sábado, 8 de abril de 2017

Porteira pioneira, simbólica e abandonada


                Porteira velha que resiste ao tempo, hoje abandonada e simbólica,  mas ontem útil e necessária.

                   Por porteiras como esta  passavam  pessoas, carros de bois, tropas e boiadas em um tempo que não tinha pressa e caminhava devagar.  Por elas se separava  posses, áreas de terras por explorar e fazendas de criação de gado, ao ordenar o crescimento da produção, dos bens patrimoniais e da incipiente economia regional em meados do século passado. 

                Muitas contribuíram com  o folclore regional e são lembradas em vários  contos. São muitas as testemunhas que garantem ter  ouvido os sons do  seu abrir e  fechar e da sua  batida característica  em altas horas da noite, como se dessem  passagem a  viajantes que nunca eram vistos. Alguns sentiam arrepios e frio nas costas diante do medo de assombrações  ao parar para abri-las.  Outras  foram  testemunhas de encontros amorosos ou de  brincadeiras de crianças  e guardam todo um simbolismo que ainda serve  como inspiração poética, como nas  composições musicais sertanejas  que falam do menino da porteira, da porteira velha abandonada e outras.  Muitas delas  teimam em  existir como memória,   certidão ou prova concreta capaz de resolver dúvidas e  comprovar fatos da história e do desenvolvimento da região. Muitas conflitos surgiram do fato de se deixar uma porteira aberta.

                Em um caso real  registrado  com a  foto acima, uma porteira pioneira foi cravada  na margem direita do Córrego do Mosquito, na região das Sete Lagoas, em Quirinópolis.  Hoje  substituída por fios da cercas de arame pela conveniência da produção de canaviais, mas que em tempos não muitos distantes estava ali, numa estrada histórica, ao  servir ao tráfego de pioneiros que do Triângulo  Mineiro  demandavam a região, pelas  três  pontes no  Rio dos Bois, para chegar as suas propriedades ou para ir à Capelinha.  Daquele ponto no Rio dos Bois derivavam para  passar  por  sedes de fazendas  de  pioneiros como José Corrêa Neves, Francisco  Rosa de Morais, Teotônio Quirino da Silva, Elviro Dias Campos e  Benedito Rosa de Morais. Em cada uma delas havia a presenças  de muitas  porteiras - de varões, de tábuas e de muitas modelos.

               De uma destas porteiras surgiram dois importantes ramais:  o mais antigo levava  ao Paredão e  ao Vau dos Cassimiras, no rio  São Francisco, e daí à fazenda do coronel Jacinto Honório, de onde,  após passar pelo córrego  do Lajeado, chegava-se  ao povoado da  Capelinha. Pela referida porteira do Mosquito e por este ramal passou o primeiro automóvel que chegou a Quirinópolis, em 1927. Pelo ramal mais recente, construído no meio de mata fechada, chegava-se ao  Rosulino Dias Ferreira e ao  João Antônio Barbosa, pai de Denos Barbosa, onde surgiu o Povoado de Denislópolis. Dali  se chegava a  terras de  José Salomão, onde ficava  a  ponte da cachoeira do Rio São Francisco, construída em 1929, para  dar acesso  a Quirinópolis.

               Em todos as estradas da região havia a presença de  inúmeras porteiras,  algumas pioneiras, necessárias, que aos poucos foram substituídas dentro das exigências de um novo  tempo para dar passagem a pressa do progresso. Mas, outras guardam forte simbolismo. São protegidas   pelo respeito dos mais antigos e resistem ao tempo. Com certeza,  cada caso é um caso, mas algumas deveriam ser preservadas e até tombadas, pelo seu significado para a história do município.

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