sexta-feira, 7 de abril de 2017

Como surgiu o Centro Cultural de Quirinópolis


          O jovem Tarzan de Castro vivia sob suspeita de participar de atos subversivos. Era tido por muitos como um guerrilheiro de Goiás. Supostamente perseguido pela Revolução de 31 de março de 64, exilou-se na França, em meados da década de 60.

          De volta a Goiás, sob ares da redemocratização do país, elegeu-se deputado estadual, em 1982, época em que também foi eleito o quirinopolino Ângelo Rosa Ribeiro, à época professor da UFG, após receber apoio das lideranças do antigo PMDB de sua terra.

           Logo nos primeiros meses da legislatura, o deputado Tarzan de Castro, disse, em reunião com seus colegas parlamentares, que como símbolo da mudança de 82, gostaria de ver implantados centros culturais em Goiás, uma novidade que viu expandir na região da Bolonha, na França, onde florescia a agricultura. Para tanto esperava contar com os colegas de municípios de maior pujança econômica, como Santa Helena de Goiás, que ele passava a representar, Quirinópolis, Rio Verde, Jatai, Mineiros, Inhumas, Morrinhos, Iporá, Formosa, Araguaína, Gurupi, Itumbiara e outros, nestes casos por serem municípios que tinham representantes na Assembleia Legislativa. Na reunião, como um idealista e visionário, pediu empenho de seus colegas para a viabilização daquela ideia e prometeu empenhar-se muito para convencer o prefeito do município que representava.

         A missão do deputado Ângelo Rosa seria convencer o prefeito Sodino Vieira a assumir o projeto. Apressou-se. No gabinete do prefeito, na presença do saudoso Hélcio Jesus Canada, seu secretário de administração, e outros amigos, disse ao prefeito que a ideia do deputado Tarzan iria ao encontro da realidade vivida em Quirinópolis, onde nossos jovens já se reuniam em grupos organizados em igrejas, escolas e associações para a prática artística e de desenvolvimento cultural. A própria prefeitura ajudava na realização de festivais musicais. Seria bom se a cidade contasse com um centro cultural para o desenvolvimento de sua talentosa juventude, insistiu o deputado. Além disso, o centro cultural poderia ser construído ao lado da FELCQ, servindo de apoio as atividades universitárias, prosseguiu.

          Enquanto discutia a ideia do centro cultural, o deputado surpreende-se com a chegada de um 'anjo', que da porta do gabinete do prefeito a tudo ouvia. Percebendo o esforço do deputado, pediu um aparte. Era a arquiteta Cristina Bittar, da Eica Engenharia, que acompanhava a implantação das obras do conjunto Rio Preto. Cristina se emocionou, disse que a ideia era magnífica e acrescentou, que como arquiteta tinha um projeto que elaborou para ser construído em Salvador-BA, que, ao final, não se concretizou. Pediu permissão para mostrá-lo ao prefeito, sem maior compromisso.

          Ao deixar a prefeitura, o prefeito agradeceu ao deputado, disse que a ideia era muito boa e surpreendeu ao anunciar os valores que a prefeitura já tinha aplicado no 'over nigth', para a construção do prédio que abrigaria a FECLQ, um pedido do deputado, em nome dos companheiros de Quirinópolis e da região, autorizado pelo governador Iris Resende. O prefeito confirmou que iria aproveitar as altas taxas de remuneração oferecidas pelos bancos para completar o caixa para a obra.

           O final da história - a população veio conhecer o belo projeto da arquiteta Cristina, transformado em maquete e executado com brilhantismo pelo prefeito, que foi convencido pela arquiteta que, no espaço escolhido para a obra, o melhor seria acoplar o projeto da unidade de ensino superior com o do centro cultural, em conjunto único, inédito, de incomparável beleza, motivo de admiração e de atração para as visitas em nossa cidade. Hoje, com muita justiça foi denominado Sodino Vieira, por uma deferência do ex-prefeito Odair Resende e dos vereadores, em unanimidade.

          Bem, com relação ao deputado Tarzan de Castro, depois de ver a obra concluída admitiu: "Vi muitos destes em cidades francesas. De fato, o de Quirinópolis é arrojado e único em Goiás. O deputado Ângelo Rosa foi o responsável por este prodígio. Parabéns!" Na verdade será preciso reconhecer que ele contou com a ajuda do 'anjo' e da sensibilidade e arrojo do ex-prefeito. Mas, de qualquer forma valeu e como valeu!

                              Por Ângelo Rosa, ex deputado e atual chefe de gabinete da PGE-GO.

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