sábado, 3 de outubro de 2015

Buriti - a árvore da vida












Fotos: O Ecológico

     O buriti é o elemento de destaque das veredas que dão vida e embelezam o cerrado brasileiro. Mas, não é só isso: onde ele estiver, há água por perto. Por isso,  o buriti é a palmeira que simboliza a vida. Enquanto ela existir haverá água e esperança no planeta. 

      A palavra buriti tem origem no tupi-guarani mbiriti, que também significa “árvore da vida”. Para os índios da tribo Krahô, a palmeira foi trazida por uma estrela que veio do céu para enriquecer e enfeitar a terra. 

       Sua relação com as veredas e com a água,  esse precioso recurso, não é à toa. Na maioria das vezes, é ela quem transporta as sementes que brotam em outros locais, criando paisagens, mantendo as veredas e ambientes que são fontes para a subsistência humana e, claro, inspiração para a arte, a música e a literatura, como retratou Guimarães Rosa no clássico “Grande Sertão: Veredas”.

        Do citado clássico se extrai: “O buriti é das margens, ele deixa cair seus cocos na vereda – as águas levam os coquinhos pelas beiras e elas mesmas o replantam. Daí, o buritizal, de um lado e do outro se alinhando, acompanhando- as, que nem por um cálculo”. Os frutos são produzidos pelas plantas fêmeas, já que as machos produzem apenas belos cachos de flores.

        Tal com acontece em todo o país, o buriti é muito encontrado em nossa região. Embeleza  e concede o devido destaque para nascentes e várzeas, lugares  sagrados da natureza. Os buritizais representam a harmonia dos cerrados e a esperança de continuidade da vida. Suas sombras amenizam o clima e proporcionam o ambiente ideal para a sustentação e multiplicação de várias  espécies aquáticas e terrestres.
 
     O buritizeiro não só produz alimentos para diversas espécies, como ema, macacos, jabuti, veado, anta, queixada e outros, como também fornece abrigo para outras. Algumas espécies como as araras, e até lagartos, ajudam na dispersão das sementes. A orquídea baunilha-gigante, por exemplo, é uma espécie que se estabelece nos troncos desta palmeira. Nos troncos secos, as araras fazem seus ninhos. Muitos animais como onças  e outros felinos  aproximam-se dos  buritizais para a caça.  

        Segundo o Dr. Hugo Werneck, “pai” do ambientalismo brasileiro, o valor de um buriti é imensurável, assim como o valor dos rios, dos animais, das florestas e da vida em geral. Por seus valores, o buriti também é chamado de “palmeira de mil e uma utilidades”, uma planta que atende a todas as necessidades do ser humano (saúde, alimentação, habitação, artesanato, medicina e outros). 

       Suas folhas são utilizadas para cobrir casas, fazer tapetes, brinquedos e bijuterias. Dos seus caules, é possível extrair um líquido que se faz vinho. Da medula do tronco, se faz fécula. Do broto, deliciosos palmitos. Da polpa açucarada podem ser produzidos doces, sorvetes, licores e sucos. E das amêndoas se faz um óleo com valor medicinal, utilizado como vermífugo, analgésico, cicatrizante e energético natural.

    Ao se tomar como base a cultura  dos  índios da tribo Krahô, ao enfatizarem suas  três crenças primordiais – a harmonia da natureza, a força das plantas e a celebração à vida pode se ver a importância desta palmeira do ponto de vista da sustentabilidade no cerrado,  tanto do buriti quanto das outras árvores produtivas,  que sempre utilizaram para a sobrevivência da sua nação. 

     Esta palmeira tem um potencial pouco explorado do ponto de vista da sua multiplicação, através de manejo sustentável, e do aproveitamento de seus subprodutos para produzir renda e ganhos sociais. Não só indígenas, como descrito, mas caboclos e sertanejos consideram-na a árvore da vida. 

      Do buriti tudo se aproveita.

             Por Ângelo Rosa Ribeiro, quirinopolino, ex-secretário de agricultura de Goiás e ex-superintendente da SEMARH-GO,  em texto extraído e adaptado da Revista “O Ecológico".





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