sexta-feira, 3 de junho de 2016

Contos do Chico Preto: Negócio ruim gera discriminação racial




                Era 1914. A jovem Josina Rosa de Morais, que havia se desvencilhado de um casamento mal sucedido, encontrava nova chance de constituir uma família. Apaixonou-se e consentiu ter como companheiro Sebastião Ovídio Ribeiro, conhecido por Sebastião Meia-Légua, que herdou o apelido do  pai, o negro Antônio Meia-Légua, natural do Prata-MG, que  pela força de seu cantar, podia ser ouvido a cerca de três quilômetros.

                 Nesta época, o pai de Josina - o pioneiro Francisco Rosa de Morais,   estava cumprindo pena na cidade de Goiás, na antiga capital do Estado, por algum motivo não bem esclarecido. O jovem Sebastião era considerado um sujeito folgado, pois era violeiro e cantor, criado nas fazendas do coronel Jacinto Honório e  tinha os  agravantes de ser valente, gostar de festas e ser da raça negra.  

          A  união,  portanto, não foi bem recebida por alguns familiares mais conservadores, principalmente depois que o jovem teria negociado a troca de 20 alqueires de terras da família da esposa por uma mula com a arreata e uma sanfona nova. Era tudo que agradava o vaidoso jovem, mas o assunto rendeu a ele uma baita  mal querência familiar, com os contrários exigindo que se desfizesse  o negócio,  sem sucesso.

                Nestas alturas, a jovem Josina  tinha se engravidado e esperava para ter o Francisco, o primeiro filho do casal, mas a implicação colocava em risco o futuro de seu rebento. Teve que esconder a barriga grávida. Os desafetos de Meia-Légua descobriram e não queriam o nascimento da ‘cria do Meia-Légua’ como falavam. A mãe receava que iriam subtrair-lhe a criança e dar fim a mesma.

                Os irmãos e amigos do casal, então, foram até Rio Verde buscar a ajuda do padre para pacificar os ânimos. O religioso chegou para celebrar missa e realizar batizados.  No seu sermão o padre defendeu o direito  de Josina de ter seu filho e criá-lo como  filho de Deus, apresentando o recém nascido aos  presentes.

                O pior momento tinha passado, mas a implicação não. Os desafetos a partir de então começaram a chamar de ‘Os Meia-Légua’ ou  ‘Os Negrinhos da Josina’,  a todos os filhos do  Sebastião, numa clara discriminação, pois nem eram tão escuros assim.

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