Fotos: O Ecológico
O buriti é o elemento de destaque das veredas que dão vida e embelezam o cerrado brasileiro. Mas, não
é só isso: onde ele estiver, há água por perto. Por isso, o buriti é a palmeira que simboliza a vida. Enquanto ela existir haverá água e esperança no planeta.
A palavra buriti tem origem no tupi-guarani mbiriti, que também significa “árvore da vida”. Para os índios da tribo
Krahô, a palmeira foi trazida por uma estrela que veio do céu para enriquecer e enfeitar a terra.
Sua relação com as veredas e com a água, esse precioso recurso, não é à toa. Na maioria das vezes, é ela quem transporta as sementes que brotam em outros locais, criando paisagens, mantendo as veredas e ambientes que são fontes para a subsistência humana e, claro, inspiração para a arte, a música e a literatura, como retratou Guimarães Rosa no clássico “Grande Sertão: Veredas”.
Do citado clássico se extrai: “O buriti é das margens, ele deixa cair seus cocos na vereda – as águas levam os coquinhos pelas beiras e elas mesmas o replantam. Daí, o buritizal, de um lado e do outro se alinhando, acompanhando- as, que nem por um cálculo”. Os frutos são produzidos pelas plantas fêmeas, já que as machos produzem apenas belos cachos de flores.
Tal com acontece em todo o país, o buriti é muito encontrado em nossa região. Embeleza e concede o devido destaque para nascentes e várzeas, lugares sagrados da natureza. Os buritizais representam a harmonia dos cerrados e a esperança de continuidade da vida. Suas sombras amenizam o clima e proporcionam o ambiente ideal para a sustentação e multiplicação de várias espécies aquáticas e terrestres.
O buritizeiro não só produz alimentos para diversas espécies, como ema, macacos, jabuti, veado, anta, queixada e outros, como também fornece abrigo para outras. Algumas espécies como as araras, e até lagartos, ajudam na dispersão das sementes. A orquídea baunilha-gigante, por exemplo, é uma espécie que se estabelece nos troncos desta palmeira. Nos troncos secos, as araras fazem seus ninhos. Muitos animais como onças e outros felinos aproximam-se dos buritizais para a caça.
Segundo o Dr. Hugo Werneck,
“pai” do ambientalismo brasileiro, o valor de um buriti é imensurável, assim
como o valor dos rios, dos animais, das florestas e da vida em geral. Por seus valores, o
buriti também é chamado de “palmeira de mil e uma utilidades”, uma planta que
atende a todas as necessidades do ser humano (saúde, alimentação, habitação,
artesanato, medicina e outros).
Suas folhas são utilizadas para cobrir casas, fazer tapetes, brinquedos e
bijuterias. Dos seus caules, é possível extrair um líquido que se faz vinho. Da
medula do tronco, se faz fécula. Do broto, deliciosos palmitos. Da polpa
açucarada podem ser produzidos doces, sorvetes, licores e sucos. E das amêndoas
se faz um óleo com valor medicinal, utilizado como vermífugo, analgésico,
cicatrizante e energético natural.
Ao se tomar como base a cultura dos índios da tribo Krahô, ao enfatizarem suas três crenças primordiais – a harmonia da natureza, a força das plantas e a celebração à vida pode se ver a importância desta palmeira do ponto de vista da sustentabilidade no cerrado, tanto do buriti quanto das outras árvores produtivas, que sempre utilizaram para a sobrevivência da sua nação.
Esta palmeira tem um potencial pouco explorado do ponto de vista da sua multiplicação, através de manejo sustentável, e do aproveitamento de seus subprodutos para produzir renda e ganhos sociais. Não só indígenas, como descrito, mas caboclos e sertanejos consideram-na a árvore da vida.
Do buriti tudo se aproveita.
Por Ângelo Rosa Ribeiro, quirinopolino, ex-secretário de agricultura de Goiás e ex-superintendente da SEMARH-GO, em texto extraído e adaptado da Revista “O Ecológico".
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