativa contribuição para aperfeiçoar a cidade, em seu aspectos físico estrutural e socioeconômico.

 Os municípios de Itarumã e Aporé tinham problemas semelhantes aos de Itajá, mas suas lideranças souberam participar do especial momento de desenvolvimento por que passou o estado e reencontraram o caminho do progresso. 

O município de Itarumã era administrada pelo prefeito Fiíco, que precisava de um forte apoio para asfaltar a maioria das ruas da sua cidade. Fomos procurados pela liderança que ali sempre nos apoiava, o popular Índio, para levar este pleito ao Governador. Com o respaldo do diretor Mauro Miranda conseguimos  a aprovação do pedido. Itarumã, além de ficar ligada por asfalto a Caçu e Itajá, conseguiu mudar seu perfil urbanístico. 

Aporé tinha uma arrecadação de impostos muito alta, mas o prefeito Adão Alves dos Santos era de oposição e não conseguia deslanchar sua administração. Sua vez chegou quando em companhia do prefeito Valdemar, de Itajá, fomos a Uberaba acompanhar o governador em um evento, onde era homenageado. Em uma conversa rápida o governador nos disse que precisava fazer alguma coisa por Aporé, de onde vinham tantos recursos para o tesouro estadual, mas não via como viabilizar, pela falta de parceria com o prefeito. Combinamos então agir, para resolver o impasse. Primeiro o prefeito Valdemar foi a Aporé conversar com o Adão, que se mostrou receptivo. Marcamos uma audiência dele com o governador e voltamos para comunicar resultados para a população. A sorte de Aporé então mudou e nunca se viu tantas obras de uma só vez, por lá. Terminal rodoviário, ponte sobre o Rio Aporé, rede de água tratada, melhorias do sistema telefônico, asfalto nas ruas, casa populares e muitos outros benefícios.

A conquista do asfaltamento em toda extensão da GO-206 possibilitou sua transformação em uma artéria de grande poder para oxigenar e revitalizar aquele espaço isolado, ao possibilitar fácil circulação de mercadorias e escoamento de suas riquezas, o que fez acelerar o crescimento econômico regional, com resgate da autoestima da população daquelas comunidades. Na esteira desta conquista vieram investimentos sociais, infraestruturais e produtivos, dos governos estaduais, das prefeituras e da iniciativa privada. Houve um maior fluxo de notícias goianas naqueles municípios, com a circulação de jornais, sinais das emissoras de televisão da capital goiana, melhorias da comunicação por telefones, pela expansão destes serviços. Somando-se aos demais benefícios que o governo goiano propiciou, mudou-se o perfil de interação econômicosocial e cultural dos municípios desta região, fortalecendo o sentimento da goianidade de suas populações.

Era um grande desafio, que assumimos e vencemos, em dois mandatos, honramos a expressiva votação que recebemos na região. Com dedicação, trabalhamos diuturnamente, conduzidos pelo ideal de servir, ao lado de prefeitos idealistas e lideranças valorosas, que ficarão definitivamente na história destes municípios, por participarem de um processo de transformação de uma realidade, que teve o significado de redenção regional e de resgate desse rico rincão, dos vales dos rios Aporé, Verdinho e Corrente, reintegrando-os de forma completa, como expressivos e valorizados municípios goianos.

Pode se afirmar que, pelas inquestionáveis mudanças ocorridas na região, entre 1983 e 1989, nos governos de Iris Rezende Machado e Henrique Santillo,  a referida região deixou de ser do extremo isolamento goiano e que os municípios de Itajá, Aporé e Itarumã foram definitivamente integrados ao Estado de Goiás. Por justiça é preciso ressaltar a boa vontade de Mauro Miranda, à época Diretor Geral do DERGO, que tinha grande entusiasmo pela região e que muito nos ajudou na  definição dos pleitos com o governador Iris Rezende.


Principais benefícios conquistados pelo nosso efetivo trabalho, junto ao governo estadual, em parceria com os prefeitos Valdemar de Freitas Sampaio, de Itajá, Adão Alves dos Santos, de Aporé e de importantes lideranças da região, que também atuaram naquela época, cujos nomes pedimos permissão para não citar, para não correr o risco de alguma omissão, até pela impossibilidade de lembrar o nome de todas, neste momento.



Itajá



Asfaltamento da GO-206 no trecho Caçu-Itarumã-Itajá;
Obras de arte e compromisso de asfaltamento da GO-206 entre Quirinópolis e Caçú;

Ligação asfáltica para Aporé, pelas imediações de Cassilândia-MS;

Ligação asfáltica para Lagoa Santa;

Ligação asfáltica para MS, via Ponte do Zeca Pereira;

Duplicação da rodovia de acesso à cidade;

Construção de bueiro Ribeirão São João;

Ampliação de rede de energia elétrica urbana;

Parceria para construção de 20.000 metros quadrados de asfalto urbano;

Parceria para construção de redes pluviais;

Construção de rede energia elétrica para Olaria da Fumaça;

Construção de um ginásio de Esportes;

Instalação do DETRAN;

Construção da ponte Zeca Pereira, no rio Aporé;

Perfuração de poço artesiano e rede de distribuição de água de Lagoa Santa;

Construção do Terminal Rodoviário;

Doação de uma viatura policial;

Módulo esportivo com alambrado e vestiário;

Criação do Distrito Termas do itajá, que deu origem ao município de Lagoa Santa.



Aporé


Construção de Terminal Rodoviário;

Implantação da rede de distribuição de água;

Ligação asfáltica para Itajá, pelo trevo para Cassilândia-MS;

Construção de ponte sobre rio Aporé;

Doação de 20.000 metros quadrados de asfalto urbano;

Expansão e melhorias do serviço telefônico.



Itarumã


Asfaltamento dos trechos da GO-206, para Caçu e para Itajá, até a divisa com MS;
Implantação de asfalto urbano, beneficiando todas as ruas da cidade;



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