quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Turvelândia – emancipação, história


Turvelândia – história

                Turvelândia iniciou sua história em 1904, quando chegaram os primeiros moradores da região, oriundos do Nordeste brasileiro. Eles foram atraídos pelas terras férteis e pela oferta de trabalho na produção de grãos. Mas o povoado começou a se desenvolver realmente só no início da década de 60. O espaço para formação do povoado foi adquirido pela prefeitura de Paraúna, nos anos 1962 e 1967, com a aquisição de áreas cedidas por  Antônio Leão da Silva e Jerônimo Pimenta Neves. A denominação Pirraça surgiu deste processo de cessão de áreas, que conforme os antigos moradores, aconteceu por  pirraça entre os fazendeiros. Com a emancipação do município de Acreúna, no ano de 1976, Turvelândia passa à condição de distrito deste município.

                Em 1982, o médico-veterinário e professor da Universidade Federal de Goiás, UFG,  Ângelo Rosa foi lançado candidato a deputado estadual. Em um comício em Santa Helena o  médico Dr. Albany Faleiros, que era amigo da família do candidato em Quirinópolis, o apresentou ao  seu amigo Geraldo Sírio, que era  arrendatário de terras, grande produtor de grãos e líder do povoado da Pirraça, para alguns, ou Tuvelândia, para outros, hoje Turvelândia.  A ele pediu apoio ao seu amigo de Quirinópolis e garantiu que se eleito o mesmo daria apoio para o desenvolvimento do povoado. Geraldo Sírio disse que estava muito ocupado com a campanha de vice-prefeito e com suas lavouras, mas garantiu que deixaria a cargo de seu candidato ao vereador  Irani Leão a tarefa de divulgar o seu nome e ajudá-lo. Marcou para o dia seguinte um, domingo, a reunião no povoado.

                Lá chegando, Ângelo Rosa procurou o Irani, que por sua vez o levou a um campo de futebol, onde o apresentou a amigos, familiares e aos atletas do time do povoado. O candidato a vereador disse aos presentes que Turvelândia estava há anos  abandonada pelos políticos e que havia muitas carências tanto no social como em termos de infraestruturas. Revelou que o Geraldo  Sírio  já tinha pedido o seu apoio ao candidato à deputado, mas que os seus amigos ali presentes, ligados ao esporte, que não estavam vendendo os seus votos, queriam a construção de um alambrado e um vestiário naquele campo de futebol. Diante do pedido, Ângelo convidou o time para com ele fazer as contas dos custos dos pedidos. Logo chegaram a  conclusão que o candidato deveria doar os materiais de construção e que o grupo em mutirão ergueria o vestiário. Tudo acertado, o candidato a deputado voltou para a inauguração três semanas depois.

                O grupo animado  elegeu o vereador Irani Leão e deu quase 200 votos ao  deputado. Geraldo  Sírio foi eleito vice-prefeito de Acreúna. Após sua eleição Ângelo Rosa aproximou-se das lideranças do povoado para levar benefícios, como melhorias para a educação, implantação do curso colegial, rede de água, instalação dos correios, agência do BEG, casas populares, etc. Criou-se um novo ânimo no povoado, que agora tinha vereador, um vice-prefeito amigo do governador Iris Rezende e um deputado.


Emancipação - relato

Em vários municípios goianos haveria  divisão territorial e transformação de distritos em municípios. Foi aí que o deputado decidiu encaminhar o projeto da emancipação do distrito de Turvelândia, depois de se reunir com as lideranças locais. Para colocar o projeto em execução chamou o vereador Irani Leão e o incumbi de tomar o maior número de assinaturas para o projeto, tendo o cuidado de deixar o espaço para  a assinatura que encabeçaria o requerimento - a do grande líder e vice-prefeito Geraldo Sírio. Tudo ocorreu como combinado, exceto a surpreendente recusa do vice-prefeito  em  firmar o requerimento. Ele havia se desentendido com o Irani, por motivos  políticos e não aceitava a assinatura do vereador no encaminhamento da  emancipação. 

Surpreso com a novidade o deputado ligou para o Geraldo, mas sem lograr êxito. Era definitivo, o vereador não poderia  participar o processo. Descontente o vereador entregou a relação e, de forma humilde, disse que poderia retirar a sua assinatura, porque entendia que o vice-prefeito Geraldo não cederia. Criou-se um impasse, porque o deputado amigo dos dois evitava excluir qualquer nome do pedido de emancipação. Sem uma solução, aproximava-se a data limite para a votação do processo. Era o último dia, quando o Geraldo Sírio muito contrariado pediu para ver o processo da emancipação para rasgá-lo. Então, em tom de brincadeira o deputado disse-lhe que não era preciso continuar com aquela pirraça de lideranças. Ele se assustou, mas logo se mostrou mais aliviado com a informação de que o vereador, diante do impasse, exigiu a retirada de  sua assinatura. E assim foi feito. Depois disso,  o deputado levou o seu amigo Geraldo ao gabinete do deputado Osmar Cabral para que assumisse o projeto, em respeito a divergência dos dois amigos. Assim, Osmar incumbiu-se de acompanhar o final da tramitação do processo do deputado Ângelo Rosa  para que a Pirraça se tornasse para sempre Turvelândia, pela emancipação.

Após da aprovado pela Assembleia Legislativa Estadual,  o novo  município recebeu o nome de Turvelândia, pela Lei Estadual nº 10.429, de 8 de janeiro de 1988, e foi instalado em 1º de junho de 1989. O Tribunal Regional Eleitoral havia marcado para 15 de novembro de 1987 o plebiscito para a emancipação. Mas, no dia 11 de agosto de 1988, o Supremo Tribunal Federal suspendeu a criação de novos municípios. No entanto, em 22 de novembro de 1988, o Tribunal Regional Eleitoral voltou a marcar as eleições  para o dia 16 de abril do ano seguinte, fixando em nove vagas para o Legislativo Municipal.

Geraldo Sírio que de fato era o grande líder local, comemorou  intensamente com população  a independência de Turvelândia. Queria vê-la desenvolver pela sua liderança, longe da influência dos seus desafetos políticos - o prefeito  José Pires Marquês, de Acreúna e seu aliado vereador Irani Leão, da Turvelândia.  Sua intenção era clara: isolar a influência do prefeito e ignorar a liderança do vereador, ligado ao distrito, mas amigo do prefeito. Geraldo queria se reforçar para disputar à prefeitura do novo município, pois contava com o apoio e a amizade da família Mendonça, donos do principal empreendimento do  município recém criado – a usina de açúcar. Geraldo Sírio, que era muito querido da população, iria obter expressiva vitória e marcar a história do município com sua participação, como seu primeiro prefeito, ao se  eleger e ao escolher João Mendonça Teodoro como seu vice-prefeito. 

Angelo Rosa Ribeiro é assessor técnico da SEGPLAN, ex-deputado estadual, ex-secretário estadual das pastas de agricultura e de planejamento e coordenação.

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